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Questões de Ordem: Avise o Zé Linguiça
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MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
Com casos semelhantes, advogados de estilos bem diferentes se apresentaram ontem no STF. Afável, como quem descansa o cotovelo na mesa do magistrado, João dos Santos Gomes Filho defendia o antigo líder do PT na Câmara, Paulo Rocha.
Ele não podia ser mais oposto a Pierpaolo Bottini, o advogado do Professor Luizinho, também deputado petista na época do mensalão.
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Bottini é todo gume de navalha enquanto Gomes Filho é afago e emoliência. Magro, jovem, examina o caso cirurgicamente, com uma objetividade que só depois de um tempo se percebe incluir um sofisticado senso da ironia.
Aos fatos, diz Bottini. O petista José Nilson dos Santos, vulgo "Zé Linguiça", acumulava sua atuação de militante ao cargo de assessor de Luizinho na Câmara. Um dia, foi a uma agência do Banco Rural (em São Paulo, não em Brasília, como diz a acusação) e sacou R$ 20 mil. Identificou-se, assinou os documentos, e usou o dinheiro para pagar um designer gráfico, que faria camisetas para candidatos a vereador em 2004.
Nilson perguntara a Luizinho, em meados de 2003, se o PT teria dinheiro para as eleições municipais de 2004. Passaram-se os meses, e Delúbio Soares deu o recado para Luizinho: "avise o Zé Linguiça que o dinheiro chegou."
Só um recado, nada mais: disso acusam Luizinho. Tudo foi feito às claras, em nome próprio, para pagamento de um serviço legal, por pessoa que nem mesmo era Luizinho.
"Se se trata de lavagem de dinheiro, é a mais solene, é a mais pública lavagem de dinheiro de toda a história da lavagem de dinheiro", arremata Bottini, sem abrandar nunca o foco inflexível do olhar.
Antes, João Gomes Filho perdera-se em reminiscências, poemas e simpatias. Começou homenageando o senso jurídico de Marco Aurélio Mello, ao conceder habeas corpus a alguém acusado de traficar 80 quilos de cocaína.
Veio a mesura às duas ministras da corte: estávamos na véspera da data litúrgica da Assunção de Maria.
Lavagem de dinheiro? Rocha, acusado apenas desse crime, não recorreria aos serviços de sua própria secretária para retirar dinheiro do Banco Rural.
Os recursos eram para pagar dívidas contraídas pelo diretório do PT no Pará, de que Paulo Rocha era presidente. Informado por Delúbio, Rocha retirou-os e pagou o que devia. Teria ele o dever jurídico de não pagar as dívidas, por saber que vinham de caixa dois?
Caixa dois, como se sabe, tornou-se a pedra de toque para absolver o "núcleo político" do mensalão. Parafraseando Bottini, nunca um caixa dois foi tão solene, aberto e oficial como este do PT.
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