Cantar e comprar roupa são as atividades mais constantes de Cauby, 80 anos declarados. O cantor tenta estrear uma muda nova a cada apresentação.

Considerando que há oito anos ele se apresenta às segundas-feiras no Bar Brahma, na esquina das avenidas São João e Ipiranga, centro de São Paulo, já mais de 220 figurinos inéditos, levando em conta os cinco meses de férias que tira todos os anos.

Nos últimos dias, Cauby comprou um paletó de lamê roxo e um quartzo transparente que usa no dedo mindinho, rodeado por cristaizinhos pendurados como num candelabro.

O cantor também adquiriu novos gostos musicais. "Eu nunca tinha ouvido Beatles, até a gravadora me mandar uns discos, no ano passado."

Desde então, os quatro de Liverpool suplantaram um americano que vivia na boca do cantor. "Eles são melhores que o Frank Sinatra."

O encontro encomendado deu origem ao álbum "Caubytles". O disco com en-caixe perfeito de fonemas é um terço da caixa "Cauby - O Mito", a ser lançada em setembro. As outras duas partes são a gravação em CD e DVD de um show no teatro Fecap, em São Paulo, e um álbum só com a voz de Cauby e o violão de Ronaldo Rayol (irmão de Agnaldo).

Cada uma das três capas dos produtos exigiu figurino próprio, inédito e exclusivo, óbvio. Mas, esses, Cauby se recusa a revelar antes da hora. "Como uma noiva com o vestido", brinca, enquanto toma um café expresso ("Minha única bebida forte!") nos bastidores do show semanal.

Folhapress

Modelo de Cauby Peixoto: paletó de microsseda listrado e camisa de seda com estampa gráfica

Lady Gaga do Brasil
O estilista responsável por vestir o cantor há 26 anos é Carlão Saade, 46, dono de duas lojas no Rio e uma nos Jardins, em São Paulo.

"Ele é o melhor cliente que eu poderia ter, de uma ousadia sem limites", diz Carlão. E olha que entre seus compradores há gente como o compositor "country" Sorocaba e Chimbinha, guitarrista da Banda Calypso.

Carlão também faz figurinos masculinos para a TV; em novelas e séries como "O Astro". Mas nenhuma estrela global cintila como Cauby, garante. "Ele é a Lady Gaga brasileira e bem antes dela."

A relação entre os dois é de confiança plena. E de gratidão por parte de Saade. É que, em 2000, antes de ser famoso entre famosos, Saade organizou no Rio um desfile da sua marca. Colocou apenas um modelo em sua passarela: Cauby. "Quando eu pedi para ele desfilar, ele disse que não faria isso por ninguém, a não ser por mim."

Em troca, Cauby quer atenção especial. "Tenho assistentes, mas ele só aceita ser atendido por mim", diz o estilista, que vai à Europa quase todo mês para comprar "jacquards", sedas e outras tramas nobres para modelar paletós, casacas, coletes e camisas tamanho 56, manequim do cantor.

"As calças dele costumam ser pretas. Agora, na parte de cima, pode tudo. A regra é só uma: tem de ter brilho."

Troca-troca
Mas Cauby é berrante só na roupa. Fala baixo e depois de pensar, espaçando cada sílaba. "Tenho um temperamento muito bom, calmo, o que me preservou a voz." Outro truque é a distância da boemia. Quase nunca sai depois da novela das nove. "Não sinto falta da noite, porque faço parte da noite."

Quando tem mesmo de desentocar, como às segundas ou na futura turnê do show em que só cantará "Bytles", ele começa a se preparar à tarde. Usa um figurino para a viagem e chega a se trocar outras duas vezes antes de finalmente entrar no palco. "Tenho de ser vaidoso. Todos olham para as pessoas mais interessantes."

Ele mesmo anda olhando bastante para Luan Santana, 20, estrela sertaneja. "Ele me lembra eu, quando jovem." A similaridade entre os dois não está na cara, explica, e sim no volume dos berros das tietes.

"Era assim comigo. As meninas gritavam, desmaiavam. Os cantores mais bonitos sempre agradam mais." E, para se manter bonito, Cauby diz que segue renovando seu guarda-roupa. "Acho que nunca vou parar de comprar."

	Felipe Morozini
	O músico Cauby Peixoto se apresenta há 8 anos às segundas-feiras no Bar Brahma, em São Paulo