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31/10/2012 - 16h27

Leitor discute atuação do árbitro no gol de mão do Barcos

LEITOR DANIEL ZUGMAN
DE SÃO PAULO

A partida realizada sábado (27), pelo campeonato brasileiro no estádio do Beira-Rio, em Porto Alegre, entre Palmeiras e Internacional, foi palco de um episódio que enseja a discussão paralela de temas jurídicos e futebolísticos.

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Quando o Palmeiras perdia por 2 a 1, num cruzamento alçado na área colorada, o atacante do Palmeiras, Barcos, fez o gol de empate, reeditando a famosa "Mano de Dios" em versão Hermano-tupiniquim. Imediatamente o árbitro apontou o centro do campo, validando o tento e realentando a esperança palmeirense na fuga do rebaixamento.

Quase que simultaneamente, os jogadores da equipe colorada cercaram o árbitro reclamando da irregularidade praticada pelo atleta argentino e exigindo a anulação do gol.

Ocorre que, das imagens transmitidas, inicialmente o árbitro reconheceu o gol e só depois de algum tempo, aparentemente após interferência externa, é que decidiu anulá-lo.

Sem entrar no mérito da possibilidade de se provar a interferência externa ou não, a suposição de que ela tenha ocorrido nos dá elementos para tecer algumas reflexões interessantes.

Em seu blog, o jornalista esportivo Juca Kfouri defendeu em texto publicado hoje que entre a regra proibitiva da interferência e o respeito ao futebol como esporte, este último deve prevalecer. Inclusive, Juca cita o jurista uruguaio Eduardo Couture para sustentar que, havendo conflito entre o direito e a justiça, deve-se lutar pela última.

Alexandre Lops - 27.out.2012/Divulgação/Sport Club Internacional
Barcos (esq.) e Nei disputam a bola durante jogo entre Internacional e Palmeiras
Barcos (esq.) e Nei disputam a bola durante jogo entre Internacional e Palmeiras

No entanto, o que Juca desconsidera é que a justiça depende das leis e das instituições para ser efetivada. Na medida em que um sistema é regido por regras que supostamente devem ser igualmente aplicadas a todos, a não aplicação da regra em certos casos, de maneira seletiva, é em si uma grande injustiça e uma violação do princípio da igualdade perante a lei.

Na hipótese de ter ocorrido interferência externa no caso Barcos, anular o gol é impedir a aplicação da regra que veda a interferência. É subverter as normas que regulam o futebol em nome de uma suposta moralidade. Moralidade esta que, por mais clara que possa parecer neste caso, nem sempre o é.

O perigo disso é abrir caminho para que outras situações de exceção aconteçam, nas quais a moralidade nem sempre estará tão evidente, quebrantando a igualdade e dificultando a promoção da justiça, defendida por Juca.

Além disso, a justiça não pode ser analisada a partir de atos isolados de aplicação das normas. Ela só se realiza quando todos têm os mesmos deveres e direitos, previamente definidos e não escolhidos ao sabor do acaso.

A metáfora do escritor inglês George Orwell (1903-1950), que há muito tempo denunciou, dentre várias coisas, os perigos de se criarem exceções à aplicação isonômica das regras, parece perfeitamente adequada.

Após a revolução dos bichos na fazenda, no livro "Revolução dos Bichos", e a expulsão dos humanos, o líder revolucionário porco Napoleão alterou a redação do sétimo mandamento dos animais, cujo texto final é o seguinte: "Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros."

Enfim, é preciso haver critérios homogêneos de aplicação das normas para todos os participantes, seja no futebol, seja no direito. Afinal, coroar a moralidade em detrimento da legalidade é permitir que alguns sejam mais iguais que os outros.

 

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