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09/03/2011 - 07h46

"Ronaldinho" de Al Abyar vai à luta e vê carreira terminar

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MARCELO NINIO
DO ENVIADO A RAS LANUF

A visão de jogo e a habilidade com a perna esquerda valeram ao agricultor Mohamed Ali o apelido de "maestro" no time de futebol amador de sua cidade natal, Al Abyar, no leste da Líbia.

Há dois dias, ele decidiu largar a lavoura e o futebol, juntou companheiros do time Al Hagdar ("o verde", em árabe) e foi à luta.

Mas, desarmado e sem treinamento, virou alvo fácil da artilharia pró-Gaddafi.

Deitado nesta terça-feira num hospital de Ras Lanuf, Ali sabia que seus dias de glória nos gramados da terceira divisão líbia jamais se repetirão.

A hábil perna esquerda estava enfaixada de alto a baixo, dilacerada por um projétil de 12,5 mm --geralmente utilizado por armas de artilharia antiaérea.

Joel Silva-08.mar.11/Folhapress
O agricultor e jogador de futebol Mohamed Ali, numa maca do hospital de Ras Lanuf
O agricultor e jogador de futebol Mohamed Ali, numa maca do hospital de Ras Lanuf

"Fomos a pé e desarmados para a linha de frente", afirmou Ali, 29, numa descrição sem firulas da missão suicida. "Não conseguimos fuzis, então decidimos nos juntar à revolução com a ajuda de Alá", continuou.

Num dos muitos exemplos da obstinação e do despreparo dos rebeldes, o agricultor conta que pegou uma camionete emprestada e dirigiu 150 km até Bin Jawad, cidade que é dominada pelas forças leais a Gaddafi.

Ao passar pela última barreira rebelde, ele e seus companheiros na empreitada desceram da camionete e continuaram a pé, para chamar menos atenção. Sem planos nem armas.

Ali conta que os disparos começaram do nada, e um deles atingiu em cheio sua perna esquerda. Os companheiros o arrastaram por cerca de cinco quilômetros, até que uma ambulância apareceu e o recolheu.

Era o fim, dramático, da carreira futebolística do maestro de Al Abyar.

"Me chamavam de Ronaldinho, porque era bom nas cobranças de falta. Agora isso acabou", lamentava o agricultor. "Espero que, pelo menos, também seja o fim de Gaddafi".

 

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