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Serafina

"Passei a atrair um público que não viria ao teatro normalmente", diz Débora Falabella

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Débora Falabella entra na sala, às dez horas de uma manhã em que os termômetros em São Paulo se esforçam para passar dos 10°C, usando jaqueta de couro e colar de pérolas. É mais alta do que parece na tela e aparenta ter menos do que os 34 anos que o RG lhe atribui.

Chega dizendo, com voz baixa, que está feliz em "conciliar as duas coisas". Ela fala sobre fazer teatro e ser uma estrela da TV brasileira ao mesmo tempo, mas também poderia ser sobre usar couro com pérolas.

Sua carreira parece uma combinação tão improvável quanto a das duas peças. É uma das atrizes mais conhecidas do país por protagonizar folhetins das nove (Nina, de "Avenida Brasil", é uma das pérolas do seu colar), mas se mantém com os pés firmes no tablado e aparece menos do que poderia (o couro resistente e sem brilho da jaqueta).

Não vive no céu de estrelas globais, o Rio de Janeiro, mas no bairro paulistano de Higienópolis. "São duas vidas. Uma aqui, em São Paulo, e uma no Rio, que é só trabalho", diz, com um sotaque mineiro que não se ouve no horário nobre.

Débora saiu de Belo Horizonte há 15 anos, mas os ás e ós abertos não a abandonaram mesmo depois de 17 trabalhos televisivos. "Quando eu atuo, não tenho sotaque. Isso aconteceu desde o início, não foi uma coisa pensada. Ainda bem, né?"

A escolha do ofício tampouco passou por uma decisão. Ela saiu de família com mãe cantora, pai diretor e dramaturgo e irmã bailarina. Ainda sub-20, já estava na Globo, fazendo "Malhação", depois de ser selecionada numa peneira que a emissora armou em Minas, enquanto ela fazia teatro amador.

Na época, cursou um ano e meio de publicidade. "Era aquela coisa de ter uma carreira para conseguir viver." Ficou com a faculdade trancada até os 21 anos. "Aí, dei uma desistida. Vi que era possível, junto com o meu trabalho na televisão, fazer o que eu queria fazer."

Fez, desde então, "O Clone", "Senhora do Destino", "JK" etc. etc. Temia ser chamada para fazer sempre o mesmo papel, o de heroína batalhadora. "Isso mudou com a Nina, que era um desafio por mudar a cada semana."

As mudanças envolveram tirar carteira de motociclista porque a personagem andava de scooter. Mas essa não foi a parte custosa. "O que a gente usa mesmo [de andar de moto] é o mínimo. Você tem que aprender a mentir, fingir que você sabe fazer."

DEPOIS DE NINA

Desde o fim de "Avenida Brasil", em outubro do ano passado, está em férias televisivas. A pedido. "Essa novela, tanto para mim quanto para a Globo, foi muito forte. Marcou. Esse tempo é bom." Foi, neste mês, visitar a família, em Minas, e apoiar o namorado, Murilo Benício, que perdeu o pai no começo de agosto.

Mas não consegue se isolar completamente, como desejaria. "Agora, está um pouco mais difícil porque eu namoro um ator." Fala sobre a vez em que um fotógrafo se postou em frente ao apartamento em que ela se hospeda no Rio e flagrou Murilo, o antigalã da novela, saindo da garagem.

A foto foi parar na capa de revistas. "É horrível. Mas, ao mesmo tempo, o que fazer? A novela está no ar, ficam em cima mesmo. Um dia, um carro me seguiu. Tem essa coisa do Rio de Janeiro, que virou piada, sabe? Mas é assim no mundo inteiro."

"Uma hora, vou ter que escolher o Rio. Sou contratada lá e minha filha vai começar a ter ano escolar. Não tem como ficar indo e vindo." A má impressão pode passar, acredita, já que ainda não teve a chance de ser civil no Rio.

Mas teve de sobra em São Paulo. É na cidade que ela e mais dois mineiros sediam o Grupo 3 de Teatro. Débora dedica grande parte do tempo ("e do afeto") às montagens que põe de pé com a diretora e atriz Yara de Novaes e o diretor e produtor Gabriel Paiva.

Para comemorar a nova idade do trio, que completa oito anos em setembro, reencenarão no teatro Sérgio Cardoso os três textos que já montaram: "A Serpente", última obra de Nelson Rodrigues, "O Amor e Outros Estranhos Rumores", baseado em três dos 33 contos da obra do escritor (e mineiro) Murilo Rubião, e "O Continente Negro", do dramaturgo chileno Marco Antonio de la Parra, dirigido por Aderbal Freire-Filho.

A atriz se revezará entre as três peças (e também entre os dez personagens que ela interpreta nesta matéria) de 3 de setembro até 6 de outubro. De terça a domingo. E se prepara, "como se fosse fazer uma maratona", para a celebração. Vai à fonoaudióloga, pois "estava com calo" na garganta, e abdicou de ir ver outras peças para se dedicar às suas. Assim que terminar a mostra, estreia ainda "O Contrato" no CCBB paulistano. Também com a trupe mineira.

Seria uma tentativa de criar um Clube da Esquina dos palcos? "Não é uma coisa proposital, que a gente pense: 'Ah, vamos chamar um mineiro'. Acontece."

"Sei que, com o tempo, passei a atrair um público que talvez não viria ao teatro normalmente", diz ela, reconhecendo a ajuda que o colar de pérolas dá. Mas explica que não banca os custos de produção das peças mais do que os outros.

Até porque diz não ganhar tanto dinheiro quanto outros protagonistas do canal. "Não faço muita publicidade. Porque não recebo tanto [convite] assim, não", ri. Os que apareceram recentemente queriam associar a marca à personagem com sanha de vingança, o que a Globo não permite.

"Sou criteriosa. E muitos trabalhos eu tenho preguiça de fazer, como ser mestre de cerimônias e fazer presença em festa. É um sacrifício. É chato."

Mas, se o trabalho envolve atuar, a preguiça se esvai. "Das coisas que fiz em TV, teatro e cinema acho que gosto igual. Não tem nada que não tenha curtido."

Ela, que atuou na primeira versão brasileira de "Chiquititas" aos 19 anos, não sabe se a filha Nina, de quatro anos, gostaria do folhetim mirim. "Acho que não vou deixar ela assistir. Nem sei se ela vai se interessar. Já tinha tanta coisa esquisita na minha época, imagina agora." Mas cogita montar uma peça infantil, que o pai escreveu, e dar vida à princesa de um reino "meio pobre, meio decadente" para que a filha a assista. "Ela vai gostar."

Além das quatro peças (possivelmente cinco) vindouras e de uma volta à Globo no ano que vem, a atriz alimenta um grande plano. "Eu quero fazer meu trabalho e sumir", diz, já se levantando e tiran- do a jaqueta de couro. O colar de pérolas sairia em seguida para Débora Falabella fazer o que faz: transformar-se em outras pessoas.

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