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17/05/2011 - 17h21

Caso Strauss-Kahn abre discussão sobre tabu na imprensa da França

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SANDRA LACUT
DA FRANCE PRESSE, EM PARIS

O caso Strauss-Kahn estremeceu os meios de comunicação franceses, que costumam ser discretos sobre a vida particular dos políticos, uma atitude determinada pela "sacralização" do poder, que agora deveria mudar, indicaram vários de seus representantes.

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"É uma bofetada e já era hora!" exclamou Jean Quatremer, correspondente do jornal "Libération" em Bruxelas e autor, em 2007, de uma nota em seu blog sobre o "ponto fraco" de Dominique Strauss-Kahn com as mulheres, na qual escrevia: é "insistente demais (...)" e "com frequência esbarra no assédio".

Stephen Chernin/France Presse - 14.mai.2011
O hotel Sofitel, em Nova York, onde Dominique Strauss-Kahn supostamente tentou abusar sexualmente de uma camareira
O hotel Sofitel, em Nova York, onde Dominique Strauss-Kahn supostamente tentou abusar sexualmente de uma camareira

"Na época em que eu escrevi isto, todo mundo sabia que DSK (como Strauss-Kahn é conhecido na França) --detido no domingo em Nova York e acusado de agressão sexual-- podia aprontar nos Estados Unidos, mas ninguém investigou (e) os jornalistas americanos estavam estupefatos" com isto, acrescentou.

Quatremer denunciou os "tabus" e a "pusilanimidade" de jornalistas franceses, que "não se atreveram a falar disso por medo de desagradar" e usaram a "vida privada como a desculpa por sua covardia".

O caso DSK dá argumentos aos que desejam que os meios de comunicação franceses mudem neste aspecto.

VIDA PRIVADA

"A proteção da vida privada não deve servir de pretexto para ocultar os traços completos da personalidade dos políticos que são candidatos a dirigir o país. Esta deve ser a lição do caso DSK", sentenciou o jornalista Pierre Haski, autor de um editorial muito crítico no site "rue 89", do qual é cofundador.

"A imprensa francesa carece de lucidez sobre sua sociedade dominantemente masculina e branca, que sacraliza o mundo do poder, seus preconceitos imperantes e minimiza as violências que as mulheres sofrem", comentou, por sua vez, Edwy Plenel, ex-chefe de redação do jornal "Le Monde" e fundador do site de informações Médiapart.

Embora "cada qual tenha direito a que se respeite sua vida privada, existe uma necessidade absoluta de revelar fatos de interesse público. É uma questão de cultura democrática", acrescentou.

TABU

Olivier Royan, diretor de redação da revista "Paris Match", lamenta, por sua vez, a "extraordinária sacralização da política na França: o político só representa suas ideias".

"Esse tabu veio à tona pela primeira vez com a revelação de Mazarine" (em 1994), a filha "oculta" do presidente socialista François Mitterrand (1981-1995), lembrou.

"Lamento que não tenhamos falado disso então", confessou Michel Gaillard, diretor do semanário satírico "Le Canard Enchainé". "Mas pensamos que se o fizermos, tudo estará permitido", explicou.

"A atitude da imprensa não mudou muito desde então (...) A imprensa francesa se orgulhava de fechar os olhos para a vida privada, quando esta não tinha repercussão na vida do Estado", acrescentou.

Para Christophe Deloire, autor em 2006 com Christophe Dubois do livro "Sexus politicus", que dedica um capítulo a Strauss-Kahn, o chefe do FMI "foi objeto de análises muito elogiosas, mas de muito poucas investigações".

Em uma tribuna publicada no "Le Monde", lamentou a existência de "uma classe midiática que não atua, que não busca a liberdade" e se limita a "elocubrar".

Por sua vez, Henry Samuel, correspondente do inglês "Daily Telegraph" em Paris, considera que a atitude da imprensa francesa mudou um pouco após as eleições presidenciais francesas de 2007, quando foi eleito presidente o conservador Nicolas Sarkozy.

"Com Sarkozy, as revistas e os jornais se atrevem um pouco mais. Mas na Inglaterra continuamos nos surpreendendo com a maneira como vocês (os jornallistas franceses) costumam deixar em paz os políticos e as personalidades", afirmou.

HISTÓRICO

Não é a primeira vez que Strauss-Kahn se vê envolvido em polêmicas deste tipo. Em 2008, pouco depois de assumir o comando do FMI, ele assumiu ter tido um caso com uma funcionária do organismo, a economista Piroska Nagy, casada com um ex-presidente do Banco Central argentino.

Karen Bleier/France Presse - 12.out.2008
O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, foi preso no sábado nos Estados Unidos, acusado de abuso sexual
O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, foi preso no sábado nos Estados Unidos, acusado de abuso sexual

Na época, Strauss-Kahn admitiu "um erro de julgamento" por conta do caso.

Ainda que não tenha anunciado a sua candidatura, Strauss-Kahn, que é membro do Partido Socialista francês, aparece nas pesquisas como o principal rival do atual presidente Nicolas Sarkozy nas eleições à Presidência da França, marcadas para abril do ano que vem.

Números divulgados no início de maio apontam que o chefe do FMI, que ainda não confirmou se vai concorrer, teria 23% dos votos no primeiro turno contra 17% para a líder da extrema-direita Marine Le Pen e 16% para Sarkozy.

O próprio apoio de Sarkozy para a sua candidatura ao FMI foi visto como uma manobra para afastá-lo da corrida presidencial.

 

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