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09/09/2011 - 11h24

Ataques de 11/9 deram impulso a visões extremistas na mídia

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NELSON DE SÁ
ARTICULISTA DA FOLHA

Sob o impacto do 11 de Setembro, a mídia americana tirou as luvas, a começar dos extremistas. Nos dias seguintes, o âncora Bill O'Reilly, da Fox News, trombeteou que "não faz diferença" quem morrer, defendendo "bombardear a infraestrutura a pedras", inclusive abastecimento de água.

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E "se os civis não se levantarem, que passem fome". Afinal, "o povo de qualquer país é responsável pelo governo que tem, os alemães foram responsáveis por Hitler".

A colunista Ann Coulter foi além, dizendo não ser "hora de ser preciosista na localização dos diretamente envolvidos" e que os EUA deveriam "invadir seus países e convertê-los ao cristianismo". Argumentou que, na Segunda Guerra, "bombardeamos cidades alemãs ao chão, matamos civis. É guerra".

Os exemplos se acumularam. E a influência se espalhou. A Fox News, diz Rosental Calmon Alves, do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas e professor da Universidade do Texas, "virou uma coisa radical, partidária, e influenciou as outras".

A CNN americana, "para enfrentar a Fox, foi baixando, baixando, e a diferença com a CNN internacional virou um abismo". E depois a MSNBC "começou a fazer a mesma coisa que a Fox News, o mesmo jornalismo do grito, do proselitismo, só que do outro lado", pró-democrata.

Mas o efeito não se restringiu à televisão. Para Jay Rosen, professor de jornalismo da New York University, "a hora de maior humilhação", para a imprensa que se orgulhava de ser o cão-de-guarda do poder do Estado, com coberturas como Watergate e os Papéis do Pentágono, "pode ser localizada com precisão: domingo, 8.set.2002".

Foi o dia em que o "New York Times" publicou, na manchete, que o Iraque tentava comprar "tubos de alumínio" para uso nuclear. No mesmo dia, o vice Dick Cheney, o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, o secretário de Estado, Colin Powell, e a Assessora de Segurança Nacional, Condoleezza Rice, deram entrevistas à televisão, todos citando o "NYT".

Rice usou imagem do jornal, de que não se podia esperar que a "smoking gun", a prova definitiva de que o Iraque tinha armas de destruição em massa, se transformasse em "nuvem de cogumelo", para só então agir.

Calmon Alves concorda que "a falta de espírito crítico na cobertura dos preparativos da invasão do Iraque" resultou no "desastre mais vergonhoso", mas não restringe o problema ao "NYT".

Diz que "foi uma atitude generalizada, espécie de paralisia no que a imprensa americana vinha mostrando de melhor, desde Watergate e os Papéis do Pentágono".

E enfatiza que depois o mesmo "NYT" fez avaliação crítica de sua cobertura, bem como o "Washington Post", no que descreve como "uma verdadeira autoflagelação".

WIKILEAKS

A imprensa iniciou "uma tentativa de se recuperar", mas não conseguiu, porque a crise de 2008 trouxe "um baque muito grande nos recursos para o jornalismo de qualidade".

Rosen vê de forma diferente. Elogia o "NYT" por ter reavaliado sua cobertura, mas sublinha que o jornal continuou sem enfrentar o problema de dar "passe livre" às versões oficiais, com os EUA em plena guerra ao terror.

O resultado foi que cresceu a atração pela "transparência radical", hoje imperante. Segundo ele, é "uma história que começa com Judith Miller", que escreveu a reportagem do "NYT" e foi demitida "e acaba no WikiLeaks". Arianna Huffington, do Huffington Post, diz que "a sensação é de vivermos num universo diferente, quando você olha para o dia 11 de setembro de 2001".

Mas ela não localiza nos ataques a origem das mudanças por que passa a mídia. Dez anos atrás, "os aspectos sociais da internet estavam ainda na infância", enquanto hoje a interação social "foi reconhecida como a essência da comunicação entre as pessoas na internet".

 

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