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Serafina

Ridley Scott estreia seu maior filme em meio a acusações de racismo

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Aos 77 anos, Ridley Scott resolveu encarar um dos maiores desafios de sua carreira: o longa-metragem "Êxodo: Deuses e Reis", um projeto de US$ 150 milhões (quase R$ 400 milhões), com mais de 4.000 figurantes e um ator conhecido por seu temperamento esquentado no papel principal.

Christian Bale ("Batman - O Cavaleiro das Trevas") é Moisés no filme e luta pela libertação dos judeus do Egito. O épico bíblico estreia no dia 25/12.

"Amo a sensação de, neste ponto da carreira, comandar o meu maior filme. Dirigir só é difícil para quem não sabe fazer", diz Ridley, sem sinal de modéstia. Mas como exigir modéstia do criador de "Alien, o Oitavo Passageiro" (1979) e "O Gângster" (2007), entre tantos outros?

A megalomania de "Êxodo: Deuses e Reis", contudo, não impediu que o filme enfrentasse acusações de racismo antes mesmo de sua estreia. Além de Christian Bale como Moisés, o australiano Joel Edgerton ("O Grande Gatsby") faz o papel do faraó Ramsés e o americano Aaron Paul ("Breaking Bad") vive o profeta Josué, todos branquíssimos. Quando questionado sobre isso, ele se irrita. "Arrumem um emprego e uma vida", diz, com o dedo médio em riste. "Estou pouco me lixando."

Talvez seja sua falta de humildade o motor de outra decisão polêmica: fazer uma continuação de seu filme mais cultuado, "Blade Runner, o Caçador de Androides" (1982), com o mesmo Harrison Ford no papel principal. "Todo mundo rouba de 'Blade Runner', por que eu não poderia?", questiona. Também fará mais um filme do universo de "Alien", que teve três sequências, nenhuma dirigida por ele.

Vindo da publicidade, Ridley Scott já era muito bem-sucedido quando estreou no cinema, aos 40 anos, com "Os Duelistas" (1977). E logo de cara levou o prêmio de melhor diretor estreante no Festival de Cannes.

Desde então, fez mais de 20 longas, sem nunca abandonar a publicidade. Foi indicado três vezes ao Oscar, mas ainda não levou o principal prêmio do cinema. Sua nova aposta é um projeto para a TV, a minissérie "The Hot Zone", sobre a epidemia do vírus ebola, ainda em fase de pré-produção.

"Mantenho esse ritmo incansável de trabalho para não dar tempo de nenhum executivo pensar em me demitir", brinca, na primeira de duas entrevistas concedidas à Serafina, em Los Angeles, onde mora.

Scott Council
O diretor de cinema Ridley Scott, que lança o filme "Êxodo: Deuses e Reis", com Christian Bale
O diretor de cinema Ridley Scott, que lança o filme "Êxodo: Deuses e Reis", com Christian Bale

Qual foi a primeira lição que aprendeu trabalhando em Hollywood?
Aprendi cedo a não confiar em roteiros que executivos me passam. O primeiro que me entregaram e de que gostei foi o de "Alien, o Oitavo Passageiro" (1979). A segunda vez em que encontrei um roteiro pronto bom foi com "Êxodo: Deuses e Reis". Fiquei chocado em saber o quão pouco se conhece sobre Moisés e sobre o Egito da época. Achei tudo fascinante, amo criar universos que não são explorados há algum tempo no cinema.

Qual foi a maior surpresa ao pesquisar sobre Moisés?
Ele era muito violento, um soldado de verdade e líder do exército egípcio. Mas precisei misturar com um pouco de ficção para que os personagens respirassem de verdade. Infelizmente, os restos mortais de
Moisés não foram encontrados, mas eu acredito que ele tenha existido, assim como Jesus.

Alguns historiadores apontam disparidades entre o que está escrito na Bíblia e artefatos encontrados no Egito, contestando a existência de Moisés.
Como eles sabem? Estavam lá 5.000 anos atrás? Essa não pode ser a maior farsa da história da humanidade, certo? Nem tudo o que é escrito hoje e divulgado no Google pode ser considerado sacrossanto. Como cineasta, tirei o que precisava para fazer o filme funcionar como um drama épico. Não fiz um documentário.

Já apareceram críticas acusando o filme de ser racista por escalar atores brancos em papéis de egípcios. O que acha disso?
Estou pouco me lixando. Como uma pessoa que viu apenas o trailer fala isso? Há espanhóis, iraquianos e iranianos no elenco. A atriz que faz Nefertari, mulher de Ramsés, é iraniana. O coronel de Moisés é do Iraque. Afinal, qual é a cara de um egípcio? Isso tudo é uma imensa bobagem.

Como mantém o controle no set com 4.000 figurantes?
Tudo é um processo planejado. Eu desenho todos os meus filmes antes de começar, às vezes nas páginas do próprio roteiro. Estudei arte no West Hartlepool College e no Royal College of Art, em Londres, antes de começar a trabalhar com publicidade, então sei o que estou fazendo. E como uso até 11 câmeras, meus filmes são como quebra-cabeças. Se eu ficasse vagando pelos cenários perguntando o que vamos fazer, estaria morto. Ninguém me respeitaria.

E o que você faz com esses desenhos dos filmes?
Estão em um cofre. Eu não sabia que eram valiosos. Soube recentemente, quando doei alguns para a University of Southern California, onde uma das minhas filhas estudou. Agora estou guardando os outros, caso não tenha mais trabalho (risos).

Acha que esse dia vai chegar?
A relação entre público e os blockbusters está se esvaziando e poucos diretores sobrarão. Espero ser um deles. Eu tenho esse ritmo incansável de trabalho exatamente para não dar tempo de nenhum executivo pensar em me demitir.

Não tem um segredo para a longevidade na sua carreira?
Eu acordo cedo, começo logo a trabalhar, mas tiro boas sonecas durante o dia. E meus sets são como casas francesas: você tem comida à disposição o tempo todo. Ah, também terminamos de trabalhar às 18h.

Arrisca alguma explicação para essa onda recente de filmes com temas religiosos?
Há um grande interesse, principalmente fora dos Estados Unidos, por religião. No fundo, acho que todo mundo acredita em algo. Mas "Êxodo" explica também o que há de propaganda política por trás disso, no caso, a aceitação de que o faraó é o representante de Deus na Terra.

Você acredita em algum poder superior?
Minha religião poderia se chamar "naturalmente curioso" (risos). Eu me pergunto todos os dias: "Somos todos apenas bactérias?" Não acho. Quando era pequeno, meus pais me obrigavam a frequentar a Igreja Anglicana, mas eu achava muito chato. Virei coroinha, mas nunca me dediquei. Em vez disso, fui jogar tênis.

Esse filme foi todo feito com câmeras digitais. Por quê?
Adoro câmeras digitais, sou fã de novas tecnologias. Nunca mais volto a trabalhar com película. Amo a rapidez do digital. Posso refazer tudo com apenas um clique.

Dois de seus filmes, "Alien" e "Blade Runner", estão prestes a ganhar continuações. Não tem receio de estragar os clássicos?
Não posso ter medo. Preciso arriscar e questionar. E todo mundo rouba de "Blade Runner", por que não eu? A continuação já está escrita e Harrison Ford amou o roteiro, o que foi um alívio, porque ele é o foco da trama.

Foi fácil voltar ao mundo dos androides de "Blade Runner" mais de 30 anos depois?
Foram 18 meses de trabalho no roteiro para chegar a algo satisfatório, mas só começaremos a filmar em 2016. "Blade Runner", na verdade, é uma história em quadrinhos, no sentido em que há um mocinho e um bandido. Rick Deckard (personagem de Harrison Ford) é como Batman ou Super-Homem.

A moda do cinema são os filmes de super-heróis. Você toparia fazer um?
Moisés é o meu super-herói no momento.

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