Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
17/04/2011 - 13h36

Reajuste do mínimo torna difícil controle da inflação, dizem especialistas

Publicidade

DE SÃO PAULO
DA AGÊNCIA BRASIL

O governo enfrentará um desafio para trazer a inflação de volta ao centro da meta em 2012, segundo especialistas.

"A política de reajuste [do salário mínimo] resultou no pior dos cenários possíveis para o governo, que é de inflação alta combinada com o crescimento extraordinário de 2010", afirmou o economista-chefe da consultoria Austin Rating, Alex Agostini.

Para ele, o reajuste recorde do mínimo acentua a preocupação com o controle da inflação porque injetará um volume considerável de dinheiro na economia num momento em que o consumo e a produção precisam ser desaquecidos.

De acordo com relatório da consultoria LCA, divulgado no início da semana, o aumento do mínimo no ano que vem acrescentará R$ 9 bilhões na economia brasileira. Segundo Agostini, a circulação desse montante poderá até anular os esforços do governo para conter a inflação e agravar a alta no preço dos alimentos.

"O mínimo maior vai impulsionar o consumo das classes de baixa renda, que consomem mais itens como alimentos e bens não duráveis. Quando aumenta a demanda, a tendência é que o preço também suba."

O economista chefe do banco West LB, Roberto Padovani, ressaltou o desequilíbrio fiscal como efeito colateral do reajuste. Isso porque o salário mínimo corrige os benefícios dos aposentados e pensionistas que recebem o piso. Para cada R$ 1 de aumento, a despesa extra é de R$ 184 milhões por ano, segundo a própria equipe econômica.

Para os dois especialistas, o governo terá de aumentar o rigor nos gastos públicos e apertar a política monetária (aumentando juros e restringindo o crédito) para impedir que a inflação fuja do controle no próximo ano. "O governo não poderá mais tratar a inflação com medidas paliativas", diz Agostini.

Na avaliação dele, o ideal seria que o corte de R$ 50,7 bilhões fosse aumentado e que o Banco Central reduzisse a postura gradualista no combate à inflação com uma política mais agressiva de alta dos juros.

Padovani acredita que o Banco Central não está tecnicamente errado ao abandonar o centro da meta de inflação este ano, como anunciado no fim de março. "Quando ocorre um choque de preços provocados por fatores externos, como no caso dos alimentos, os manuais recomendam isso mesmo."

O economista do West LB, no entanto, afirmou que o governo precisa endurecer as políticas fiscal e monetária para mudar as expectativas do mercado, principalmente tendo em conta o impacto do salário mínimo no próximo ano.

"Pode até ser que a inflação tenha condições de convergir para o centro da meta em 2012, mas o governo ainda precisa construir uma reputação de que está lutando contra a inflação."

MÍNIMO

O governo federal enviou na sexta-feira ao Congresso o projeto da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) para 2012, com previsão do salário mínimo de R$ 616,34. No projeto, estão previstas também as metas fiscais para o triênio 2012-2014.

Segundo o Ministério do Planejamento, o cálculo do novo mínimo manteve a política adotada pelo governo nos últimos anos, que leva em conta a inflação do período e a variação do PIB (Produto Interno Bruto) de dois anos antes.

O reajuste será de 13,09%, já que o salário mínimo atual é de R$ 545. O PIB de 2010 foi de 7,5%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O governo estima crescimento do PIB em 2012 de 5%, após expansão espera de 4,5% em 2011.

APERTO MONETÁRIO

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que o Banco Central "tem mais trabalho a fazer pela frente", depois de ressaltar que o Brasil é um dos líderes globais no aperto monetário.

A taxa Selic subiu três pontos percentuais desde abril do ano passado, para os atuais 11,75% ao ano. "Estamos no meio de um ciclo de aperto monetário", afirmou.

Segundo o dirigente, o BC está acompanhando com atenção os riscos inflacionários da entrada de capital estrangeiro no país, que, além da alta de preços, "tem o potencial de colocar em risco a estabilidade financeira".

Para ele, essa entrada tem feito o crescimento do crédito atingir um patamar acima do adequado para a economia brasileira.

O governo tem anunciado uma série de medidas anti-inflacionárias nas últimas semanas, como aumentar o IOF para o crédito à pessoa física, encarecendo o crédito para inibir o consumo.

O presidente do BC disse também que espera que a inflação fique dentro do centro da meta (4,5% anuais) em 2012. O acumulado de 12 meses do IPCA (índice oficial de inflação) ficou em 6,3% no mês passado, quase no limite da meta, que tem uma variação de dois pontos percentuais em relação ao seu centro.

O mercado projeta que a inflação neste ano fique em 6,26%, segundo o mais recente boletim Focus.

Tombini afirmou ainda que o Brasil está se preparando para a saída da crise dos países ricos. Ou seja, para o eventual aumento de juros pelas economias desenvolvidas, o que pode provocar uma brusca saída de capital estrangeiro do Brasil, já que as taxas no país podem não ser mais tão atraentes.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página