Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
15/10/2012 - 03h30

Tendências/Debates: A grande mentira

ARNALDO NISKIER

Não existe, na centenária história da Academia Brasileira de Letras, nenhum episódio que deslustre o seu alto apreço pela liberdade de expressão. Foi assim com Machado de Assis, o primeiro presidente, e tem sido sempre uma constante, até chegar a Ana Maria Machado, a segunda mulher a presidi-la, que mantém intangível essa tradição.

Agora, equívocos foram divulgados como se fossem verdades, a respeito da conferência sobre amor, sexo e pornografia do professor Jorge Coli, da USP e da Unicamp.

Armou-se um circo para proclamar que, ao suspender o site da ABL, no início da palestra, os seus dirigentes tinham apelado para a censura --e isso naturalmente provocou protestos.

Só que inverteram os fatos. O conferencista alertou a plateia sobre a pornografia e a impropriedade para menores de 18 anos do que iria apresentar a seguir.

Depois vieram as fotos da notória Cicciolina, seguida de cenas da genitália masculina e atos de felação. O quadro de Coubert, com a genitália feminina, jamais foi censurado, pois quando apareceu no auditório o site já se encontrava fora do ar, pelas razões expostas.

Agiram bem os responsáveis pela academia, pois as cenas apresentadas, no horário das 19 horas, eram incompatíveis com o que preceituam o Estatuto da Criança e do Adolescente e também o Código Brasileiro de Radiodifusão.

Vale frisar que a conferência, para cerca de 200 pessoas, no auditório Raimundo Magalhães Júnior, seguiu o seu curso, sem qualquer interrupção. O que se suspendeu foi o site, depois das cenas descabidas num horário em que muitas crianças se aproveitam dos benefícios da rede social.

Fica evidente que o quadro do século 19 em nenhum momento foi censurado, como insistentemente proclamaram diversos jornais do país, criticando o que seria uma violência cultural da Academia Brasileira de Letras.

A imprensa não se interessou pela explicação oficial da ABL, colocando os fatos em seus devidos lugares, o que representa uma clara demonstração de intolerância.

A mentira não pode ser o ponto de partida de uma grande celeuma. Inclusive porque envolveu, nas críticas ferozes, uma instituição exemplar, que ao longo da vida tem dado provas de apreço à liberdade de expressão, acolhendo acadêmicos das mais variadas tendências ideológicas.

No dia em que o assunto foi debatido, no plenário, Ana Maria Machado teve o cuidado de exibir as cenas chocantes. Eram impróprias para menores e também para maiores de bom-gosto.

ARNALDO NISKIER, 76, é membro da Academia Brasileira de Letras, presidente do CIEE-RJ (Centro de Integração Empresa-Escola) e autor do livro "Memórias de um Sobrevivente" (Nova Fronteira)

*

PARTICIPAÇÃO

Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@uol.com.br.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página