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Serafina

Carinhosos e fiéis, papagaios vivem 80 anos e custam até R$ 50 mil

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Todas as noites, ao abrir a porta de casa, ele ouve o grito ritmado de Kiko: "Vovô! Vovô! Vovô!". E responde ao chamado com um cafuné demorado, gostoso, derramado. Só então o empresário mineiro Luiz Otávio Possas Gonçalves, 70, cumprimenta o resto da família.

Kiko é uma cacatua galerita, ou bicho do penacho empinado, originária do sudeste asiático e Austrália. Tem oito anos. "A cacatua não é um bicho muito falador. Aprende poucas palavras. Mas é dócil, fiel, e me dá muito carinho", diz Luiz Possas. Um filhote dessa espécie custa no mercado, em média, R$ 18 mil.

"Os papagaios são os melhores animais de estimação que existem. Como um cachorro, reconhecem o dono. Interagem muito com a família. São limpos, bonitos e superinteligentes", derrama-se o empresário. Ele sabe o que diz: além de dono do Kiko, também é dono do Instituto Vale Verde, o primeiro criatório de psitacídeos do Brasil.

Araras, periquitos e papagaios fazem parte da família dos psitacídeos, que se distingue pelo bico alto e curvo e pés zigodátilos, com dois dedos para frente e dois dedos para trás. Ou, como preferem os biólogos, "bichos de bico torto".

A história de Possas com essas aves, que começou só como curiosidade, ficou séria na última década, quando ele conseguiu junto ao Ibama uma licença de criador conservacionista. "Essa licença me deu o direito de criar pássaros, inclusive ameaçados de extinção. Alguns anos depois consegui a licença de criador comercial", ele explica.

Em 2012, produziu e vendeu 260 filhotes. Em 2013, a meta é 350 filhotes. Ele cria cerca de 30 espécies diferentes. A mais procurada é a Amazona aestiva, ou papagaio-verdadeiro, o mais falador. O filhote custa R$ 2.300, e é um dos mais baratos. O mais caro chega a custar R$ 20 mil. Espécies raras, como a arara-azul, do Pantanal, chegam a R$ 40 mil, R$ 50 mil. Algumas, em extinção, como a ararinha-azul-de-lear, do sul da Bahia, não há dinheiro que pague.

CACHAÇA CHIQUE

O Instituto Vale Verde ocupa a fazenda que era da família de Luiz Possas, a 42 quilômetros de Belo Horizonte. Localizada em Betim, região metropolitana da capital mineira, com 30 hectares de jardins bem cuidados, lagos e cachoeiras, é como um pulmão verde cravado numa zona industrial. Além das aves, a fazenda abriga um zoológico, um criatório de cobras, um de insetos, e a destilaria da cachaça Vale Verde, outra invenção do empresário. O Instituto é aberto ao público e tem um ótimo restaurante de comida mineira.

Com fala mansa e sotaque carregado, Possas é um tipo de empresário ameaçado de extinção. Faz dinheiro brotar. Aos 17 anos, começou a trabalhar como carregador de caixas na fábrica da Coca-Cola que pertencia ao seu pai, em Belo Horizonte.
"Eu não gostava de estudar. Meu pai falou que eu não aguentaria o emprego na fábrica nem uma semana. Fiquei 45 anos", ele conta. "Só fui estudar velho, depois de casado. Entrei na faculdade de direito com 30 anos".

No final dos anos 70, Possas, que chegou a gerente geral da Coca-Cola, fundou a cervejaria Kaiser, vendida em 2003. Já havia vendido também a fábrica da Coca-Cola quando lançou no mercado uma grande novidade: água de coco em caixinha, em 2004. A Kero Coco fez tanto sucesso que foi abocanhada pela Pepsi em 2009. Nesse meio tempo, começou a fabricar a cachaça Vale Verde lá mesmo, dentro do próprio Instituto.

"A cachaça era um hobbie. Para criar a Kaiser, fiz muitos cursos de destilação e fermentação. E resolvi aplicar a tecnologia num produto o mais tecnicamente perfeito possível. Investi em tecnologia sofisticada, envelhecendo a bebida em tonéis de carvalho. Viramos um grande sucesso", ele diz.

A bebida ganhou o mercado como sinônimo de cachaça refinada, envelhecida por três anos em tonéis de carvalho. A garrafa da Vale Verde varia entre R$ 55 e R$ 80. Já a 12 anos, uma edição especial, chega a R$ 380,00.

Ao mesmo tempo em que fazia -e desfazia -negócios milionários, Luiz Possas virou ativista ambiental. Há duas décadas, quando pouco se falava em ecologia, ele botou dinheiro em um projeto de preservação da ararinha-azul-de-lear. Comprou uma fazenda no sul da Bahia, lugar de origem da espécie ameaçada, e iniciou uma saga.

"Na época existiam na natureza vinte e poucas ararinhas- azuis-de-lear. Elas eram vendidas no mercado a R$ 120 mil o filhote. Compramos a fazenda, protegemos o local, fizemos campanhas educativas e hoje já temos perto de 2.000 indivíduos", o empresário comemora.
Mas o Instituto Vale Verde é a menina dos olhos do empresário. Além dos vertebrados, ele cria insetos para serem usados como matéria-prima para a ração Megazoo. "Nosso índice de reprodução não era bom, por volta de 30%, 40 %. Percebemos que o problema era a alimentação. Os bichos comiam em cativeiro o mesmo que na natureza. Mas eles não queimavam a gordura", Possas explica.

"Desenvolvemos uma ração balanceada, cuja proteína vem dos insetos. Nosso índice de reprodução saltou para 70%. Estamos vendendo a Megazoo para o mercado", conta.

LORO JOSÉ

O biólogo do instituto, Tiago Lima, 31, diz que a venda das aves foi estimulada pelo Loro José, o companheiro de Ana Maria Braga no programa "Mais Você", da TV Globo, um autêntico papagaio-verdadeiro: "O programa estimulou a criação como animal de estimação. Mas existem ambientalistas que dizem que também estimulou o tráfico".

"Eles são o que mais falam. Eles e os papagaios do Congo. Aprendem por repetição e têm capacidade de aprender tudo", diz Possas. "Mas nós não ensinamos os filhotes. Queremos que tenham o sotaque da família que vai comprar".

A criação mineira foi a primeiro a reproduzir em cativeiro - três filhotes - a arara azul do Pantanal, uma ave imensa, com penas azul-marinho. Ela custa no mercado R$ 40 mil.

A reprodução em cativeiro, porém, é um longo processo. As aves brasileiras chegam aos criatórios por meio do Ibama. São animais apreendidos de traficantes. Só as de segunda geração podem ser vendidas, o que leva cerca de dez anos.

No caso das espécies em extinção, como a ararajuba, uma ave toda amarela com asas verdes, só na terceira geração. "Em 2011, tivemos R$ 170 mil de prejuízo. De 60 casais, 23 reproduziram", conta Tiago.

O ideal é comprar os filhotes com, no máximo, quatro meses, para que estabeleçam maior vínculo com o dono. Um papagaio pode viver até 80 anos. Segundo Luiz Possas, é "um bicho para botar no testamento".

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