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Serafina

Novas bandas paulistas têm influências da tropicália e vanguarda experimental

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Eles estão na casa dos 20 anos e fazem música pop. Mas as influências –implícitas ou assumidas– vêm da música popular brasileira mais experimental. Artistas como Jorge Mautner, Arnaldo Baptista, Tom Zé e Walter Franco, e movimentos, como a tropicália e a vanguarda paulista, estão no foco de bandas novinhas, como O Terno, Filarmônica de Pasárgada e Trupe Chá de Boldo.

Mas o conceito de "vanguarda", que une os nomes consagrados em que se norteiam, faz pouco sentido para eles. Talvez por isso estejam sendo consumidos por um público cada vez mais abrangente (mas que ainda não se compara ao de Michel Teló). O trio O Terno, por exemplo, é conhecido muito além do "underground" paulistano desde que levou os troféus de Aposta MTV, no ano passado, e, principalmente, o de melhor clipe no Prêmio Multishow 2012. Já o clipe "Na Garrafa", da Trupe, frequenta o Top 10 da MTV há três semanas, sempre entre os primeiros colocados.

Referências a Tom Zé surgem em vários momentos de "Nave Manha" (2012), segundo álbum da Trupe Chá de Boldo. Nominalmente, o tropicalista é citado na música "Splix". Mas flertes com seu estilo são claros em canções como

"A Rolinha e o Minhocão", que trata cenários da cidade como se fossem pessoas –mesmo procedimento que o veterano usou nos clássicos "A Briga do Edifício Itália e do Hilton Hotel" (1972) e "Augusta, Angélica e Consolação" (1973).

"Quando ouço esses meninos, percebo que olharam para mim como fonte de material. Posso servir a eles como um abecedário, mas eles formam novas palavras e falam uma língua que eu não conheço", diz Tom Zé. "Sinto grande alegria ao ver meu bagaço sendo reaproveitado."

Ainda que também tenha criado canções inspiradas por Tom Zé, a Filarmônica de Pasárgada tem como principal "abecedário" o compositor Luiz Tatit e o grupo Rumo, um dos pilares do que, nos anos 1980, ficou conhecido como vanguarda paulista. Tatit e Ná Ozzetti até participam, cantando, de uma das faixas de "O Hábito da Força" (2012), primeiro álbum da banda.

"Marcelo Segreto [compositor da Filarmônica] vem seguindo as coisas que a gente faz e sabe o que pode render esse tipo de música, em que a melodia se aproxima muito da fala", diz Tatit. "Tanto a Trupe quanto a Filarmônica se preocupam com a parte figurativa da canção. Não estão ligadas à abstração musical, como quem gosta de jazz, de improviso, de habilidade técnica. A instrumentação fica sempre a serviço do que está sendo dito."

Tatit considera que essa turma também tem em Arnaldo Antunes uma referência forte, pois usa os métodos que o ex-titã desenvolveu para, a partir de textos concretistas, criar canções de pegada pop. Caetano Veloso foi dos primeiros a fazer esse tipo de experiência, mas, segundo Tatit, "ele nunca conseguiu atingir o que esses músicos conseguiram agora".

Mais ligados ao instrumental, no entanto, são os meninos de O Terno. Martim, 21, guitarrista, vocalista e principal compositor da banda, é filho do músico Mauricio Pereira, que, no final dos anos 1980, criou com André Abujamra a banda Os Mulheres Negras.

Completam O Terno o baixista Guilherme d'Almeida e o baterista Victor Chaves, ambos com 22 anos. Os três são grandes instrumentistas, principalmente se considerada a pouca idade que têm.

Martim compõe sob evidente influência dos Mutantes. Uma mesma canção pode mudar de ritmo e de gênero várias vezes no decorrer dos seus três minutos de duração.

"Quando o Tim começou o Terno, falei para ele uma frase do James Brown: 'Se você tiver uma ideia boa, faça uma música. Se você tiver duas ideias boas, faça duas músicas'. Mas ele não me ouviu muito", ri André Abujamra.

"A internet faz essa molecada ter uma cultura e um gosto verdadeiro pela parada. No meu tempo, a gente tinha que esperar um amigo viajar para fora e trazer o disco do Pink Floyd pra gente copiar nossa fita cassete."

PRAFRENTEX

"Filhos da vanguarda pra poder vender/ Faz canção bonita, prensa um LP/ Meio do Brasil, pleno ano 2000/ Vanguarda, vanguarda, cadê?/ Dentro da TV quer aparecer/ Vanguarda, vanguarda, cadê?/ Quem vai ouvir não sabe bem distinguir/ O que é bom do que é ruim/ E o que não entenderem vão dizer: vanguarda!"

Escrita por Martim, a letra de "Filhos da Vanguarda" escancara a visão que ele e os meninos das outras bandas citadas aqui têm do rótulo.

"O experimentalismo é incrível, mas unido à música pop, como eram os Beatles, os Mutantes e a tropicália. Dá mais trabalho unir essas duas coisas do que fazer uma doideira que as pessoas têm de estudar pra entender", explica o músico.

Marcelo Segreto, 29, da Filarmônica, concorda. Para ele, o termo "vanguarda" já era. "Dá para fazer coisas inventivas e comunicativas ao mesmo tempo. Basta ser criativo a partir do repertório cultural que o público já possui," resume.

Em consenso com os colegas, Gustavo Galo, 27, da Trupe, segue na reflexão. Afirma que, ligada à música popular, a palavra "vanguarda" só espantou o público, pois rotulou como "esquisitos" trabalhos feitos com coragem e liberdade. Mas acredita que é vital que os artistas continuem experimentando dentro do pop.

"O ouvido das pessoas vai se conformando com aquilo e, aos poucos, já considera aquele universo confortável e seguro", diz.

"É preciso lutar para que surjam 'ouvidos novos para os anos novos', como escreveu certa vez o poeta paulistano Augusto de Campos, parafraseando o músico americano
John Cage (1912-1992), que sempre desejava: 'Happy new ears!' ['felizes orelhas novas', em tradução livre]."

FILARMÔNICA DE PASÁRGADA - "O SEU TIPO"

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TRUPE CHÁ DE BOLDO - "NA GARRAFA"

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O TERNO - "66"

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