Descrição de chapéu Internet das Coisas

Plano de incentivo à conectividade no país está na geladeira

Projeto delineia políticas públicas para aplicar IoT em saúde, segurança, agricultura e indústria

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São Paulo

​​Há dois anos, a internet das coisas (IoT, sigla de internet of things) é uma aposta do governo no setor de tecnologia. O termo é usado para designar a conexão de objetos entre si e à internet.

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) investiu R$ 10 milhões na elaboração de um estudo para um plano nacional e disponibilizou, no ano passado, R$ 30 milhões para projetos na área.

Apesar do investimento, o plano foi engavetado. O setor privado aguardava um decreto do então presidente Michel Temer (MDB), no fim de 2018, mas ele deixou a regulação para o governo de Jair Bolsonaro (PSL).

Pessoas próximas ao assunto dizem que o adiamento se deu em razão de isenções indiretas que o plano pode gerar, medida controversa em um cenário de dificuldade fiscal. Outros afirmam que o decreto não saiu por “questões burocráticas simples”.

“Aconteceu como em outros casos. Você cria uma linha de crédito, e o plano não sai do papel”, diz Ricardo Thiel, da Assespro (Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação). “Mas não tenho dúvida de que o governo atual vai conseguir colocar isso em prática”, afirma.

O estudo teve coordenação do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e elaboração do consórcio formado pelo CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), pela consultoria McKinsey e pelo escritório Pereira Neto/Macedo Advogados.

O objetivo é delinear políticas públicas que fomentem o ecossistema de IoT e posicionem o Brasil na dianteira de tecnologias digitais.

“O Brasil saiu na frente de uma movimentação que é internacional, mas não foi o único. Outros países estão atentos a políticas macro para IoT”, diz Eduardo Magrani, coordenador do ITS-Rio (Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro) e autor de livro sobre o tema.

Ele cita a Alemanha, que se destaca em estudos sobre indústria 4.0 —fábricas automatizadas que funcionam sem necessidade de interferência constante de humanos.

O estudo nacional determinou quatro eixos para o incentivo de políticas públicas: saúde, cidades, rural e indústria. Soluções em mobilidade, segurança pública, energia, gestão de ativos em saúde e segurança sanitária são algumas das áreas priorizadas em cada setor.

São exemplos de usos de IoT um sensor aplicado a um semáforo, que transmite informações sobre o fluxo de carros a uma central de controle; um chip de monitoramento implantado na orelha de um animal, que se conecta à gestão de uma fazenda; ou um relógio inteligente que transmite dados de saúde a um aplicativo de celular.

O BNDES selecionou 15 projetos-piloto em 2018, com R$ 30 milhões não reembolsáveis para as áreas. Os pilotos servem para colocar os conceitos em prática e dar evidências de retornos financeiros.

Um dos desafios mais amplos da IoT está ligado à infraestrutura e à conectividade. Menos da metade das residências brasileiras tem acesso à internet banda larga, segundo a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Estados como Pará, Maranhão, Bahia, Piauí e Alagoas contam com menos de 20% de casas conectadas.

O banco diz que incentivar a IoT pode levar a investimentos também nessas áreas, embora não seja fácil prever.

“É difícil dizer o que vem antes, a conectividade, sem aplicação prevista, ou uma aplicação, que não roda sem conectividade. O desafio é colocarmos demanda e ofertas juntas para acharmos uma solução viável”, diz Eduardo Kaplan, economista do departamento de tecnologia do BNDES.

De acordo com Carlos Azen, gerente do departamento do banco, há interesse de empresas em áreas que hoje não estão cobertas. “Companhias grandes estão atentas a isso, bem como alguns pilotos e pequenos provedores regionais, que podem ofertar serviços para áreas não atendidas por operadoras tradicionais.”

Segundo ele, a própria tecnologia tentará suprir gargalos. “Imagens consomem muita banda de telecomunicações, então tem de ter algum processamento local mais rápido.”

Um estudo divulgado na última terça-feira (29) pela Business Insider Intelligence, que ouviu 400 líderes empresariais, estima que o setor movimente mais de US$ 3 trilhões (cerca de R$ 10,95 trilhões) por ano no mundo em 2026. 

A expectativa é que existam 64 bilhões de dispositivos conectados em 2025. Em 2018, foram 10 bilhões, de acordo com a mesma consultoria.

A McKinsey, que capitaneou o estudo, diz que o potencial de movimentação de IoT no Brasil é da ordem de US$ 50 a US$ 200 bilhões (de R$ 182,6 a  R$ 730,3 bi) por ano em 2025.

Junto à explosão de dispositivos conectados e ao entusiasmo de empresas com produtos inteligentes, como carros e geladeiras, a IoT traz riscos inerentes de segurança da informação e de privacidade, além de desafios de interoperabilidade e de conectividade. 

“As empresas focam em produzir serviços baratos, com design interessante, a fim de coletar mais dados. O problema é que essas empresas que criam objetos conectados há menos de cinco anos não necessariamente sabem construir algo seguro. O consumidor está numa situação vulnerável”, diz Luca Belli, professor de governança e regulação da internet na FGV.

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