Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Acompanhe a sãopaulo no Twitter
29/11/2010 - 11h30

Bucicleide no divã

Publicidade

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA REVISTA sãopaulo

Estou dando a Bucicleide de presente para quem passar na rua. Se bobear, arremesso a bichinha para dentro da primeira caçamba que vir e saio na direção oposta em disparada. Não aguento mais a tresloucada, amizade empenhativa como a dela não há. Veja só: tem coisa de dois ou três meses que dona Buci, digo Cleide, apareceu lá em casa no meio da noite, aos prantos, para contar que tinha tomado um "au revoir" do Fodson. O Fodson não é exatamente um príncipe William em matéria de bom partido. Na verdade, faz mais o gênero provolone amarrado -sabe aquele gordinho de cinto que parece que vai explodir?

Mas já terminou de montar seu salão de podólogo, quitou todos os aparelhos e paga o aluguel do conjunto na Celso Garcia em dia. Estamos falando de um sujeito cumpridor e de amena convivência, não obstante o fato de que, fisicamente, ele esteja mais inclinado na direção do seu Beiçola do que do George Clooney. Deveria servir de consolo: tomar um pé de podólogo é ter a certeza de levar um chute macio e sedoso, mas Bucicleide custou a se recuperar. Passou semanas sumida, eu ligava e ela não atendia. Fui até seu apartamento entregar um "tupperware" com um cuscuz feito por mim para ver se a alegrava, mas a capadócia nem sequer me atendeu.

Fossa é fogo, a gente sabe, então deixei passar o tempo e, finalmente, na semana passada, ela voltou com ar de refeita. Só que veio com uma conversa estranhíssima. Atente, porque eu não estou inventando: para se refazer do trauma da separação, minha tresloucada amiga aparentemente contratou não um, mas dois terapeutas. Isso mesmo, um psicanalista e uma psicóloga. "Como assim, Bucicleide?" "Pois é, Barbara", explicou-me. "Comecei procurando algumas indicações de psicanalistas e acabei entrevistando vários profissionais. Quando me dei conta, sobraram dois, e eu não consegui mais me desvencilhar."

Foi recomendado a ela que fizesse duas sessões de terapia por semana. Então, às terças, Buci está se consultando com uma psicóloga comportamental, que opina muito e tenta ajudá-la a mudar o que ela não consegue. E, às quartas, ela visita um analista classicão, desses bem freudianos e lacônicos, que a deixa falar muito, tenta puxar pela memória e só opina ao final da sessão. "Mas eu não deito no divã, que eu não sou louca, né, Barbara?" "WTF, Bucicleide? Por que não?"

"Porque tenho medo de que ele durma ou que morra enquanto eu estiver lá gastando meu latim", explicou. E o inédito sistema tem funcionado? "Bem, eles devem pensar: 'Nossa, como ela é madura! Vem sempre com novas proposições', né?", disse, rindo. "Acabo confrontando uma sessão com a outra e vou tentando tirar o melhor das duas."

Peço um exemplo e ela me conta o seguinte: "Ambos chegaram à conclusão de que sou encrenqueira por ser mimada, então eu não fico mais na dúvida quanto às respostas que procuro".

Mas, Buci, não será justamente esse o xis da questão? O relacionamento com o analista não tem como base a confiança?
"Vem não, Barbarica!", protestou minha amiga impossível. "Enquanto eu tiver dinheiro para gastar na terapia, não vou sair do armário para nenhum dos dois."
Eu embrulho e faço um laço bem bonito. Quem a leva?

Fabrício Corsaletti escreve na próxima edição

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página