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08/07/2011 - 16h37

Conservadores britânicos se preocupam com ligação com Murdoch

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JOHN F. BURNS E JO BECKER
DO "NEW YORK TIMES", EM LONDRES

Quando David Cameron se tornou primeiro-ministro britânico, em maio de 2010, um dos primeiros visitantes que recebeu em sua residência oficial -logo no primeiro dia de seu governo, e chegando por uma entrada dos fundos, de acordo com a imprensa- foi Rupert Murdoch.

Passados 14 meses, e com o império de mídia britânico de Murdoch cambaleando, Cameron talvez esteja sentindo que seu relacionamento estreito com Murdoch, que incluía contatos sociais com a família Murdoch e com os executivos que comandam as empresas do magnata, foi um erro grave de cálculo.

As preocupações podem ser intensificadas com a detenção, aguardada para a sexta-feira, de Andy Coulson, antigo editor-chefe do "News of the World" e secretário de imprensa de Cameron até renunciar ao posto em janeiro deste ano.

Cameron contratou Coulson em 2007, depois de escândalos que abalaram o jornal. E o primeiro-ministro defendeu repetidamente o seu assessor, mesmo quando começaram a se acumular os indícios de que Coulson sabia mais do havia admitido sobre as escutas telefônicas encomendadas pelo "News of the World".

Alguns dos adversários políticos de Cameron retrataram seu relacionamento com Murdoch como erro que poderia se combinar a outros tropeços recentes da administração e enfraquecer o Partido Conservador que ele lidera. Mas esses críticos, entre os quais Ed Miliband, do Partido Trabalhista, precisam encarar o desconfortável fato de que os trabalhistas mantiveram relacionamento igualmente, ou talvez ainda mais, estreito com Murdoch, nos 13 anos em que o Reino Unido foi liderado pelos dois predecessores de Cameron na chefia do governo, Tony Blair e Gordon Brown.

Desde que começou a construir seu império de mídia britânico, 40 anos atrás, o australiano Murdoch é visto como figura de imensa importância política; muitos políticos britânicos acreditam que ele seja capaz de eleger e derrubar governos, bem como de influenciar decisões governamentais que influenciam a situação de seus negócios jornalísticos e televisivos.

Murdoch usou sua influência para tentar restringir o poder das agências regulatórias da mídia e expandir seu controle da BSkyB, a principal rede britânica de TV paga, pela qual fez recentemente uma oferta de aquisição completa de controle que o governo ainda não decidiu se aprovará. Mas ele também expressou opiniões fortes sobre questões de alcance mais amplo, tais como o flerte britânico com a ideia de abandonar a libra em troca do euro, uma ideia a que Murdoch se opôs veementemente.

A decisão dele de transferir o apoio de seus jornais a Cameron e os conservadores, na eleição do ano passado, depois de apoiar os trabalhistas nos três pleitos anteriores, dizem muitos analistas políticos, fez diferença crucial na recondução dos conservadores ao poder.

De forma semelhante, quando ele trocou os conservadores pelos trabalhistas em 1997, muitos dizem que ele ajudou a criar a onda que manteria Blair no poder pelos 10 anos seguintes.

Essa influência, que não encontra par em qualquer outra figura de fora da política, foi prejudicada pelo escândalo quanto a escutas clandestinas que envolve o "News of the World", um jornal sensacionalista muito lucrativo e sempre disposto a gastar para conseguir notícias, cuja circulação, estimada este ano em 2,7 milhões de exemplares em média, é a maior entre os jornais dominicais britânicos.

Por enquanto, porém, Murdoch e os executivos da News International, a companhia que controla seus interesses jornalísticos e televisivos no Reino Unido, parecem menos preocupados com o impacto que o escândalo pode ter sobre sua influência política do que com os desafios judiciais mais imediatos que enfrentam.

A decisão da empresa de fechar o "News of the World" não porá fim ao escrutínio quanto às práticas do jornal, da parte da polícia, dos tribunais e do Parlamento, e de uma comissão pública de inquérito que Cameron prometeu constituir. Somadas, é provável que essas investigações resultem em uma inquisição que poderia se estender por anos, causando ainda mais erosão à marca de Murdoch e custando à News International milhões de dólares em acordos extrajudiciais.

Os processos, por si sós, seriam perspectiva assustadora o bastante, já que a Scotland Yard afirmou que os nomes e números de telefone de até quatro mil pessoas foram identificados como possíveis alvos de escuta, nas anotações do investigador privado que o "News of the World" usava para realizar as escutas.

Mas além das investigações criminais sobre as escutas, uma equipe de investigadores da Scotland Yard está estudando documentos fornecidos pela News International que supostamente mostram pagamentos de 160 mil libras pelo jornal a policiais de baixa patente, nos anos em que Coulson foi editor, o que pode resultar em acusações de suborno. A Comissão Independente de Queixas Policiais anunciou que iniciará um inquérito sobre o assunto -ainda outra iniciativa que manterá o "News of the World" no noticiário muito depois que o jornal fechar as portas.

Além disso, o juiz que preside ao caso ordenou que a News International entregue documentos que possam esclarecer se seus diretores estavam informados sobre as escutas e optaram por fingir ignorância devido aos lucros propiciados pelas reportagens sensacionalistas, que possivelmente excederiam as potenciais indenizações. Caso isso fique provado, as vítimas das escutas teriam direito a indenização punitiva, e não apenas compensatória.

Os registros quanto a pagamentos a policiais não se estendem ao período em que Rebekah Brooks, hoje presidente-executiva da News International, era editora-chefe do jornal. Brooks admitiu em depoimento ao Parlamento em 2003 que o jornal havia pago policiais por informações recebidas, prática que Coulson descreveu como "dentro dos limites da lei". Mas Brooks posteriormente recuou e disse não estar informada sobre quaisquer incidentes específicos.

Importantes membros do Parlamento, entre os quais o líder trabalhista Miliband, pediram a demissão de Brooks, depois de revelações de que repórteres do jornal, em seu período como editora, instalaram escutas na linha de telefonia móvel de uma adolescente sequestrada e posteriormente encontrada morta, Milly Dowler.
Murdoch expressou forte apoio a Brooks, e executivos da empresa afirmaram que ela estava de férias quando Milly desapareceu; o empresário afirmou que ela continuará no comando das investigações internas da News International sobre o escândalo das escutas.

Mesmo assim, a indignação que o caso causou no Parlamento e na opinião pública a deixa em posição precária, e Brooks agora enfrenta a possibilidade de novas questões quanto aos possíveis pagamentos a policiais durante seu período como editora-chefe.

"Quem instala escutas são pessoas, não publicações", disse Mark Lewis, o advogado dos pais de Milly.
Mas apesar de todas as questões sobre as consequências do escândalo para Cameron, Murdoch provou ser o maior alvo. Simon Hoggart, colunista do jornal "Guardian", descreveu o alívio entre os políticos britânicos em função do revés para o império de Murdoch.

Há anos, os parlamentares "viviam apavorados com a imprensa Murdoch -com medo de perder apoio, com medo, em certos casos, de verem suas vidas pessoais expostas", ele escreveu. "Mas isso acabou. A News International ultrapassou os limites e os parlamentares agora sentem, como prisioneiros políticos depois que um tirano foi sentenciado à morte por um tribunal popular, que estão por fim livres".

TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI

 

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