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22/07/2011 - 18h23

No oeste líbio, a revolução também é das mulheres

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DA FRANCE PRESSE

A revolução ajudou a mudar o olhar dos homens. As mulheres líbias de Djebel Nefoussa vêm se manifestando, cuidando dos feridos, apoiando os filhos e os maridos antes da batalha e esperam, também, poder lutar um dia pela própria emancipação, na nova Líbia.

Nas ruas da conservadora cidade árabe de Zenten, elas ainda caminham de cabeça baixa. Nos muros, os grafites proclamam "Free Libya" (Líbia livre), e elas seguem como se fossem fantasmas negros, ocultas sob o niqab (véu islâmico integral).

Nas casas, a aproximação de um estranho na família é motivo de pânico e elas fogem como abelhas. Nestes tempos de guerra, passam a maior parte do tempos encerradas entre quatro paredes.

No entanto, o ar da revolução também passa por elas.

No começo da insurreição, juntaram-se aos homens para gritar "Abaixo Gaddafi". "Algumas estavam grávidas. Os homens ficaram de tal forma impressionados que nos homenagearam com uma salva de tiros disparados de suas Kalachnikov! Isso ajudou a mostrar a eles que somos iguais, mudando sua visão sobre nós", conta Afaf Abusaa, 20, estudante de tecnologia.

Desde que os homens foram para a guerra, elas passaram a assegurar a retaguarda do cotidiano e do apoio moral. "Eles viram as mulheres cuidando dos feridos, apresentando-se como voluntárias, cozinhando para os combatentes. Viram as mães dizerem a seus filhos 'Vão e lutem, eu apoio'. Não imaginavam isso", confirma Hana Akra, 24, residente de medicina.

Então, começaram a ter esperanças de que a revolução as ajude, também, a se emancipar. Querem ser mais do que enfermeiras, secretárias ou professoras - os ofícios que lhes são reservados de praxe. Querem não ser sistematicamente desqualificadas para um emprego ante a um homem com a mesma formação; ou que os pais não escolham seus maridos, deixando a seleção para elas próprias e que os irmãos e demais membros masculinos parem de lhes dar ordens.

Sonhos, enfim, de poderem ser donas da própria vida numa nova Líbia.

"Aqui, a sociedade é muito conservadora, as mulheres não têm verdadeiramente a possibilidade de escolher o próprio destino. Não param de nos dizer: 'Você não deve, não faça'. Espero que a revolução nos ajude", comenta Najiah Hamza, 26, estudante de medicina.

Salma Abou Rawi, 40, conta como seus pais rejeitaram o casamento dela com um jovem de quem gostava, quando era mais nova.

Hana explica como ela luta para se tornar cirurgiã - um trabalho reservado aos homens. Afaf diz que não gostaria de usar o niqab quando se casasse.

Nas aldeias berberes do Oeste líbio, as mulheres são tradicionalmente mais emancipadas. Em Yefren, elas não usam o véu na rua. Pode-se vê-las ao volante de um carro ou falar de contracepção diante dos homens. Contam que ninguém lhes diz "não" em casa.

Há tempos, elas se sentem preparadas para a liberação feminina na Líbia. "Durante o regime de Kadhafi, mesmo, quisemos apontar nossos caminhos", comenta Twzeen Ali Aboud, 20, estudante.

Hoje, querem ir ainda mais longe. Várias associações de defesa dos direitos das mulheres apareceram. Fala-se de mudança da legislação sobre o divórcio e da entrada das mulheres na política. "A revolução nos deu a chance de ter um papel" na sociedade, alegra-se Anya Ali Aboud, 23, uma farmacêutica.

 

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