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Nilson Camargo: A periferia agradece
O "Agora São Paulo", com circulação diária se aproximando dos 100 mil exemplares, é o jornal com maior penetração nas áreas periféricas da metrópole paulistana.
Todos os dias, repórteres viajam até 80 km a um mundo completamente desconhecido do centro político-consumidor da cidade para registrar reclamações e pedidos de nossos leitores.
Graças ao árduo e dedicado trabalho dos jornalistas, as páginas do "Agora" se tornaram um dos melhores espelhos das necessidades dos cidadãos mais dependentes do poder público para tocarem a vida. Ao folhear as edições dos últimos meses, pode-se ter uma ideia dos desafios à espera do futuro prefeito.
Os grandes martírios da população que mora nas pontas da cidade são: conseguir tratamento médico com consultas e exames; ter transporte eficiente e com o mínimo de conforto para ir e voltar do trabalho; e conquistar uma vaga para o filho de até quatro anos em uma creche municipal.
No Jardim Míriam, bairro na fronteira com Diadema, idosos com mais de 70 anos, hipertensos e diabéticos, são obrigados a pegar fila, às 3h da madrugada, para agendar consulta para quatro meses depois. Em São Mateus (zona leste), a espera por atendimento de um endocrinologista é de dez meses. Faltam médicos. Faltam leitos. Faltam hospitais. Falta eficiência no gerenciamento do sistema.
Doentes que deveriam permanecer no máximo 24 horas internados em pronto-socorro passam até sete dias no PS da Cidade Tiradentes (zona leste), correndo sérios riscos de infecção. Pacientes reclamam que exames mais específicos, como o de densitometria óssea, chegam a demorar até dois anos para serem realizados.
O suplício não é menor para se ir ao trabalho. A grande maioria anda de ônibus. No Parque Residencial Cocaia, que fica na zonal sul, a 30 km da praça da Sé, paulistanos acordam às 4h da madrugada, só conseguem entrar no ônibus às 6h e chegam ao trabalho às 8h30. Na volta para casa, mais três horas espremidos.
E muitas mulheres nem isso podem. Cerca de 145 mil delas não têm quem cuide de seus filhos pequenos enquanto trabalham. As mais necessitadas e destemidas deixam suas crianças em locais improvisados, com parentes ou vizinhos. A prefeitura afirma, em plano enviado à Câmara Municipal, que só poderá atender a todas no ano de 2020.
Seria muito bom se a campanha para o segundo turno discutisse soluções não tão remotas para esses dramas da periferia. Melhor ainda, se o eleito jogasse no lixo suas inevitáveis pirotecnias eleitoreiras e adotasse medidas mais pé no chão.
A periferia agradece.
NILSON CAMARGO é o editor responsável pelo jornal "Agora São Paulo".
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