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Desequilíbrio externo volta a preocupar
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GUSTAVO PATU
DE BRASÍLIA
Mais de dez anos depois, o país volta a enfrentar simultaneamente as três ameaças mais tradicionais à solidez de sua economia --inflação em alta, desequilíbrio crescente nas transações externas e excesso de gastos públicos.
É o que o início do segundo governo FHC tem em comum com o final do segundo governo Lula. Guardadas as proporções: antes, havia o risco imediato de insolvência e recessão; agora, há um muito aguardado ciclo de prosperidade a perder.
A resposta de 1999 foi uma reviravolta nas políticas da Fazenda e do Banco Central, com a adoção do que se convencionou chamar de tripé macroeconômico, composto por superavits primários (despesas com custeio e investimento abaixo da receita), metas de inflação e livre variação do câmbio.
Tornou-se lugar comum associar os sucessos dos anos Lula à permanência desses pilares na gestão petista. O tripé, porém, foi desgastado por uma década de uso e não basta mais como resposta às três ameaças.
Ao passar a poupar parte de suas receitas, o governo deteve a escalada da dívida pública --que, do equivalente a 60% da renda nacional oito anos atrás, caiu para pouco acima de 40%, patamar que mantém tranquilos os credores domésticos e estrangeiros.
Os superavits prometidos não são cumpridos desde o ano passado, e anuncia-se um forte corte de despesas para recuperar a credibilidade perdida. O que importa agora, no entanto, não é apenas produzir números capazes de reduzir a dívida. Pelo consenso entre economistas liberais e desenvolvimentistas, é preciso correr o risco político de conter gastos sociais para elevar investimentos em infraestrutura.
A livre flutuação do dólar também reverteu a perda de reservas em moeda forte e, com a posterior disparada dos preços dos produtos primários de exportação, contribuiu para tornar o governo brasileiro mais credor do que devedor externo. Mas o dólar só tem flutuado livremente para baixo, prejudicando as exportações e a indústria.
Não há mais o cenário internacional favorável que impulsionou a economia brasileira na maior parte dos anos Lula, assentado em deficits comerciais americanos e superavits chineses: os EUA hoje desvalorizam a moeda para recuperar a exportação e a produção, e os demais países se protegem como podem.
Na prática, o câmbio só continua flutuante porque o governo não tem sido capaz de administrar as cotações. Se e quando conseguir, a prejudicada poderá ser a política de controle da inflação.
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