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Serafina

Rappers adolescentes do Vidigal fazem som porradão e interpretam Shakespeare no palco

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Dois cavalheiros de Verona estarão em breve na favela do Vidigal, na zona sul do Rio de Janeiro. Valentino e Proteu são os dois personagens principais da peça que leva o nome da cidade italiana, escrita no século 16 por William Shakespeare. A companhia teatral Nós do Morro, localizada na mesma comunidade e famosa por servir como base para boa parte do elenco do filme "Cidade de Deus", apresenta a sua versão para esta que é considerada uma das primeiras obras do autor inglês.

Fazendo companhia aos cavalheiros, Alice Coelho, 17, Mariana Alves, 16 e Jennifer Loiola, 16, interpretam Julia, Silvia e Lucetta na peça. As três meninas, todas moradoras do Vidigal, são amigas de infância e conheceram-se nas oficinas promovidas pelo Nós do Morro.

Cássia Tabatini
Pérolas Negras
Pérolas Negras

E se na peça interpretam personagens submissas (a comédia é tida como misógina por críticos), fora dela o cenário não podia ser mais diferente. As três formam o grupo de rap Pérolas Negras, que tem o som bem definido por Alice: "É porradão, pesadão", diz. "A base precisa contagiar para a gente dar o papo reto."

De fato, musicas como "Tráfico de Ideias" e "Presidente" não aliviam na crítica social ou na agressividade do discurso, o que não surpreende para o rap, mas causa um pouco de espanto quando sai da boca de garotas adolescentes que ainda usam aparelhos nos dentes.

XOU DA XUXA

"Quando as meninas entravam para fazer os primeiros shows, a galera esperava o Xou da Xuxa", conta Jackie Brown, uma rapper do Vidigal que desenvolve projetos no Nós do Morro e é uma espécie de guru das Pérolas. "Mas aí elas começavam a cantar e geral desacreditava", conta. "Elas realmente se transformam quando sobem no palco."

Não à toa, as garotas chamaram a atenção do produtor inglês David Alexander, que já trabalhou com nomes fortes do hip-hop alternativo americano, como o grupo Yo! Majesty. Ele veio ao Brasil para gravar algumas músicas e um clipe com as Pérolas.

David não sabe muitas coisas sobre o Brasil. Nunca tinha ouvido falar em caipirinha ou feijoada, e achava que São Paulo era uma cidade com praia. Mas uma coisa ele sabe. Adora o som das Pérolas. "Não entendo nada do que elas cantam, mas essa é a beleza da música, a batida delas já me faz querer dançar", diz.

Se o som agrada à primeira impressão, o visual colorido nem sempre fez a alegria da vizinhança. "As pessoas aqui no Vidigal olhavam estranho para a gente quando saíamos na rua", conta Mariana. "Hoje já é diferente, já tem até gente imitando. As vezes, as crianças ficam apontando e gritando: 'Eu sou aquela ali'."

Mas o Vidigal não é só festa para as meninas. Se antes tiroteios por causa do tráfico eram comuns, hoje a atuação da polícia na região é uma das contestações das adolescentes. Todas já tiveram a casa invadida e revistada por policiais. "Por isso que o rap é bom", diz Alice. "Ali eu posso falar coisas que não falaria na cara do policial." Pois é. O Vidigal está cheio de arte e de ingleses, mas ainda não é nenhuma Verona.

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