"O que é, o que é? Quem faz vende. Quem compra não usa. Quem usa não vê." Decifre a charada e as portas de um dos eventos mais exclusivos de Londres se abrirão para você.

Em uma casa de 1717, localizada em uma grande avenida no leste da cidade, um anfitrião extravagante confere se seu nome está na disputada lista de presença, fechada meses antes.
Moças de camisola logo aparecerão para oferecer um coquetel de gim, limão-siciliano e extrato de flor de sabugueiro.

Você então será encaminhado a um dos quartos e receberá ordens para vestir seu pijama. Ao andar pelos corredores, verá que outros homens e mulheres também parecem prontos para ir para a cama.

Todos serão conduzidos a uma sala à luz de velas e orientados a se espalhar por sofás, divãs, pufes e almofadões. Tudo pronto, então, para começar a... contação de histórias.

	Emiliano Capozoli/Folhapress
	Encontro que acontece a cada duas semanas organizado por David Carter em sua casa em Londres

Essas sessões inusitadas de contos de ninar foram criadas há três anos pelo decorador inglês David Carter para promover sua obra-prima, o 40 Winks, uma mistura de hotel e casa, onde ele mora e mantém dois quartos para hóspedes (www.40winks.org).

O programa, que custa 30 libras (R$ 98), entrou rapidamente no radar dos agitadores culturais londrinos. Ajudou o fato de Carter frequentar as páginas das grandes revistas de decoração europeias e de ter entre seus clientes membros da família real saudita.

Como as sessões quinzenais conseguem abrigar no máximo 50 pessoas, a espera por um lugar pode levar seis meses.
"Às vezes, uma celebrida- de telefona de última hora querendo participar. Não tem como. Vai para o fim da fila, como todos", afirma David.

REGRAS RÍGIDAS

Para fazer da noitada uma experiência memorável, o decorador é rígido nas regras: 1) as reservas só podem ser feitas pelo e-mail reservations@40winks.org, 2) ninguém pode chegar antes da hora marcada, 3) celulares são banidos, 4) o "dress code" deve ser estritamente respeitado e 5) é obrigatório conhecer a resposta para a adivinhação, lançada dias antes.

Só entra quem trouxer pijamas, camisolas, "baby-dolls" ou robes matadores. Moletom, camiseta velha e qualquer coisa com motivos infantis são imediatamente mandados de volta para casa. Mas ursinhos de pelúcia estão liberados.

	Emiliano Capozoli
	Para participar da concorrida festa, é necessário passar por uma charada e respeitar as regras

Frequentadores como a estilista alemã Caroline Hess, 26, aprovam. "Adoro festas a fantasia e fiquei supercuriosa para saber como seria essa contação de histórias. Como venho de uma cidade pequena na Baviera, onde tudo é muito tradicional, aproveito para me produzir ao máximo sempre que posso", diz ela, de combinação curta de seda preta, meia-calça transparente e uma bandana com plumas, típica das melindrosas dos anos 1920.

Já a inglesa Hannah Gough, 30, de camisola de renda bordô, robe preto, colar de pérolas e batom fortíssimo, decidiu vir ao 40 Winks porque gosta de fazer programas alternativos em Londres. "Já fiz aulas de balé para adultos, fui a degustações de vinhos e participei de uma sessão de observação de estrelas a olho nu. São ótimas oportunidades para conhecer pessoas novas", afirma.

No 40 Winks, os contadores de histórias são atores ou escritores convidados pelo criador. "A experiência é intimista, e isso torna a coisa bem desafiadora porque você sabe na hora se está indo pelo caminho certo ou não", diz Cat Weatherill, atriz que, na noite em que Serafina visitou a festa do pijama, conseguiu cativar a audiência com um conto sobre sexo, mutilação e vingança.

A noite termina com música ao vivo e mais coquetéis. Praticamente embalados para dormir, todos deixam a casa do jeito que estão, prometendo colocar novamente seus nomes na lista de espera.

David Carter terá 15 dias para inventar uma nova charada. Aliás, se você não desvendou a que estava lá no início, a resposta é : "Um caixão".