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27/02/2011 - 13h46

A Bucicleide é sua, Gaddafi!

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BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA REVISTA sãopaulo

"Alô, Barbara? Bucicleide, rainha da gafieira, sensação do Taboão, falando, tudo xoia?"

Boa coisa nunca é quando ouço esse ensolarado início de conversa. Mas bater o telefone na cara de alguém com quem convivo há mais de cinco décadas não dá pedal.

"O que manda, Buci?", vou dizendo, torcendo para que o prato que está na minha frente não esfrie.

"Estou na papelaria do seu Ajinomoto, comprando adesivos da família feliz, e queria sua opinião."

Sei não. Quando sou chamada a deliberar sobre algum assunto que diz respeito à tresloucada, adivinhe, nobre leitor, pela culatra de quem acaba saindo o petardo?

"Olha, estou almoçando, podemos conversar depois?" Por que será que ainda me iludo de que irei me livrar? Dostoiévski conseguiu se safar da tuberculose, Henrique 8º da sífilis e Freddy Mercury da Aids? Pois Bucicleide é minha doença incurável.

"Tudo bem, Barbarica", resigna-se. "Só queria deixar avisado que, se amanhã um motorista ensandescido me golpear com uma chave de roda, a culpa não terá sido minha..."

Penso em meu prato, que logo estará congelando, e viro um par de orelhas gigante: "Está bem, pode falar".

Minha amiga entra em uma ladainha sobre uma nova mania envolvendo adesivos com caricaturas de figuras humanas e de bichos que os motoristas estão colando nos carros. A brincadeira consiste em representar a própria formação familiar (incluindo mascotes) com imagens estilizadas.

"Você já deve ter visto, Barbara, muita mamãe coloca sua figura junto aos filhinhos, o cãozinho e o gatinho na lataria do carro."

Reconheço a moda da representação familiar infantilizada e acho até que ela humaniza o motorista para quem estou prestes a levantar o dedo do meio numa disputa no trânsito. Você está cortando o caminho da perua quando constata que a maldita é mãe e que, ainda por cima, gosta de gatinhos. Awwwww! Como vou fechá-la?

Mas por que será que temos essa necessidade patética de mostrar ao mundo quem somos e do que gostamos? Quem se importa?

Mire-se no meu exemplo. Sou do tipo que carrega a maçãzinha da Apple grudada no vidro do carro. Minha tentativa de acontecer, além de lamentável, não combina com meu jeito Windows de levar a vida. Tenho certeza de que quem olha para mim no trânsito, no meu Focus que suplica por uma semana na funilaria, deve pensar: "Essa aí não faz o gênero Mac Book Pro nem dando com uma palmeira imperial na moleira. Está na cara que conseguiu o adesivo da maçã porque comprou um iPod Nano em vezes nas Americanas".

Se tenho consciência disso, por que insisto? Bucicleide interrompe meu devaneio: "Você me ouviu, Barbarica? Eu disse que, além de um adesivo de mulher que me represente, vou colar quatro homens, uma cabra, um bode, duas cobras fumando e uma família de capivaras, o que acha?"

Não consigo responder. E Buci, digo, Cleide, prossegue. "O seu Ajinomoto disse que talvez seja melhor eu comprar só o adesivo de uma mulher e grudá-la, sozinha, ao lado do meu colante do Herbalife, quer um igual?"

Juro, na próxima vez que a Bucicleide estragar meu almoço, vou à papelaria do japonês, compro uma fita isolante, enrolo a bicha, enfio numa embalagem e mando por Sedex para a Líbia. O Gaddafi que se vire com a encomenda.

 

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