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Gregos estão pagando pela crise da dívida com sua saúde
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HELENA SMITH
SARAH BOSELEY
DO "GUARDIAN", EM ATENAS E LONDRES
São 4h da manhã no setor de emergências do hospital geral Evangelismos, o maior da Grécia, e o fluxo de pacientes que chegam não pára. O dr. Michalis Samarkos não parou de trabalhar desde que iniciou seu turno, 14 horas antes, e é assediado por pacientes que não têm como pagar os exames ou remédios que necessitam.
Muitos, como o diabético desempregado que ele acaba de examinar, estão sem tratamento há vários dias.
"Quando você vê um diabético sem poder pagar por suas doses de insulina, sabe que ele vai morrer", disse Samarkos. "Não existe infraestrutura para ajudar essas pessoas. O sistema abandonou em todas as frentes as pessoas que deveria atender."
De acordo com um estudo publicado na segunda-feira, 10 de outubro, os gregos estão pagando pelo desastre econômico nacional com sua saúde.
Em carta enviada ao periódico médico "The Lancet", uma equipe liderada por Alexander Kentikelenis e David Stucker, da Universidade Cambridge, e o professor Martin McKee, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, alerta para uma potencial "tragédia grega".
Eles apontam para sinais de um declínio dramático na saúde da população e para a deterioração dos serviços dos hospitais, sob pressões financeiras.
Muitos gregos perderam o acesso a planos de saúde pagos por seus empregos e pela previdência, e a pobreza crescente faz com que cada vez mais pessoas que antes usavam a medicina privada agora busquem ajuda em hospitais públicos. Somado aos cortes selvagens nos gastos públicos, esse aumento da procura vem impondo uma pressão imensa sobre um sistema caótico e corrupto que já estava em decadência.
Segundo os autores da carta ao "Lancet", os orçamentos dos hospitais caíram 40% entre 2007 e 2009. Há relatos sobre profissionais insuficientes, escassez de remédios e materiais e pacientes que subornam funcionários para poderem furar filas.
"Há sinais de que os resultados em termos da saúde das pessoas vêm piorando, especialmente nos setores vulneráveis da população", escrevem os especialistas. Entre 2007 e 2009, o número de gregos que qualificou seu estado de saúde como "ruim" ou "muito ruim" aumentou em 14%.
O número de suicídios subiu 17% no mesmo período, e dados extra-oficiais de 2010 citados no Parlamento mencionam um aumento de 25% em relação a 2009. O ministro da Saúde relatou um aumento de 40% nos suicídios no primeiro semestre de 2011, comparado ao mesmo período de 2010.
"O disque-ajuda nacional para suicidas relatou que 25% das pessoas que usaram a linha em 2010 enfrentavam dificuldades financeiras, e relatos na mídia indicam que a impossibilidade de saldar dívidas pessoais grandes pode ser um fator chave no aumento dos suicídios", escrevem os autores da carta. "A violência também aumentou; os índices de homicídio e roubo quase dobraram entre 2007 e 2009."
A análise deles é baseada em dados das Estatísticas da UE sobre Renda e Condições de Vida. A pressão sobre os serviços de saúde pode ser responsável pelo aumento de 15% entre 2007 e 2009 do número de pessoas que afirmam não procurar um médico, apesar de acharem que deveriam. Entre as razões citadas estão as longas filas de espera e a distância a percorrer para chegar aos hospitais.
O atendimento médico por clínicos gerais e em ambulatórios de hospitais é virtualmente gratuito, mas muitos gregos não têm como pagar nem mesmo a taxa de €5 cobrada em ambulatórios públicos, e os médicos dizem que muitas vezes são forçados a negociar preços. Enquanto isso, houve um aumento nítido no número de pessoas internadas em hospitais: 24% a mais entre 2009 e 2010 e outros 8% no primeiro semestre de 2011, comparado ao mesmo período do ano passado.
O impacto que os cortes de gastos públicos vêm tendo sobre o fornecimento de remédios parece ser especialmente preocupante. As contaminações por HIV subiram significativamente em 2010, sendo metade do aumento devido a usuários de drogas injetáveis. Tudo indica que o número deve subir 52% este ano.
Muitas infecções novas por HIV estão ligadas ao aumento da prostituição e do sexo não protegido. O consumo de heroína teria subido 20% em 2009, segundo estimativas do Centro Grego de Documentação e Monitoramento de Drogas. Os cortes nos orçamentos públicos em 2009 e 2010 levaram à perda de um terço dos programas de atendimento público do país.
"Ao todo, o quadro da saúde na Grécia é preocupante", escrevem os autores no "Lancet". "Em um esforço para financiar suas dívidas, cidadãos comuns vêm pagamento o preço máximo: perdendo acesso a atendimento médico e medicina preventiva, enfrentando riscos maiores de HIV e doenças sexualmente transmissíveis e, nos piores casos, perdendo suas vidas.
É preciso atenção maior à saúde e ao acesso a atendimento para assegurar que a crise grega não enfraqueça aquilo que, em última análise, é a fonte máxima de riqueza do país: sua população."
TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN
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