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Em meio a cessar-fogo, TV relata ataque com foguetes na Líbia
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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
A emissora de TV Al Arabiya afirmou nesta sexta-feira que as forças do ditador líbio, Muammar Gaddafi, dispararam foguetes contra as forças rebeldes nas cidades de Zintan e Misrata, no oeste do país.
Não ficou claro se os foguetes foram disparados antes ou depois do governo declarar um cessar-fogo imediato e a interrupção das operações militares no país, em cumprimento com a resolução aprovada na noite desta quinta-feira pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) --que permitiu o uso da força para a implementação da zona de exclusão aérea na Líbia, além de "todas as medidas necessárias" para proteger os civis.
Suhaib Salem/Reuters | ||
Opositores comemoram anúncio de cessar-fogo do governo líbio, recebido com descrença pelo mundo |
Testemunhas em Misrata descrevem forte bombardeio na cidade, controlada pelos rebeldes. "Eles estão bombardeando tudo, casas, mesquitas e até mesmo ambulâncias", disse Gemal, um porta-voz dos rebeldes consultado pela agência de notícias Reuters.
Outro rebelde, Saadoun, disse que as forças de Gaddafi querem entrar na cidade a qualquer custo, antes que a comunidade internacional comece a aplicar a resolução.
"Nós pedimos à comunidade internacional que faça algo antes que seja muito tarde. Eles precisam agir agora", disse.
Outro rebelde, que se identificou apenas como Mohammed, disse que os tanques estão avançando para o centro da cidade. "Todo o povo de Misrata está tentando desesperadamente defender a cidade".
DESCRENÇA LÍBIA
Em outra cidade controlada pelos rebeldes, Tobruk (leste), os rebeldes receberam o anúncio de um cessar-fogo com descrença.
"Veja como as coisas mudam da noite para o dia", disse Ashraf Afgair. "Eles estão apenas tentando acalmar a opinião pública. É uma tentativa desesperada do Gaddafi de se manter no poder", continuou, lembrando que poucas horas antes da aprovação da medida, Gaddafi foi à rádio falar em um ataque sem misericórdia.
"Eles chegaram ao fim da linha. É por isso que nós estamos aceitando a decisão da ONU. De outra forma, Gaddafi terá o mesmo destino de Hitler e Mussolini."
Na expectativa da aprovação da resolução, as forças de Gaddafi não cumpriram a ameaça de uma rápida contraofensiva --depois de chegar a apenas cem km de Benghazi, reduto dos rebeldes.
DESCRENÇA INTERNACIONAL
O clima de descrença marcou também a reação internacional. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse que é muito cedo para avaliar o anúncio de cessar-fogo e ressaltou que qualquer opção de negociação com Trípoli deve acabar com a saída do ditador do poder.
Hillary afirmou em entrevista coletiva que a situação na Líbia é muito fluída e dinâmica e é difícil avaliar neste momento qual será o resultado da resolução e do consequente cessar-fogo decretado pelo governo líbio.
"Um esforço diplomático necessário para responder as perguntas e determinar a resolução foi muito intenso nas últimas semanas", disse Hillary.
"O voto por ampla maioria traz o entendimento de que a violência deve acabar", disse a secretária americana. A medida foi aprovada por dez votos a favor, incluindo Estados Unidos, sem nenhum voto contra e cinco abstenções, incluindo o Brasil.
A aprovação da resolução pela ONU era o obstáculo que os países citavam para não iniciar uma intervenção na guerra que se arrasta há um mês na Líbia, entre as forças leais ao ditador e rebeldes de oposição. Não há um saldo oficial atualizado, mas estimativas de organizações humanitárias falam em até 6.000 vítimas em mais de um mês de confrontos.
Hillary disse que a comunidade internacional não vai se contentar com nada menos do que a retirada total das tropas de Gaddafi do leste líbio, onde elas enfrentam as forças rebeldes.
Pouco antes da aprovação da resolução da ONU, as forças de Gaddafi se preparavam para uma grande ofensiva em Benghazi, reduto dos rebeldes.
"Nós não seremos impressionados por palavras, nós teremos que ver ação no solo e isso ainda não está claro", disse Hillary. "Nós continuaremos a trabalhar com nossos parceiros na comunidade internacional para pressionar Gaddafi e apoiar as legítimas aspirações do povo líbio".
A secretária ressaltou, contudo, que a comunidade internacional deve caminhar "um passo por vez" --aparentemente um recado para a França, que pouco depois da aprovação da resolução, já iniciava seus preparativos e falava em um ataque "em horas".
O Reino Unido também já agiu e deslocou seus aviões de guerra para bases próximas e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) também já iniciara seus preparativos para uma intervenção.
RESOLUÇÃO
A criação da zona de exclusão aérea autoriza o abate de aviões do ditador líbio que decolem para atacar tropas opositoras. Em outras palavras, a ONU liberou o uso da força militar para que a resolução seja respeitada.
A medida endurece ainda o embargo e as sanções contra Gaddafi, seus familiares e círculo mais próximo de colaboradores implementadas no mês passado. Bens e fundos de investimento do ditador e sua família na Suíça e na União Europeia há haviam sido congelados semanas atrás.
Os Estados-membros da ONU podem agora adotar 'todas as medidas necessárias' --o que incluiria ataques aéreos-- para 'proteger os civis e as áreas povoadas por civis sob ataque na Líbia, incluindo Benghazi'.
O texto, contudo, exclui a presença de 'qualquer força de ocupação estrangeira de qualquer tipo, em qualquer parte do território líbio'.
A resolução foi aprovada por dez votos a favor (incluindo EUA, França e Reino Unido), nenhum contra e cinco abstenções --Rússia, China, Alemanha, Índia e Brasil.
O Brasil alegou temer que a resolução resulte em mais confrontos e disse defender uma solução pacífica aos confrontos.
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