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26/07/2011 - 11h14

Dia agitado para casamentos em Nova York

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ELISSA GOOTMAN
DO "THE NEW YORK TIMES"

E o primeiro casal homossexual a casar-se em Nova York, que deixará seus nomes para sempre na história, foi formado por...

Kitty Lambert e Cheryle Rudd, que celebraram sua união diante das cataratas do Niágara e de mais de cem convidados sorridentes?

Dale Getto e Barbara Laven, no gabinete do prefeito Gerald D. Jennings, de Albany, em um grupinho íntimo de oito amigos e familiares?

Ou foram Linda Mussmann, 64 anos, e Claudia Bruce, 65, que se casaram na presença de 300 pessoas no interior da antiga padaria de Hudson, Nova York, que elas, juntas, converteram em teatro e espaço para artes cênicas quase duas décadas atrás?

"Somos nós", disse Mussmann. "Com certeza. Estávamos aqui assim que o relógio bateu a hora. Temos dois ou três relógios. Cronometramos o casamento digitalmente, estava tudo acertado nos mínimos detalhes. Quando o relógio bateu a meia-noite, assinamos a certidão e o prefeito nos declarou legitimamente casadas. Pronto. Somos as primeiras, sem dúvida alguma."

Ela fez uma pausa. "O que você anda ouvindo?"

A verdade é que não está bem claro, e talvez nunca fique.

De acordo com um jornal, Dee Smith, 25, e Kate Wrede, 21, de Long Island, "fizeram seus votos nupciais à meia-noite em ponto num romântico coreto de parque" em frente à sede da prefeitura de North Hempstead, em Manhasset. Isso suscita uma dúvida: como elas podem ter assinado a certidão de casamento na prefeitura "à meia-noite em ponto" antes de caminharem até o coreto?

Um dos primeiros casais homossexuais a selar sua união no Estado de Nova York foi formado por Rudd, 53, que usou um smoking branco, e Lambert, 54, que se descreveu como "uma vovó comum" e costurou seu próprio vestido de noiva de cetim azul.

Mas será que elas foram de fato as primeiras? O prefeito Jennings, de Albany, acha que não. Para ele, Getto e Laven, ambas de 53 anos, foram as primeiras. "Foi feito às 0h01, eu marquei a hora", disse ele. "Não há dúvida nenhuma."

VÍNCULO COM A MÃE

John Sullivan, 40, levou as alianças: uma de ouro e a outra de prata, mas, com essa exceção, idênticas, ambas cravadas com os diamantes pequenos da aliança de casamento de sua mãe, Maryann. Ela morreu cinco anos atrás, e pensar nela, até mesmo olhar para as alianças, leva lágrimas aos olhos de Sullivan, sob a luz de neón do subsolo de um tribunal no Bronx.

Sullivan nasceu em Bronxville, no condado de Westchester. Robert Lane, 42, seu parceiro há 17 anos, nasceu em Riverdale, no Bronx. Os dois eram muito apegados a suas mães e viram seu casamento, no domingo, como homenagem a elas. "Elas fizeram um esforço para nos dar apoio", contou Lane.

Quando Sullivan convidou Lane para conhecer sua família pela primeira vez, a mãe dele serviu pizza, como fazia todas as sextas-feiras. Ele interpretou isso como gesto de aceitação.

Lane trabalha para um hospital, levantando fundos. Sullivan é supervisor de escolas no Departamento de Educação da cidade, seguindo o caminho trilhado por sua mãe, que foi diretora de uma escola católica. Os dois homens vivem juntos na companhia de dois cães fox terrier chamados Minnie e Bernie.

Um grupo de familiares estava com eles no domingo. É claro que duas pessoas estavam ausentes do grupo.
Sullivan disse que, quando olha para sua aliança, ela significa mais que o casamento. "Significa que minha mãe está aqui", disse ele.

COMBINAÇÕES PERFEITAS

No dia antes de seu casamento, Eric Bacolas, 41 anos, e Michael Bonomo, 34, seu parceiro há 12 anos, já tinham reservado um lugar em um cartório de Manhattan para se casarem e reservado seu restaurante favorito no East Village para a recepção.

Isso deixou em aberto apenas uma decisão: o que vestir? E mais uma: vestir roupas que combinavam, ou não?

Bacolas, que trabalha para uma agência publicitária, e Bonomo, designer de interiores, procuraram John Varvatos com um pedido: "Dissemos 'nos deixe bonitinhos --vamos nos casar'", contou Bacolas.

Foi feito. Horas mais tarde, Bacolas e Bonomo decidiram casar-se em trajes combinados. No domingo, estavam de tênis brancos, calças de linho cinza e camisas de alfaiataria de linho branco --com os três botões superiores desabotoados, para criar um efeito de verão.

Os dois, que vivem no Brooklyn, fizeram parte de um número surpreendente de casais no cartório de Manhattan no domingo a usar figurinos idênticos. A alguns passos deles, duas lésbicas usando vestidos brancos iguais aguardavam, ansiosas, sua vez de se casarem.

Ao lado delas, dois gays usavam kilts idênticos, mas pareciam menos à vontade esperando em uma plataforma de metrô de Manhattan sob o calor sufocante, depois de celebrarem sua união.

A irmã de Bacolas, Elise Bacolas, que tem 39 anos e é gerente de projetos de uma firma de marketing on-line, também estava no cartório no domingo para se casar com sua parceira, jenna Glazer, 39, diretora de desenvolvimento de uma organização sem fins lucrativos.

Elise Bacolas e Glazer, que vivem em Brooklyn Heights, compraram seus vestidos juntas e optaram por usar cores iguais, mas estilos diferentes.

Mas Elise aprovou o visual de seu irmão. "Já esperávamos por isso", disse ela. E Glazer acrescentou: "Esses nossos rapazes têm muito estilo".

NADA DE BOLAS DE DISCOTECA

Ed Hassel, o gerente de banquetes da Dante Caterers, em Queens, que vem organizando recepções há 50 anos, esperava uma onda de festas de casamentos de gays e lésbicas em seu bairro multiétnico e receptivo a homossexuais. Mas isso ainda não aconteceu.

"Imaginávamos que haveria uma enxurrada de festas, mas acho que as pessoas precisam de mais tempo", disse ele. "Planejar um casamento pode levar de seis a oito meses."

Hassel disse que a empresa não planeja pacotes especiais para casais de gays ou lésbicas. Para ele, trilhas sonoras à base de Abba ou bolas de discoteca reluzentes, embora possam ser encontradas, seriam de mau gosto. "Somos uma empresa de catering", disse ele. "Acho que os gays não querem festas de casamento especiais para gays. Eles já sabem que são gays."

Mas Hassel disse que a Dante já encontrou um fornecedor de enfeites de bolos de casamento mostrando casais gays trajando smokings, para o caso de fregueses quererem dois noivos ou duas noivas no topo de seus bolos.

A Dante se orgulha de seus "magníficos salões de baile" e "amplas pistas de dança" _tudo em um ambiente decididamente romântico, com afrescos floridos pintados nas paredes, espelhos cobrindo outras paredes e estátuas do que aparentam ser deuses gregos lançando olhares sedutores aos convidados.

O cardápio dos casamentos, que pode incluir "coq au vin" e almôndegas suecas, parece combinar refinamento e popularidade, possivelmente em um gesto de igualdade de oportunidades em direção à humanidade e ao mundo gastronômico.

Mas, insistiu Hassel, bandeirolas de arco-íris penduradas do teto não estão nos planos.

"Queremos criar um ambiente de festa, independentemente da orientação sexual dos noivos", disse ele. Os casais do mesmo sexo "querem apenas festejar, assim como todo o mundo. Afinal, quem é que quer um menu de casamento gay?"

EM UM PRIMEIRO MOMENTO, JUÍZES OCIOSOS

Apesar do orgulho evidenciado por funcionários públicos que se ofereceram como voluntários para trabalhar no tribunal civil do Bronx, muitos deles comentando a ocasião histórica, o tribunal --que já foi criticado por lapsos burocráticos no passado_ acabou confirmando sua reputação nada estelar.

Ali ocorreram alguns dos vários problemas relatados em todo o Estado, fato que não surpreende quando se considera o inusitado de tentar casar mais pessoas que nunca em um só dia, sendo esse dia, além disso, um domingo.

Quatorze juízes se ofereceram como voluntários, mas a maioria passou uma manhã entediante, e os casais que chegaram antes das 9h só deixaram o recinto às 12h, devido a um erro de computador na repartição que processa as certidões de casamento, aliado ao fato de os organizadores terem permitido que a imprensa fizesse perguntas ao primeiro casal a selar sua união, fato que levou a cerimônia a levar 45 minutos, em lugar de dois.

Às 10h30, um policial anunciou à sala de espera repleta de casais impacientes e seus convidados que a demora tinha sido provocada por um computador e já tinha sido resolvida. Organizadores voluntários começaram por negar que tivesse acontecido algum erro, mas, mais tarde, um profissional que fazia contatos entre o cartório e a mídia disse que um computador tinha parado e tinha sido reiniciado com alguém pressionando "control-alt-delete".

Isso levara a uma demora no processo de emissão de certidões, de modo que apenas alguns poucos dos juízes tinham trabalho a fazer. Às 11h30 as coisas já tinham voltado ao normal, com todas as salas em uso e nenhum juiz ocioso.

Mas isso foi cinco horas depois de o primeiro casal na fila da manhã ter chegado ao tribunal, e seu casamento acabara de ser concluído (o casal não tinha sido o primeiro da fila _tinha cedido seu lugar a outro porque não quis ser entrevistado por repórteres).

Tradução de CLARA ALLAIN

 

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