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Serafina

Aos 93 anos, músico alagoano inspirou Gil e sobreviveu a encontro com Lampião

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Sebastião Biano é um homem que teve pouco, viveu muito e viu de tudo. Prestes a completar 94 anos, é o único membro remanescente da formação original da Banda de Pífanos de Caruaru, fundada por seu pai, Manoel, em 1924, quando Sebastião tinha apenas cinco anos.

No mundo do menino Sebastião, muita coisa era diferente. "Música" era "toque", e "músico", "tocador". Longe da cidade, o primeiro contato com a melodia veio dos assobios do avô Clarindo. "O povo era pouco. As pessoas nem sabiam conversar, porque não tinham com quem conversar", conta.

A Banda de Pífanos de Caruaru era composta ainda por seu irmão Benedito, então com oito anos, e um primo, Martinho, também criança. E só. Seu Manoel fazia o grupo tocar uniformizado, todo de branco e usando chapéus de couro, para se destacar das outras bandas de pífano (espécie de flauta) da região. As roupas eram feitas pelo próprio Manoel e permanecem uma tradição até hoje.

Em 1926, a família Biano começou a vida de retirante, deixando a cidade natal, em Alagoas, a caminho de Juazeiro do Norte, no Ceará, em busca de uma bênção do Padre Cícero. Os anos seguintes foram de andanças pelo Nordeste, ora na Paraíba, ora no Ceará, às vezes em Pernambuco, outras na Bahia. Foi a primeira turnê da Banda de Pífanos de Caruaru.

Sebastião acabou não conhecendo o padre, mas durante a viagem cruzou com outra figura lendária do sertão brasileiro. O músico tocava em uma festa quando saiu do mato Lampião, acompanhado por 50 cangaceiros. Ele se aproximou dos meninos da família Biano e pediu que tocassem o seu "toque". "Nessa hora, fiquei ensopado de mijo", conta o músico. A banda apresentou a sua versão do toque a Lampião, que, satisfeito, disse aos cangaceiros: "Tão vendo? Desse tamanho e já sabem tocar. Vocês que são velhos não tocam piroca nenhuma!".

Não só o guri sabia tocar como desde os dez anos Sebastião fabrica os instrumentos da banda: caixa, surdo, zabumba e, claro, os pífanos. Até hoje os pífanos utilizados pelo grupo são feitos pelo músico, que já presenteou nomes como Gilberto Gil e Hermeto Pascoal com o instrumento.

Sebastião deixou Caruaru com sua família para vir morar em São Paulo em 1976. O ônibus em que veio o deixou próximo à represa de Guarapiranga. A 400 metros do ponto, construiu a sua casa, onde mora até hoje. Criou 14 filhos, uma infinidade de netos e bisnetos -diz que "apenas um computador pra saber quantos são"- e hoje tem dois tataranetos, seus xodós.

O Brasil, a música e tudo o mais mudaram muito ao longo da vida de Sebastião. Ele, nem tanto. Apesar de já ter corrido mundo por lugares como Mata Grande (AL), Bonito de Santa Fé (PB), Belo Jardim (PE) e São Paulo, ainda faz a mesma coisa que fazia há quase 90 anos. "E ainda dá pra fazer por mais uns 20", prevê o incansável Sebastião.

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