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Serafina

Indicado ao Oscar de melhor ator, Bruce Dern é um dos favoritos de DiCaprio

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1976. Alfred Hitchcock dirigia o que seria seu último filme, "Trama Macabra", quando  Bruce  Dern, então beirando os 40 anos, colocou sua cadeira ao lado da do diretor. Os dois já haviam trabalhado juntos em "Marnie, Confissões de uma Ladra" (1964) e em alguns programas de TV produzidos pelo mestre do suspense. 

Alguma coisa atormentava Dern, protagonista do filme. E o tormento dele incomodava Hitchcock. "O que você quer,  Bruce?", perguntou o cineasta, conhecido pelo humor peculiar e pela pouca paciência com estrelas. "Senhor Hitchcock", respondeu o ator, meio ansioso. "Gostaria somente de saber uma coisa: por que me escolheu?" 

"Bruce", falou Hitchcock, com a voz gutural e lenta que congelava a espinha do público. "A razão é simples: o senhor Páquino queria US$ 1 milhão para fazer o longa." Confuso por não conhecer seu concorrente, Dern insistiu: "Quem é esse Páquino, senhor Hitchcock?" O diretor explicou na maior naturalidade: "É aquele italianinho de 'O Poderoso Chefão' [Al Pacino]. Recuso-me a pronunciar seu nome sem ser pela fonética. Ele me pediu muito dinheiro." 

Claro que Hitchcock exagerava ""tempos depois, confessou ter escolhido   Bruce  por ser "imprevisível e adorável ao mesmo tempo""", mas o causo é verdadeiro e contado pela vítima do bullying. 

Aos 77 anos, Bruce tem uma memória invejável e é uma Wikipedia ambulante do cinema. Indicado ao Oscar de melhor ator por "Nebraska", de Alexander Payne, diretor vencedor de dois Oscars pelos roteiros de "Os Descendentes" e "Sideways", o pai de Laura Dern ("Veludo Azul")  tem uma história (e conta histórias) que se confunde com a do próprio cinema americano.

Imita Hitchcock para deleite de quem o entrevista e lembra que seu sonho de moleque era trabalhar com Elia Kazan (realizou-o aos 24 anos, com uma ponta não creditada em "Rio Violento"). É um dos melhores amigos de Jack Nicholson. E diz que sua carreira teria sido diferente se não fosse conhecido por ter atirado em John Wayne pelas costas no faroeste "Os Cowboys", de 1972. 

DA PSICOSE AO OSTRACISMO

Foi a partir daí que Bruce passou a ser conhecido como o estereótipo do vilão hollywoodiano, mesmo trabalhando em longas mais sensíveis, como "Amargo Regresso" (1978), de Hal Ashby, pelo qual recebeu a primeira (e única até "Nebraska") indicação ao Oscar, como ator coadjuvante. Mas não guarda boas lembranças da experiência. 

"Ashby tinha a mania de querer fazer 14 tomadas, mas sempre ficava com a primeira. Isso me deixava louco. Lembro de ver Jon Voight batendo a cabeça contra a parede por causa dele."

Apesar de adotado pelos colegas como o ator perfeito para psicóticos, Bruce andou meio esquecido em produções menores. Foi lembrado por Quentin Tarantino em "Django Livre", no qual fez o dono do escravo vivido por Jamie Foxx, mas já perseguia há oito anos o papel que o recolocaria no mapa das grandes atuações. 

Ele se apaixonou pelo velho irascível de "Nebraska" desde que leu o roteiro em 2006. Mandou recados para o diretor Alexander Payne, que respondeu positivamente ""mas que levou quase uma década para colocar o projeto em prática.

"Alexander quis fazer o filme em preto e branco. Uma decisão certa, mas que normalmente não rende muito dinheiro", explica o veterano à  Serafina. "Falei para ele que eu não poderia fazer esse filme a não ser que tivesse um guia segurando minha mão. Eu não queria atuar. Queria ser um estudioso do comportamento humano neste longa." 

E conseguiu. Sua interpretação, quase muda, ganhou o último Festival de Cannes e lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor ator. Concorreu ao Globo de Ouro, estranhamente como "ator cômico", e foi homenageado por Leonardo DiCaprio, vencedor da noite por "O Lobo de Wall Street":

"Se qualquer ator jovem desejar seguir a filmografia de um grande artista, dê uma olhada na carreira de Bruce  Dern". 

Um conselho útil. Mas Dern desdenha das premiações e dá mais dicas. "Eu nunca olho para prêmios. Os jovens atores de hoje em dia só querem uma estrela na calçada da fama e sair pra farra. Nós trabalhamos duro em nossa arte. Jack [Nicholson], quando está em um filme, não importa qual, acorda às 5h para estudar os diálogos. A indústria frita os miolos de certas pessoas." 

Em "Nebraska", Woody (Dern) viaja acompanhado do filho (Will Forte, comediante do "Saturday Night Live") em busca de um suposto prêmio em dinheiro. Na jornada, descobre uma relação que parecia perdida e um país de pessoas simples. "Há um Nebraska em cada país do mundo, um lugar em preto e branco, onde as pessoas perderam as cores. É uma área depressiva, mas ninguém sai de lá, porque há uma ligação mais honesta com a terra."

De certa forma, é assim que   Bruce  encara a própria carreira. Nunca abandonou a paixão pela dramaturgia, mesmo sendo relegado a filmes pouco memoráveis ("O Último Matador", "O Buraco", "Duplo Assalto"). Ao mesmo tempo, nunca ligou o piloto automático, tentando tirar o máximo mesmo de personagens de pouca substância.

"Não gosto de olhar para trás. Poderia ter tido uma carreira melhor, mas sou um maratonista", diz, ao descrever o novo momento entre as estrelas de Hollywood. "Como maratonista, só corro para valer nos metros finais. E, acredite, estou pronto para mais essa corrida."

ASSISTA AO TRAILER DE NEBRASKA

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