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ONU suspeita que ex-chefe de milícia agite protestos no Haiti
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LUIS KAWAGUTI
DE SÃO PAULO
A ONU (Organização das Nações Unidas) tem fortes indícios de que Guy Philippe, ex-chefe da milícia que em 2004 tomou o norte do Haiti e pressionou na queda do presidente Jean Bertrand Aristide, está envolvido na onda de protestos desta semana.
Sem um mandado da Justiça, no entanto, os militares têm que se limitar a monitorar os seus movimentos.
Apesar da intensidade dos protestos, a Folha apurou que a ONU não acredita que o ex-rebelde tenha força política e armamentos para provocar nova rebelião no país -os violentos atos dos últimos dias ocorrem na mesma região de seis anos atrás.
Philippe liderou em 2004 o movimento político Grupo 184. Aliado a ex-militares, iniciou uma rebelião, tomou o norte do país e marchou para a capital -- mas Aristide já havia deixado o poder.
Após perder as eleições em 2006, Philippe continuou na politica.
Mas, segundo um oficial da UNpol, a Polícia da ONU, que pediu para não ser identificado, ele está sendo investigado por formar uma nova milícia e dominar o tráfico de drogas em Hinche (130 km de Porto Príncipe).
Ontem, rádios haitianas informaram que manifestantes em Cap Haitien (300 km da capital) conclamavam Philippe a liderar a expulsão da ONU do país.
Foi lá que estourou, na última segunda-feira, uma onda de protestos que deixou dois manifestantes mortos e seis capacetes azuis feridos. Os manifestantes alegam que foi a ONU quem iniciou a epidemia de cólera.
"Isso foi planejado com alguma antecedência para ocorrer neste momento por pessoas interessadas em que as eleições [do próximo dia 28] não ocorram", disse o general brasileiro Luiz Paul Cruz, comandante militar da ONU no Haiti. Ele não comentou sobre Philippe.
O governo haitiano enviou senadores para a região, anteontem, para negociar. Eles pediram que a ONU não reprima novos protestos.
"Elas [manifestações] têm fundo político e estão sendo tratadas nessa esfera.Estamos esperando que o clima se acalme", disse Cruz.
Ontem, uma patrulha da ONU foi atacada em Cap Haitien. Uma pessoa morreu em circunstâncias ainda não esclarecidas.
Paul Cruz afirmou que nem a cólera, nem os protestos vão prejudicar as eleições. "Nós já temos o material eleitoral praticamente todo distribuído, estamos com a programação em dia".
CÓLERA
A epidemia de cólera que já matou 1.110 pessoas e infectou outras 18.382 no Haiti chegou aos Estados Unidos.
O primeiro caso, confirmado ontem, é de uma mulher que mora na Flórida e esteve no Haiti recentemente para visitar familiares. Mais casos estão sendo investigados. Ontem, o presidente da República Dominicana, Leonel Fernández, afirmou que reforçará o controle na fronteira com o Haiti, depois que seu país registrou o primeiro caso da doença.
Segundo a Organização Panamericana da Saúde, o número de mortos deve chegar a 10 mil em 12 meses.
O embaixador sueco no Haiti, Claes Hammar, disse a um jornal que a cólera foi trazida do Nepal acidentalmente por militares da ONU. As Nações Unidas negam.
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