Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
Publicidade

Serafina

Bailarina passa por clínica psiquiátrica antes de encontrar seu lugar nos palcos

Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

"Como é possível não repetir seus lugares-comuns?" A questão permeia o trabalho de pesquisa da bailarina e performer baiana Alda Maria Abreu, 29, que chamou a atenção da crítica de dança no final do ano passado com o espetáculo "Androgyne - Sagração do Fogo".

À primeira vista, ela parece uma menina frágil, bonita e com olhos de gata, mas, enquanto fala com segurança sobre seus passos, já revela beiradas de seu corpo andrógino: magro, com musculatura bem delineada e postura de quem está sempre pronta para o ataque.

Em "Androgyne", trabalho dirigido pela coreógrafa Maura Baiocchi, da Taanteatro Companhia, Alda aborda justamente a questão da androginia e do renascimento. Em cena, é possível ver a força de seus movimentos, até daqueles que parecem minúsculos.

Alda cursou artes cênicas na Unicamp, quando já carregava um corpo com a memória de 12 anos de balé clássico, oito de judô e algumas experiências teatrais. Na faculdade, some-se a isso outros três anos de anorexia.

"Não querer estar acima do peso era apenas 10% da situação em si. O grosso mesmo era um estado de depressão profunda. O único lugar em que eu me sentia bem era em cena", diz.

Embora a doença a deixasse extremamente ansiosa, conseguiu se formar. "Chegou um momento em que eu
não dava importância às ações cotidianas que nos mantêm vivos. Só valorizava o estado criativo."

No fim do curso, pediu a ajuda da família. Voltou para Salvador, onde nasceu, passou um mês e meio internada em um hospital comum e uma semana em uma clínica psiquiátrica. Pensou, então: "Já que posso, vou pirar mesmo!"

Junto de outros internos, pintou um enorme painel que dividia a clínica de uma área em obras. "No dia seguinte, o tapume foi derrubado. No outro, tive alta e fui pra casa. Entendi que é necessário olhar com menos pavor para as coisas que a gente sente", afirma.

O solo "Androgyne" rendeu a Alda o prêmio de bailarina revelação pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e o Denilto Gomes, prêmio da Cooperativa Paulista de Dança, na categoria domínio do movimento.

Antes disso, ela criou "Meninas, Corram" (2008), ainda em Salvador. Veio para São Paulo apenas com a ideia de concluir o mestrado, que realizou no Núcleo de Estudos da Subjetividade da PUC, mas acabou entrando para a Taanteatro, onde participou dos espetáculos "Rit.U" (2010), "Máquina Hamlet fisted" (2011) e "Danças (Im)puras" (2012).

O ponto de partida de "Androgyne" é uma questão que a interessava. "Quando alguém vê uma mulher grávida, logo pergunta se é menino ou menina. Esse ser já nasce carregado de sentenças."

O solo, que estreou em setembro de 2013, será reapresentado no Teatro Sérgio Cardoso durante o mês de março. Nele, Alda passa por três metamorfoses, a que chama de "corpo-ovo, corpo-fogo e corpo-cinzas". Há partes nas quais ela dança ao vivo e outras em que vídeos a mostram em paisagens naturais. Nas imagens, seu corpo nu é o figurino, que a mimetiza entre as formas das árvores, numa "ecoperformance".

A peça é representante do chamado "teatro de tensões", método desenvolvido pela companhia dirigida por Maura Baiocchi, no qual o artista é orientado em práticas criativas, conceituais e corporais ao mesmo tempo. Em paralelo ao trabalho de palco, Alda pesquisa autores como Nietzsche, Deleuze, Artaud e Foucault.

"A dança que faço busca novos modos de interação entre corpo, sociedade, cultura e pensamento. Acho fundamental olhar com generosidade para o mundo e minhas inquietações."

Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Envie sua notícia

Siga a folha

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Voltar ao topo da página