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29/12/2010 - 11h31

Veja como funciona a organização dos Alcoólicos Anônimos

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TARSO ARAUJO
DE SÃO PAULO

"Alcoólicos Anônimos, bom dia." O telefone não para. Quem atende é Carlão, 60, cujo sobrenome não se revela, é claro. Entre as 9h e as 11h da manhã, ele conversa com 15 pessoas --12 delas pedindo ajuda para si ou para familiares. Há 45 anos, quando foi inaugurado o primeiro núcleo da irmandade em São Paulo, os paulistanos com problemas com álcool têm essa saída.

Fernando Donasci/Folhapress
Reunião na sede dos Alcoólicos Anônimos no bairro do Bexiga, em São Paulo, que completa 45 anos na cidade
Reunião na sede dos Alcoólicos Anônimos no bairro do Bexiga, em São Paulo, que completa 45 anos na cidade

Em geral, a história do AA em uma cidade começa com o sofrimento de um alcoólico. Em São Paulo, aconteceu com Donald, americano radicado no Brasil, que morreu nos anos 1990. Internado no Hospital Samaritano, ele recebeu uma visita casual de Dorothy, que estava ali para ver um amigo.

Carioca, ela vinha a São Paulo uma vez por mês e, quando soube do caso de Donald, já conhecia o AA do Rio, onde a irmandade funcionava desde 1947. Na visita seguinte, trouxe para ele uma cópia do "Big Book", a "bíblia" do grupo, escrita pelo americano Bill Wilson --que ajudou a fundar o AA, em 1935, ao lado de Robert Smith, conhecido como Bob.

Donald conseguiu ficar abstêmio sozinho, apenas seguindo os "12 passos", como são conhecidos os mandamentos descritos no livro. Hoje, além de "mantra" do AA, eles são referência mundial para praticamente todas as clínicas de tratamento de dependência de álcool e de outras drogas.

Uma vez sóbrio, o americano aliou-se à carioca para fundar o primeiro AA de São Paulo, na rua Caio Prado, na região central.

Era 9 de abril de 1965 quando o grupo Sapiens fez sua primeira reunião.

Donald se reunia às terças e aos sábados com outros alcoólicos que conheceu antes da inauguração e, em seguida, com mais pessoas que foram aparecendo. "A gente conhece essa história de ouvi-la em reuniões com o Donald, com o Antero, o Melinho, o Eusébio, que eram pessoas do grupo inicial. Eles ainda participavam de reuniões quando eu entrei no AA, em 1978", conta Silvio, ex-alcoólico e voluntário do CTO (Comitê de Trabalho com os Outros), que organiza parcerias da irmandade com outras instituições. "Essa história é transmitida pela oralidade, porque os encontros do AA não têm ata." O que é dito na reunião não sai dali.

No papel, há apenas revistas e livros --a maioria deles escritos por Bill, cofundador do AA. Os livros, aliás, foram outra contribuição importante de Donald. Em 1969, ele conseguiu autorização da sede para traduzir o "Big Book" --que, em português, tornou-se o "Livro Azul"-- e outras obras do grupo. "Isso foi importante porque começou a difundir a irmandade na língua portuguesa", diz Silvio.

Toda a renda obtida com a venda de livros, revistas, CDs e DVDs no Brasil é revertida para a manutenção da Junaab (Junta Nacional dos Alcoólicos Anônimos do Brasil), que possui escritório em São Paulo e é a única entidade do AA no país que tem registro oficial. A renda é fundamental, já que uma das tradições do AA --além dos 12 passos, há 12 tradições-- não permite o recebimento de doações de não alcoólicos. A ideia é impedir que o grupo seja corrompido por outras formas de financiamento.

Com a tradução dos livros, grupos do AA começaram a pipocar em todo o Brasil. No início dos anos 1980, já eram centenas. Hoje, são mais de mil. Só em São Paulo, são 141 grupos, incluindo um exclusivo para nativos da língua inglesa, no Paraíso.

O Sapiens, pioneiro, terminou em 1969 e deu lugar a dois grupos, o Jardins e o Belém. Ambos foram fundados naquele mesmo ano e permanecem ativos.

Cura ou mito?

AA pode ser um aliado para quem está em tratamento médico
Nenhum trabalho científico explica por que o AA funciona, assim como nenhum deles explica completamente a dependência química. Mas vários artigos mostram que as reuniões funcionam para uma parte dos alcoólicos e que, em combinação com outros tratamento, costumam melhorar os resultados. "Gosto do AA e encaminho meus pacientes para lá", diz o psiquiatra Arthur Andrade Guerra, coordenador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas da Faculdade de Medicina da USP. "De cada dez pacientes de AA, uns dois ficam [abstêmios]. Se o meu paciente for um desses dois, não posso desperdiçar essa chance."

Para ir a uma reunião não é preciso marcar hora nem pagar nada. Basta saber o endereço e o momento do encontro e comparecer. O mais importante, no entanto, é ter o desejo de parar de beber. Só por hoje. Dia após dia.

Raio-x

O passado e o presente do AA na capital paulista

FUNDAÇÃO DO SAPIENS
9 de abril de 1965

ONDE FICAVA
R. Caio Prado, 120, Consolação

HOJE
São 141 grupos na capital (203 na Grande SP)

FREQUENTADORES
Cerca de 3.000 vão a reuniões ao menos uma vez por semana

MAIS INFORMAÇÕES
Tel. 0/xx/11/3315-9333 (24h)

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