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Índios do Pará criam comissão para investigar vínculo com a ditadura
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DE BELÉM
Índios da região em que ocorreu a guerrilha do Araguaia (1972-1975), no sul do Pará, criaram uma comissão da verdade para investigar relatos de que eram usados pela ditadura militar como guias para caçar guerrilheiros dentro das matas.
Trata-se de índios da etnia suruí, que vivem na terra indígena Sororó. "Cerca de 20 índios foram recrutados, com base em tortura, intimidação e agressões, para que servissem de 'mateiros' para as Forças Armadas", diz Paulo Fonteles Filho, membro do Comitê Paraense pela Memória e Verdade.
Segundo ele, antes disso os suruí conviviam pacificamente com os integrantes da guerrilha, chegando a ter relações "de amizade", diz Fonteles.
Há ainda relatos de que os índios foram obrigados a carregar ou até mesmo mutilar os corpos dos guerrilheiros. Outra linha de apuração é sobre as agressões das quais eles eram vítimas, que incluía confinar os índios em suas aldeias e proibi-los de sair.
A ideia é que os índios mais jovens colham os relatos dos mais velhos, que viveram naquela época, e repassem as informações para a Comissão Nacional da Verdade, que tem um grupo de trabalho específico para apurar violações de direitos de indígenas e camponeses.
Tanto a comissão indígena como o grupo de trabalho tiveram suas criações formalizadas na sexta-feira (16), com a visita da Comissão Nacional da Verdade à terra indígena Sororó, dos índios suruí, no município de São Domingos do Araguaia (725 km de Belém).
Segundo a Comissão Nacional da Verdade, é a primeira vez que índios criam uma comissão da verdade própria. Na visita, eles conversaram sobre a sistemática do trabalho entre as comissões.
O grupo de trabalho sobre índios e camponeses é coordenado pela psicanalista Maria Rita Kehl, uma das integrantes da Comissão Nacional da Verdade.
Neste sábado (17), uma audiência pública será realizada em Marabá (685 km de Belém) para colher depoimentos de índios e camponeses afetados pela ditadura. Lá, será criada a Comissão da Verdade dos Camponeses do Araguaia.
No domingo (18), serão ouvidos três ex-soldados que atuaram na repressão a militantes de esquerda no Araguaia. A guerrilha do Araguaia foi um movimento armado ligado ao Partido Comunista do Brasil para enfrentar a ditadura e foi reprimida violentamente pelo regime. (AGUIRRE TALENTO)
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