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Serafina

Arquiteto italiano cria projetos inspirados em formas da natureza e abre escritório em SP

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Não por acaso, o endereço de Marco Casamonti em São Paulo será na Vila Madalena. O arquiteto italiano finca as bases do seu escritório paulistano em uma casinha típica do bairro, na rua Harmonia, em frente ao Beco do Batman, viela cheia de grafites convertida em galeria a céu aberto.

O nome da rua é inspirador. "Nosso trabalho é criar harmonia", diz o sócio do estúdio Archea, com sede em Florença, onde mora, e escritórios em Pequim, Dubai e Teerã.

O arquiteto de 42 anos, filho de um conhecido mercador de arte florentino, divide-se agora entre São Paulo e a China, onde toca um projeto monumental: a construção da cidade da cerâmica em Liling, região industrial no centro do país. "São 11 prédios, entre eles uma torre de hotel de 100 metros, dois museus, grandes como o Guggenheim de Nova York, e um centro comercial."

Os edifícios têm forma de vasos perfurados para a entrada de luz natural. "É uma pequena cidade que nasce para preservar o conhecimento local da produção de cerâmica desde a Antiguidade", explica Marco. A previsão é de que as obras, iniciadas há quatro anos, sejam concluídas no fim de 2014.

Um dos principais cartões de visitas do italiano é a vinícola Antinori, encravada nas colinas da zona do Chianti, entre Florença e Siena. "A estrutura foi projetada para se confundir com a paisagem da Toscana", diz o arquiteto.

O mimetismo consumiu 120 milhões de euros em um projeto arquitetônico quase todo subterrâneo.

Uma montanha foi escavada para abrigar a fábrica, escritórios, depósitos e até um museu. Foram 37 mil viagens de caminhões para remover 400 mil m3 de terra. Estrutura, ao final, recoberta pelos vinhedos.

As imensas barricas de vinho repousam a 20 metros de profundidade, numa camada que mantém a temperatura de 17°C, ideal para a maturação da bebida, sem necessidade de refrigeração do ambiente. Economia de energia presente também nos espaços internos, iluminados por orifícios espalhados pelo terreno, por onde entra luz natural.

JARDINS SUSPENSOS

Alguns dos princípios da vinícola italiana serão transplantados para Campinas, em uma casa de campo que Marco desenhou para um dos filhos do empresário Mario Garnero. "A residência será toda coberta por um jardim, integrando-se completamente à paisagem maravilhosa daquela região", diz o arquiteto.

Na capital paulista, o italiano planta também um prédio de 15 andares em formato de árvore no Morumbi. Foi contratado pela galerista Jo Slaviero para projetar um condomínio residencial ousado. São apartamentos de 200 m2, metade deles ocupada por uma varanda em forma de jardim suspenso.

Marco traz para São Paulo também o concreto pigmentado das instalações da Antinori, que salta aos olhos na fachada do seu novo escritório. O uso de um material pesado numa casinha de 5 m x 10 m é ainda uma homenagem à tradição arquitetônica do Brasil no século 20. E uma referência aos dois brasileiros que venceram o prêmio Pritzker, o Nobel da arquitetura: Oscar Niemeyer (1907-2012) e Paulo Mendes da Rocha.

"Niemeyer é como Michelangelo. É um personagem maravilhoso na história da arquitetura e é parte da minha história." É, no entanto, crítico quanto à criação símbolo do mestre modernista. "Brasília é uma obra de arte mas também a demonstração da falência da cultura moderna. Foi construída com a ideia de que o carro era a expressão da liberdade, de movimento. Depois de 50 anos, sabemos hoje que é a escravidão. É uma cidade maravilhosa construída sobre uma ideia totalmente errada."

Para falar de Mendes da Rocha, toma emprestado uma definição de Paul Valéry, pensador e poeta francês: a de que existe uma arquitetura que fala e outra que canta. "Na obra dele, se sente a música brasileira. Por isso, é extraordinária."

É a antítese daquela que fez florescer na paisagem da São Paulo os prédios neoclássicos. "Totalmente fake", ele torce o nariz. Ainda assim, ele qualifica São Paulo de "fantástica". "É uma das cidades de que mais gosto no mundo, com sua mistura complexa de horizontal e vertical, de verde e cimento." Cidade de conflitos e trânsito infernal, a capital paulista é também um desafio. "Como tudo na vida, a arquitetura é uma questão de equilíbrio entre o antigo e o moderno, o rural e o urbano, o vertical e o horizontal."

Autor de um dos pavilhões mais elogiados da Rio+20, Marco fez um estudo sobre duas favelas cariocas: Chapéu Mangueira e Babilônia. "Encontrei nestas comunidades uma qualidade de vida superior à da cidade formal, sob alguns aspectos. Como, por exemplo, a vista maravilhosa e uma condição urbana extraordinária, sem a presença de carros."

À parte o esgoto e o lixo a céu aberto, o arquiteto surpreende: "Se tivesse que optar, eu preferiria viver no morro do Chapéu Mangueira do que numa superquadra de Brasília".

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