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13/07/2012 - 03h00

Editorial: CPI na míngua

A cassação de Demóstenes Torres era tão previsível que a página do Senado na rede já a anunciava meia hora antes de concluída a votação. Se quiser seguir o exemplo de agilidade, o portal da Câmara pode preparar a manchete: "CPI do caso Cachoeira dá em nada".

São favas contadas.

A pena capital política aplicada ao senador goiano por seus pares oferece uma satisfação à opinião pública e dissemina a impressão de que se fez justiça. Com isso, fornece a eles e aos deputados da comissão mista um pretexto para deixar cair no esquecimento o front mais importante da investigação, na vertente jurídico-policial.

Ocorre que a CPI não foi criada só para arruinar o paladino de vida dupla que brilhou no DEM ou para mover uma vendeta contra o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo. Estes eram os objetivos estreitos do lulismo, à cata de um antídoto para o mensalão.

Na mira do inquérito parlamentar está --ou deveria estar-- algo muito mais amplo: a rede de tráfico de influência e verbas públicas entrevista pela Polícia Federal nas escutas telefônicas das operações Monte Carlo e Vegas.

O nó central dos grampos abriga o empresário Carlos Augusto Ramos --o Carlinhos Cachoeira, preso há meses sob a acusação de explorar o jogo ilegal-- e a construtora Delta. Desse núcleo propagam-se ligações e pagamentos suspeitos para vários governos, partidos e empresas, boa parte delas "laranjas" usadas para ocultar prováveis propinas e doações clandestinas para campanhas eleitorais.

O circuito Cachoeira-Delta, ao que parece, não escolhia partido para inserir no seu fluxo de caixa, obras e campanhas. Dele já emergiram políticos do DEM, do PT, do PMDB, do PSDB, do PPS...

Seu caráter ecumênico, por assim dizer, lhe garante na CPI um tipo de proteção tácita e inconfessável. Ninguém mostra disposição real para fazer a investigação avançar, e o retrospecto da comissão já deixou evidente sua inapetência para produzir provas de utilidade em possíveis processos criminais.

Falta ainda a CPI colher o depoimento de Fernando Cavendish, o empresário por trás da Delta e de contratos milionários com governos de toda parte, a começar pelo federal e pelo do Estado do Rio.

Outro que pode ser convocado é o suplente do próprio Demóstenes Torres, Wilder Morais (DEM-GO), que também aparece nos áudios da PF. Mas ninguém espera que os testemunhos resultem em algo mais que um silêncio eloquente.

A CPI não interessa mais tanto ao PT, que abateu Demóstenes, constrangeu Perillo e viu o pretendido tiro no julgamento do mensalão sair pela culatra; ao Planalto nunca interessou. Com o recesso parlamentar, ela caminha depressa para a vala comum das CPIs que não levam a lugar nenhum.

 

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