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Minha história: Sob a mira da narcoguerra
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GABRIELA MANZINI
DE SÃO PAULO
O embate entre governo e narcotráfico desafia jornalistas no México. O país é o quinto mais perigoso para esses profissionais, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas).
Fotógrafo e repórter há mais de 15 anos, Juan Carlos Cruz, 42, do jornal "Primera Hora", de Sinaloa, é um dos que tiveram a vida afetada pela violência. Até agora, já viu morrerem três de seus amigos e colegas de profissão.
Leia a história de Cruz:
Cheguei a Sinaloa em 1995 para trabalhar no jornal "Debate", onde fiquei oito anos. Iniciei minha carreira como fotógrafo e, depois, virei repórter. Desde então, cubro assuntos ligados à violência.
Sempre houve risco neste Estado, de onde saíram muitos narcocartéis. A violência ficou mais forte há uns dois ou três anos. Foi aí que nós, aqui de Sinaloa, decidimos adotar algumas precauções.
Concordamos, por exemplo, em trabalhar em grupo. Não há exclusividade em informações do dia. Fatos como operações, homicídios e confrontos são compartilhados entre os diferentes veículos. Os repórteres se comunicam e confirmam com fontes oficiais se há realmente fato, antes de saírem. Depois, cada veículo determina até onde pode ir, o que utilizar.
Nos organizamos para evitar que continuem matando companheiros. Não há uma associação de jornalistas forte aqui no México, ou ao menos não uma em que possamos confiar. Há muita gente que usa jornalismo para outros fins. Essas coisas têm funcionado e dão um pouco de tranquilidade ao repórter. Mas falta muito ainda.
Há colegas, entre aspas, que não têm consciência da importância dessa atividade, que lucram com o narcotráfico, o que é perigoso. Quando estourou a guerra, ficou bem evidente. Havia colegas que compravam carros e imóveis luxuosos. Na época, houve uma limpa nas redações.
SILÊNCIO
A narcocensura está acontecendo aqui e em todo o México. Em Tamaulipas [Estado mexicano], os repórteres são praticamente obrigados a entrar no rol dos narcos. Eles ditam o que publicar e quando. Muitos foram ameaçados de morte. Alguns preferiram se dedicar a outra coisa.
Há cerca de seis meses tive problemas com o telefone de casa e pedi a uma pessoa de confiança que verificasse a linha, mas não havia grampo.
Mesmo assim, não passo informações importantes por telefone e só gente de muita confiança sabe o que eu, minha mulher e os nossos filhos fazemos, para onde vamos...
Muitas medidas de segurança que adoto foram estendidas à minha família. Mudamos sempre nossas rotas, ficamos atentos a carros que possam estar nos seguindo. São providências preventivas, porque também não podemos viver em psicose.
PERDAS
Três amigos meus jornalistas já foram assassinados pelo narcotráfico. Um, Gregorio Rodríguez, era fotógrafo e foi morto a tiros na frente dos filhos, em novembro de 2004. Ele havia registrado uma festa onde estavam um traficante conhecido da região e um diretor da polícia.
Com Jiménez Mota estudei na UDO [Universidade do Ocidente]. Ele estava apurando laços entre políticos e traficantes. Um dia saiu para se encontrar com uma fonte e não voltou. Isso foi em 2005.
Já Óscar Rivera Inzunza foi diretor numa revista em que trabalhei e, depois, tornou-se porta-voz do governo para as questões de segurança em Sinaloa. Estava só em sua caminhonete, perto do palácio, quando um carro se aproximou e o matou. Era 2007.
Essas histórias doem. São sempre um golpe forte, mais por serem amigos do que por serem colegas. Mas acho que o melhor que podemos fazer, em memória a eles, é continuar trabalhando com responsabilidade e cuidado.
E não deixar que esses crimes sejam esquecidos. Não investigá-los é como dar carta branca aos narcos, dizer que podem continuar fazendo isso, pois nada será feito. Corro muito risco nessa profissão. Mas o que mais me atrai nela é poder dar voz a pessoas marginais, sem poder. É preciso seguir.
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