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01/11/2010 - 15h41

Eleição deve definir agenda de Obama, mas não pleito de 2012, dizem analistas

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AMARO GRASSI
DE SÃO PAULO

O resultado das eleições para o Congresso dos EUA nesta terça-feira (2) será determinante para a agenda política que o presidente Barack Obama vai cumprir nos dois anos que lhe restam de mandato. Mas, dizem especialistas, não será tão importante na definição do cenário para a corrida à Casa Branca em 2012, quando o mandatário americano deverá tentar a reeleição ao cargo.

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O esperado avanço da oposição, com o Partido Republicano reavendo o controle da Câmara dos Representantes (deputados) e recuperando terreno no Senado, será, afirmam, motivo de dor de cabeça para o presidente, com a obstrução de políticas caras ao governo. Mas o que definirá afinal a sua sorte será o estado da economia do país, isto é, se os americanos terão de volta ao menos parte dos milhões de empregos perdidos com a crise.

A perspectiva então, se confirmado esse cenário, será o congelamento da agenda de grandes reformas que pautou a primeira metade do governo Obama --que necessitam de aprovação do Congresso-- e um novo vigor à política externa, com especial ênfase em questões da economia global --leia-se, a conturbada relação com a China.

Elaine Thompson - 20.out.2010/AP
Presidente Barack Obama cumprimenta eleitores ao chegar a Seattle no último dia 20, onde fez atos de campanha
Presidente Barack Obama cumprimenta eleitores ao chegar a Seattle no último dia 20, onde fez atos de campanha

"A eleição é toda sobre a economia", resume o cientista político David Epstein, da Universidade Columbia (Nova York), que vê na eleição para o Congresso basicamente um referendo sobre o governo. "Obama fez o suficiente para evitar que a economia ficasse muito, muito pior. Mas não fez o suficiente para que as coisas de fato começassem a melhorar. E esse é o problema: depois de dois anos, ele não conseguiu cumprir o que prometeu", afirma o analista.

REFORMAS

Conduzido à Casa Branca numa eleição histórica em 2008, com o seu Partido Democrata conquistando maiorias nas duas Casas do Congresso, Obama canalizou o elevado capital político recém conquistado para a viabilização de sua agenda doméstica, com a apresentação de importantes projetos de reformas e de um megapacote de recuperação econômica para o país.

A estratégia rendeu os seus frutos, como a aprovação da reforma da saúde --perseguida sem sucesso pelo Partido Democrata havia décadas--, da reforma financeira --que deu maior poder de intervenção ao Estado no setor-- e de um plano econômico de US$ 787 bilhões.

Charles Dharapak 21.jul.2010/AP
Presidente Barack Obama promulga, em julho deste ano, a reforma financeira, uma das mais importantes do seu governo
Presidente Barack Obama promulga, em julho deste ano, a reforma financeira, uma das mais importantes do seu governo

"Objetivamente, Obama fez muita coisa, em termos da importância das coisas que ele aprovou", diz Epstein. "A reforma da Saúde é uma coisa enorme, [assim como] o pacote de recuperação econômica."

Mas, em contrapartida, a opção pela agenda doméstica acirrou a polarização política no país, o que, somado à lenta recuperação da economia, resultou na contínua queda de popularidade do presidente americano, atualmente no nível mais baixo desde a sua posse --44,7%, segundo pesquisa Gallup divulgada no último dia 21.

Para críticos, comprometeu ainda ao menos em parte os esforços de Obama em sua agenda externa, como as negociações por um acordo nuclear com o Irã, as conversas de paz entre Israel e palestinos e as guerras no Iraque e no Afeganistão.

ELEIÇÕES

A se confirmar, então, a esperada retomada do controle ao menos da Câmara dos Representantes pelos republicanos, a tendência é uma inversão das prioridades na segunda metade do governo Obama, com renovada atenção à política externa e uma menor dedicação a um Congresso mais hostil à Casa Branca.

"Obama deverá se concentrar na política externa, onde possui maior margem de manobra", afirma o analista Robert Erikson, também da Universidade Columbia.

Rodrigo Abd - 21.out.2010/AP
Afegão passa por dois soldados americanos em Candahar (Afeganistão); Obama promete iníciar a saída do país em 2011
Afegão passa por dois soldados americanos em Candahar (Afeganistão); Obama promete iníciar a saída do país em 2011

Em julho do ano que vem, conforme plano anunciado no final de 2009 por Obama, os EUA devem começar a retirada da impopular Guerra do Afeganistão. E até o final de 2011, todas as tropas americanas terão saído do Iraque. Deverá haver ainda uma maior atenção para a relação com a China, a quem o governo americano atribui boa parte do "desequilíbrio" da economia global --o que Pequim, evidentemente, rejeita.

No plano interno, diz Epstein, da Universidade Columbia, a perspectiva é de foco total na recuperação econômica, com acirramento político ainda maior no Congresso. "Não haverá Lei do Clima, não haverá Lei da Imigração", afirma, em referência a dois temas que Obama não foi bem-sucedido até agora. "Só o que importa é a economia."

2012

O resultado das eleições legislativas desta terça-feira, nesse sentido, dizem os especialistas, será menos importante para as pretensões reeleitorais de Obama do que o momento que a economia americana estará atravessando em 2012, ou seja, se os empregos perdidos aos milhões nos últimos três anos serão recuperados.

Para Erikson, uma maioria republicana na Câmara dos Representantes e eventualmente no Senado, como apontam as pesquisas, além de não ser um impeditivo para a reeleição de Obama, poderia até mesmo facilitar as coisas para o presidente. Isso porque, no caso de a economia continuar a passos lentos, "Obama terá a quem culpar" pela obstrução de políticas no Congresso e contra quem direcionar o seu discurso durante a campanha presidencial.

O roteiro tem precedentes. Nas eleições legislativas de 1982 e 1994, os então presidentes Ronald Reagan (1981-1989) e Bill Clinton (1993-2001) perderam maiorias no Congresso e mesmo assim obtiveram suas reeleições. "Sabemos que as eleições legislativas têm muito pouco a ver com a presidencial", conclui Epstein.

Mais importante para os democratas, neste caso, apontam analistas, são as eleições para os governos de 37 Estados que ocorrem paralelamente ao pleito legislativo e também tendem a favorecer os republicanos. Na corrida à Casa Branca, governadores têm papel considerado muito importante na mobilização de eleitores e grande influência sobre o redesenho dos distritos eleitorais --definidos em geral de acordo com interesses partidários.

 

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