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Serafina

Era uma vez Elizabeth Taylor, e ela colecionava joias

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Era uma vez Elizabeth Taylor, e ela colecionava joias.

Nasceu muito bonita, com olhos de quase-violeta, coloridos ao modo dos fenômenos estelares mais violentos. Quando menina, foi doce e comportada, para que o olhar fulminante não entregasse tão cedo a voracidade de sua existência.

Elizabeth ganhou fama. O cinema estava cheio de seus filmes, e era ela quem brilhava nos olhos dos espectadores.

Quando os diretores quiseram mostrar toda a grandeza do Egito Antigo, decidiram que ela seria Cleópatra, a mais preciosa joia do Nilo. Ricamente adornada de pedras e ouro, Elizabeth foi a rainha-sol. Mas as cenas mais impressionantes eram as de alcova, nas quais ela usava apenas vestes brancas: o brilho continuava lá, revelando a vulgaridade de todos os enfeites diante de uma beleza tão incontornável.

Foi como Cleo que conquistou o ator Richard Burton, seu único diamante em meio a um deserto de casamentos feitos de areia. O galã, tentando alcançar aqueles olhos (que ganharam novos tons graças à explosão do amor), deu a ela joias caras. Mas ela gostava mesmo da carta que ele escreveu antes de morrer –uma mulher sabe de seus tesouros.

Enquanto envelhecia, Elizabeth aumentava sua coleção de pedras valiosas. Arrematava lotes caríssimos em leilões, procurava brilhantes lendários.

Para os comentadores da vida alheia, desatentos à verdade das aparências, Elizabeth tentava esconder seu envelhecimento tornando-se cada vez mais exagerada no modo de vestir. Diziam que ela ostentava seus quilates para ofuscar as rugas que redesenhavam a perfeição de seus traços. Tolice.

Incompreendida, Elizabeth procurou a companhia de outras pérolas que, como ela, entraram em conflito com suas "conchas" de nascença. Conheceu atores que interpretavam machões, mas que procuravam, no escuro dos bastidores, o carinho de outros homens. Foi amiga de Michael Jackson e uma das poucas a compreendê-lo quando ele sentiu na pele a rejeição do próprio corpo.

Ficou do lado dos gays, quando eles foram identificados como encarnações do vírus da Aids e viraram alvos do ódio exterminador do mundo.

Como qualquer mulher brilhante, Elizabeth sabia que sua beleza adorada era também motivo de ódio e inveja. Sentia nos olhares o prazer de ver algo morrer em câmera lenta.

As joias e as roupas espalhafatosas serviam não para esconder as rugas, mas para desviar a atenção de sua última riqueza, aquela que sobreviveu aos anos inalterada, aquela que cintilava cada vez mais diante da decadência da carne.

Há alguns dias, Elizabeth fechou os olhos, e o mundo sentiu um calafrio de escuridão. Apagou-se a luz: a maior joia do tesouro Taylor, descobriu-se, eram duas pupilas lapidadas pelo desequilíbrio feroz da natureza e pela grande arte humana do amor.

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