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Serafina

Casas de flamenco querem mais tradição e menos turistas

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O cantaor* desfila seu dramático cante flamenco. A bailaora bate os pés com força no chão. O tocaor dedilha o violão concentrado. Até que perde a concentração e olha feio para um turista, que dispara freneticamente sua câmera. O tocaor balbucia lá do palco: "Sem foto". O turista obedece.

Além de um local de espetáculos, a Casa de la Memoria, em Sevilha, é também uma espécie de centro de formação de público para o flamenco. A plateia é pequena e o silêncio deve ser total –eles não usam microfone. O ritmo escolhido (o flamenco tem dezenas ou centenas de vertentes; as do canto se chamam palos) nem sempre é o que mais agrada ao público. Os donos da casa não estão nem aí.

"O turista em geral aprecia os estilos mais animados, como as bullerias, as alegrias. E isso representa um perigo para os outros tipos, mais tristes, mas também mais autênticos, que podem entrar em extinção", diz Rosana de Aza, diretora da Casa de la Memoria, que, com medo de que o flamenco mais tradicional desapareça, promove exposições e shows "afastando-se dos espetáculos mais turísticos da cidade".

"Os aficionados de verdade costumam preferir as siguiriyas e as soleás, estilos mais sérios, autênticos", confirma Javier Andrade, diretor do Museo del Baile Flamenco, outro centro, também em Sevilha, que tenta se diferenciar dos shows mais comerciais e busca "dignificar o flamenco".

O Museo, fundado pela famosa bailarina Cristina Hoyos, tem exposições, aulas e shows -em que, Javier ressalta, não há garçons, comida ou bebida. "O flamenco, para ser bonito, tem que poder mostrar sua força, expressar todas as sensações. A siguiriya, por exemplo, é puro sentimento, tem que ferir, tem que doer."

Grande ícone da cultura musical espanhola, fusão das tradições cigana, andaluz, moura e judia, o flamenco surgiu na Andaluzia, e o epicentro dessa cultura é sua capital, Sevilha (a cidade também é o berço do grupo Los Del Río, aquele da "Ê, Macarena!", mas aparentemente nenhum centro cultural se propõe a preservar esse patrimônio que conquistou o mundo nos anos 1990).

E Sevilha atrai, cada vez mais, estrangeiros de todo o mundo não só para ver mas também para aprender o estilo. Mas não se anime muito. "É impossível o turista entender completamente o flamenco porque ele não compreende o que a música fala", dramatiza Rosana. "Essa é também uma arte literária, difícil de entender. E a dança não faz sentido sem a palavra." Não faz sentido nem se você é fluentíssimo no espanhol.

A língua cantada é uma mistura do vocabulário andaluz com o caló, língua dos ciganos espanhóis. *Por isso, no trio-base do flamenco lá do primeiro parágrafo, o cantor virou cantaor; a bailarina, bailaora; e o tocador, tocaor. Essa é uma linguagem que os puristas também se preocupam em conservar.

Apesar do ar de urgência dos preservacionistas, nada disso chega a ser novidade em terras espanholas. Em 1922, o poeta andaluz Federico García Lorca (1898-1936) organizou um concurso de "cante jondo" (o canto tradicional, profundo e sentimental do estilo) para tentar preservar uma suposta pureza do flamenco. O concurso foi um fracasso. Mas o "cante jondo" e o flamenco continuam por aí.

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