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Brasil embola debate de direitos humanos
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CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
A assessoria internacional do Planalto e o Itamaraty não conseguem explicar como darão maior ênfase aos direitos humanos sem cair no padrão, atribuído às potências ocidentais, de usar o tema contra rivais.
Há uma tentativa de reduzir a expectativa de mudança radical --Marco Aurélio Garcia, assessor do Planalto, disse que o Brasil não será um "alto-falante giratório" contra violações.
Ao mesmo tempo, porém, existe o reconhecimento de que a questão deve ser tratada com mais sofisticação e transparência.
Mas a própria discussão, instalada no governo desde entrevista da presidente Dilma ao "Washington Post", é cheia de lacunas.
Isso acontece porque um debate sincero implicaria relativizar as declarações de Dilma e criticar outras feitas pelo ex-presidente Lula durante seu governo.
Na entrevista, antes da posse, Dilma disse que não "endossava" o apedrejamento [de condenados no Irã] nem "práticas medievais" quanto às mulheres.
Questionada por que então o Brasil se abstivera, dias antes, na votação na 3ª Comissão da ONU que condenou o Irã, ela respondeu que "como mulher" se sentiria "desconfortável em não dizer nada contra o apedrejamento" e que não avalizava a posição adotada.
À Folha, Garcia disse que a "leitura feita [da entrevista] foi impregnada pelo fato de que ela [Dilma] estava mencionando um tema em particular, o da Sakineh [Ashtiani, a iraniana condenada ao apedrejamento]".
Nos bastidores, diplomatas apontam que a resolução não tinha relação direta com o caso Sakineh, ao contrário do que sugeriu a entrevistadora do "Post".
Embora o texto, entre seis itens, traga uma condenação à violação dos direitos femininos, ele é semelhante aos que são apresentados sobre o Irã quase anualmente há 30 anos.
Sobre Lula, a avaliação dominante é que a imagem do Brasil na área foi manchada pelo tratamento efusivo que deu ao iraniano Mahmoud Ahmadinejad e frases como as que compararam a oposição iraniana a uma torcida de futebol e presos políticos cubanos a presos comuns.
Mas o máximo que se diz é que seu estilo fez mais para promover o prestígio do Brasil do que para miná-lo.
De toda maneira, até pela vigilância redobrada sobre a área, haverá alguma mudança de orientação. Avalia-se que será difícil manter a abstenção sistemática nas moções contra países votadas na 3ª Comissão.
Com isso, não eram confrontados nem os proponentes das resoluções, em geral EUA e europeus, nem os governos que, com justificativas --mas não os únicos condenáveis--, eram alvos.
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