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08/10/2010 - 14h33

Nobel de Literatura diz que prêmio de chinês é homenagem a dissidentes na China

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O peruano Mario Vargas Llosa, premiado com o Nobel de Literatura 2010, qualificou nesta sexta-feira a concessão do Nobel da Paz ao chinês Liu Xiaobo como "uma homenagem a todos os dissidentes chineses e a todos os chineses que querem que o crescimento seja além de econômico, político".

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Em declarações realizadas ao programa La Primera Hora, de um canal de televisão peruana, o escritor qualificou a concessão do prêmio a Xiaobo como uma "magnífica notícia".

"Porque muitas vezes se esquece que a China como está alcançando alguns sucessos econômicos extraordinários continua sendo uma ditadura e bastante monolítica no que se refere à política. É um país vertical", disse o premiado escritor.

Vargas Llosa também se referiu durante a entrevista à situação em seu país e lembrou seu confronto eleitoral em 1990 com o ex-presidente Alberto Fujimori, que agora cumpre em Lima uma pena de prisão de 25 anos por delitos de corrupção e lesa-humanidade.

"Assim a vida dá voltas, mas isso do ponto de vista político é um grande progresso. Hoje o Peru é uma democracia, seguramente imperfeita, mas é uma democracia que também está prosperando economicamente", assinalou Vargas Llosa.

O dissidente chinês Liu Xiaobo, 54, foi agraciado nesta sexta-feira com o Prêmio Nobel da Paz devido à sua atuação em defesa dos direitos humanos. O anúncio gerou pronta e dura reação da China, que qualificou a decisão de uma "blasfêmia". O governo do país anunciou ainda que não permitirá que ninguém tenha acesso hoje a Liu, que cumpre pena na prisão.

EMBAIXADOR

Mais cedo a China convocou o embaixador da Noruega em Pequim para protestar pela concessão do Prêmio Nobel da Paz ao dissidente chinês, anunciou o Ministério das Relações Exteriores norueguês.

"Eles querem manifestar a sua opinião, o seu descontentamento e o seu protesto", disse a porta-voz da Chancelaria. "Nós enfatizamos que o comitê [do Nobel] é independente e a necessidade de continuar com as boas relações entre os nossos países."

Liu, 54, cumpre pena de prisão de 11 anos por ter sido, há dois anos, um dos organizadores de um documento que exorta o regime chinês a conceder mais liberdade e a se abrir politicamente. Liu participou ainda dos protestos pró-democracia violentamente reprimidos na Praça da Paz Celestial, em 1989.

O governo chinês reagiu imediatamente, qualificando a decisão de "blasfêmia" que vai contra os princípios do próprio comitê ao premiar "um criminoso".

O chanceler norueguês, Jonas Gahr Stoere, disse nesta sexta-feira que a concessão do prêmio não deve causar uma reação hostil de Pequim.

"Não há motivos para dirigir qualquer medida contra a Noruega como país, e acho que haveria um efeito negativo sobre a reputação da China se ela assim agisse", disse Stoere a uma TV local.

Stoere enfatizou que o comitê da Nobel é independente do governo da Noruega, que atualmente negocia um tratado comercial bilateral com Pequim.

Stoere admitiu, no entanto, que "não é segredo que há muitos anos a China tem dado uma série de alertas de que o Nobel da Paz a um dissidente chinês levaria a reações negativas".

YM Yik/Efe
Mulher chora ao lado de foto de Liu Xiaobo, Nobel da Paz 2010, em vigilia por sua libertação em janeiro deste ano
Mulher chora ao lado de foto de Liu Xiaobo, Nobel da Paz 2010, em vigilia por sua libertação em janeiro deste ano

REAÇÃO

O Ministério das Relações Exteriores da China atacou a decisão e disse que o prêmio deveria, em vez disso, ser usado para a promoção da amizade internacional e do desarmamento.

"Liu Xiaobo é um criminoso sentenciado pela Justiça chinesa por violar as leis da China", disse a Chancelaria em Comunicado. "[A decisão] é completamente contrário ao próprio espírito do prêmio e é uma blasfêmia ao Nobel da Paz."

O anúncio em emissoras de TV como a americana CNN foi imediatamente censurado, e sites da internet que fazem a cobertura da premiação foram bloqueados. Tentativas de envio de mensagens de texto por celular com sobre "Liu Xiaobo" não eram possíveis.

Apesar da censura, em Pequim mais de uma dúzia de apoiadores de Liu se reuniram na entrada de um parque na região central da cidade para parabenizar o dissidente. Eles entoavam os gritos "Vida longa à liberdade de expressão, vida longa à democracia!".

Liu, no entanto, é conhecido na China apenas por ativistas políticos, e a maior parte das pessoas que passavam pelo local não paravam por não saber do que se tratava.

CRÍTICA

Ao menos um ativista político chinês exilado criticou a decisão do comitê do Nobel, afirmando que outros dissidentes mereciam o prêmio mais do que ele.

Para Wei Jingsheng, que passou cerca de 20 anos na prisão pela atuação pró-democracia no país, Liu é um moderado que quer colaborar com o governo chinês.

Segundo o ativista, Liu foi por vezes autorizado a atuar e já fez críticas a outros opositores que propõem mudanças mais profundas do que as defendidas pelo Nobel da Paz.

"Na minha opinião, deram o Nobel da Paz a Liu porque ele é diferente da maioria dos opositores. Faz mais gestos de cooperação com o governo e é mais crítico com outros dissidentes", disse Wei à agência France Presse, em Washington, onde vive exilado.

AP
Em 2008, Liu aparece em frente ao túmulo do dissidente Bao Zunxin, preso após o massacre da Paz Celestial
Em 2008, Liu aparece em frente ao túmulo do dissidente Bao Zunxin, preso após o massacre da Paz Celestial

ATIVISMO

Liu Xiaobo, o mais proeminente dissidente chinês, incomoda o governo desde 1989, quando aderiu aos protestos pró-democracia duramente reprimidos na Praça da Paz Celestial, em 1989.

Há dois anos, ele foi um dos organizadores do manifesto chamado Carta 08, em que intelectuais e ativistas pediam reformas abrangentes na China, inspirando-se na Carta 77, um marco do movimento pró-democracia na Tchecoslováquia na década de 1970.

A publicação do documento levou Liu à prisão. E, em dezembro do ano passado, ele foi condenado a 11 anos de prisão sob a acusação de subversão, por fazer campanha em prol de liberdades políticas. A sentença foi criticada pelos EUA, pela União Europeia e por grupos de direitos humanos.

A esposa do dissidente o visita uma vez por mês na prisão que fica na província de Liaoning, nordeste da China. As visitas duram uma hora e são monitoradas.

O advogado de Liu, Shang Baojun, disse esperar que, "graças a essa decisão, ele seja liberado rapidamente, embora ainda seja muito cedo para se saber se será assim mesmo".

"Espero que nesta ocasião, a China se abra ainda mais, que se levantem as restrições à liberdade de expressão.

Liu já havia passado 20 meses na cadeia depois da repressão aos protestos da Praça da Paz Celestial, e depois ficou três anos num campo de "reeducação pelo trabalho", na década de 1990, além de vários meses praticamente sob prisão domiciliar.

Veja a lista dos vencedores do Nobel da Paz nos últimos 10 anos:

  • 2010: Liu Xiaobo.
  • 2009: Barack Obama
  • 2008: Martti Ahtisaari
  • 2007: Intergovernmental Panel on Climate Change, Al Gore
  • 2006: Muhammad Yunus, Grameen Bank
  • 2005: Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed ElBaradei
  • 2004: Wangari Maathai
  • 2003: Shirin Ebadi
  • 2002: Jimmy Carter
  • 2001: ONU, Kofi Annan
  • 2000: Kim Dae-jung
 

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