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Serafina

Rebeldia S/A: O que os protestos de junho e o último filme de Sofia Coppola têm em comum?

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É muito comum escutar por aí que "a idade não é cronológica, está na cabeça". Na verdade, seria melhor dizer que está mais na publicidade e menos na cabeça.

A indústria cultural e a da moda perceberam o adolescente como um lucrativo mercado consumidor. E, com técnicas de publicidade, criaram o estilo de vida jovem. Isso aconteceu depois da Segunda Guerra Mundial, que terminou em 1945. Os adolescentes eram consumidores que buscavam ídolos diferentes dos pais "caretas".

Assim, a rebeldia virou produto. O jeans, ícone da contracultura nos anos 1950, foi convertido em mercadoria: em 1976, a US Top Jeans lançou no Brasil a campanha "US Top: seu jeito de viver". A ideia de liberdade, fundamental na contracultura, foi apropriada pela moda e virou jingle da empresa. "Liberdade é uma calça velha, azul e desbotada", dizia o anúncio.

No Brasil, foi a "Jovem Guarda" (programa musical da TV Record apresentado por Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos) que, a partir de 1965, inaugurou o modo de ser adolescente, por meio de comportamentos –e produtos– ligados à música e à moda. O nome do programa acabou ampliando seu significado e virou estilo de música e de moda. Foi também uma empresa, que lançou roupas e acessórios para adolescentes.

Nos nossos dias, dois bons exemplos dessa ligação entre juventude, contracultura, moda e liberdade apareceram em lugares distintos. Um no Brasil, outro em Hollywood: os protestos que eclodiram em junho no país e "Bling Ring: A Gangue de Hollywood", último filme da diretora Sofia Coppola.

Ambos dizem muito sobre os comportamentos tipicamente juvenis: questionamento da autoridade, envolvimento intenso em algo que parece dar sentido à vida e a necessidade de transformar a juventude em imagem.

No caso das manifestações, foi interessante observar as inúmeras fotos em que a meninada aparecia pelas ruas em postura desafiadora, muitas vezes com os rostos cobertos por lenços. Em alguns casos, era uma questão estética, registrada por eles mesmos e divulgada em redes sociais.

Já no filme "Bling Ring", inspirado em um caso real, um grupo de jovens de Los Angeles invadia casas de celebridades hollywoodianas para roubar roupas, joias, sapatos e bolsas de marcas famosas. Sentiam-se rebeldes engajados, pois se arriscavam e até acabaram presos. Mas eram apenas adolescentes enfadados e superficiais que consumiam e cultuavam aparências exibidas nas revistas, internet e TV.

Os closets das mansões invadidas parecem todos iguais: um emaranhado de bugigangas brilhantes simbolizando luxo e moda. Arrombar a casa das estrelas e ter o gosto de experimentar sua vida, vestir suas roupas, dar-se o gosto de pertencer a esse grupo era uma extravagância travestida de contestação a ser postada no Facebook.

Assim como foram postadas e exibidas as imagens dos protestos, comparadas às fotos icônicas das revoltas estudantis de 1968, na França. Vivemos cercados de imagens que representam a juventude, a felicidade, o sucesso. Esses dois exemplos recentes, tão distintos, são, cada um a seu modo, emblemáticos da rebeldia como produto.

Historiadora e pesquisadora de moda, Maíra Zimmermann é autora do livro "Jovem Guarda: Moda, Música e Juventude" e professora da Faap

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