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26/09/2010 - 06h00

Publicitária conta bastidores da produção do programa de TV de Dilma

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ANA FLOR
DE SÃO PAULO

A publicitária e cienasta paulistana Lô Politi assumiu, desde maio, a direção-executiva dos programas de TV da campanha de Dilma Rousseff. Apesar de ter feito outras campanhas presidenciais _trabalhou na de Lula, em 2002, com Duda Mendonça, e na Argentina, em 2000, com João Santana.

Leia a seguir a íntegra da entrevista:

Folha - Você fez a campanha de 2002 de Lula. Quais diferenças você vê, na área da TV, entre aquela campanha e a atual?
Lo Politi - São muito diferentes, especialmente pelo contexto. Aquela era uma campanha de oposição, essa é de situação. A pegada é outra, a linguagem, o tom, tudo.
O que me atraiu naquela campanha foi justamente a possibilidade de trabalhar com uma linguagem incomum em campanhas, fizemos filmes bem cinematográficos, uma série de pequenos curta-metragens que deram o tom da campanha e ajudaram a criar um clima bastante favorável à eleição de um presidente de oposição, claramente de esquerda. Foi uma campanha emocional e ajudar a criar aquele clima foi muito atrativo pra mim. De lá pra cá não fiz mais campanha, porque é muito raro que se tenha esse tipo de visão e qualidade em marketing politico. Até que apereceu o João Santana com uma proposta de campanha realmente inovadora, moderna, diferenciada. E sólida, construída sobre uma base muito conceituada e consistente. O resultado é óbvio, nítido, claro. E muito gratificante.

Você atua no mercado publicitário. É muito diferente 'vender' um candidato?
É difícil a comparação. Principalmente porque não considero a atuação na publicidade como o principal parâmetro do meu trabalho. Venho do cinema e tenho também algumas passagens pela televisão. Além disso, escrevo, dirijo e produzo. Por isso penso sempre o meu trabalho de uma maneira mais ampla. São todos peças audiovisuais que contam uma história. E é fundamental que essa história esteja ancorada em um sentimento verdadeiro. O segredo de se 'vender' um candidato está justamente em não tratá-lo como algo que se possa inventar e vender, um erro que também é comum na publicidade mal feita e mal dirigida. O que se deve tirar de um candidato (ou de um ator, ou de uma personalidade, ou de um entrevistado, ou de qualquer pessoa que você quer que pareça minimamente crível na sua tela) é algo que necessariamente exista dentro dele. Mesmo que não seja a característica ou o sentimento que esteja mais à superfície, mais visível. Mas tem que estar ali dentro, em algum lugar, senão não há com o que se trabalhar e o resultado é tosco e falso, como se vê à rodo em época de campanha eleitoral e em muitos comerciais de TV. O segredo é como tirar isso da pessoa.

Qual o diferencial desta campanha de Dilma na TV?
É uma campanha extremamente bem conceituada, bem pensada, bem estruturada. João Santana estabeleceu uma linha clara e consistente, desde o começo. E queria uma campanha diferenciada, cinematográfica, inovadora. Tivemos tempo de pensar, pesquisar, experimentar. Aprofundamos o conceito e estabelecemos um padrão que não se vê realmente em campanha política. Arriscamos uma linguagem inovadora e trabalhosa, que poderia ser perigosa, pela falta de tempo típica das campanhas políticas. Mas começamos cedo e com a equipe certa. E, pra melhorar, não fomos pautados pelas campanhas adversárias, não fizemos uma campanha reativa, fizemos uma campanha assertiva e propositiva. Ajuda muito, porque não tivemos que ficar mudando tudo a cada programa que ia ao ar. Estabelecemos uma linha e fomos nela até o fim.

Por que a qualidade das imagens dos programas de Dilma parece tão superior à dos programas de Serra?
Não sei se são superiores, são bem diferentes. Não é uma questão apenas de equipamento ou estrutura. É conceitual, tanto no conteúdo quanto na forma.

Como a câmera red one é usada na campanha e qual a grande vantagem dela?
Usamos Red e 5D, A Red é a melhor câmera digital do mercado cinematográfico, usada tanto em grandes produções holywoodianas quanto em publicidade, aqui no Brasil e no mundo. A 5D é uma câmera fotográfica da Canon, que é adaptada para filme, tem qualidade HD e consegue uma textura próxima à do cinema. Nenhuma das duas substitui uma câmera 35mm, de cinema, que filma em película e que ainda é muito utilizada em cinema e em publicidade. Mas em campanha é necessário ter muita agilidade e trabalhamos com um volume muito grande de material. Filmar em película inviabilizaria o fluxo da campanha. Então usamos Red em estúdio e externas onde os movimentos de câmera são mais grandiosos e a 5D onde precisamos de qualidade e agilidade.

Como foi a escolha da equipe (diretores, editores, etc). Teve a ver com o equipamento a ser usado ou vice-versa?
A escolha da equipe técnica tem a ver com a decisão de fazer uma campanha cinematográfica, usar estética e narrativa de cinema. Eu e os outros diretores temos formação de cinema e, mesmo atuando em publicidade, usamos material, equipamento e equipe de cinema. Esse foi o critério. Qualidade e afinidade. (Além de fôlego e disposição, porque não é fácil aguentar o tranco! )Mas foi tranquilo, porque na verdade chamamos as pessoas com quem já estávamos acostumados a trabalhar no mercado de cinema e publicidade. Junto comigo na direção geral do programa tem o Marcelo Kertesz, um gênio da direção de arte, meu parceiro de muitos anos. E os outros diretores vem de escolas diferentes, mas todos muito complementares. O cineasta indicado ao Oscar, Paulo Machline, o publicitário Marcos Freitas e o Peu Lima, jovem diretor que trafega com leveza e alegria pelaTV e publicidade. Um timaço.

O que conta mais numa campanha: o aparato tecnológico ou o material humano?
Os dois são bem importantes, mas muito mais o material humano. Um excelente profissional consegue superar um problema técnico com talento e criatividade. Mas nunca o aparato tecnológico consegue agregar talento e criatividade a alguém que não tenha. O melhor dos mundos é quando a gente consegue dar um bom equipamento pra que um bom profissional possa mostrar todo seu talento com segurança e tranquilidade.

Qual a maior dificuldade em dirigir Dilma? E a maior facilidade?
A dificuldade é inerente ao projeto. Fazer campanha é intenso e cansativo. É um volume de filmagens e de exposição muito grandes. Nem sempre a pessoa está ótima, às vezes dormiu pouco, às vezes se aborreceu com alguma coisa. Daí tem um trabalho diário de criar um ambiente e um clima que favoreçam a filmagem. Fizemos um trabalho intenso, estou aqui desde maio trabalhando intensamente com ela. Nossa primeira experiência em estúdio já mostrou que daria certo, que conseguiríamos um bom resultado. E a segunda já foi um depoimento de 6 horas, bem honesto, pessoal e profundo, só eu e ela, em casa, pra ser usado no documentário que foi o nosso primeiro programa. Estabelecemos ali um código de comunicação, confiança e ética, que tem sido nosso norte nessa campanha toda. Então, se o dia é bom ou ruim, não importa, o resultado tem sido sempre bem bom.

 

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