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Serafina

Artista e poeta, escocês estampa roupas e 'sequestra' publicidade

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A relevância de Robert Montgomery na arte pop se mede pelo Google. Uma busca pelo poema "The people you love become ghosts inside of you and like this you keep them alive" (as pessoas que você ama se tornam fantasmas dentro de você e assim você as mantêm vivas), de autoria do escocês, traz uma média de 1.830.000 resultados. Se a pesquisa for por imagens, aparecerá tatuado no corpo de jovens.

Pedro Podestá
poeta Punk - Com uma estratégia de guerrilha para divulgar seus poemas visuais, o escocês Robert Montgomery participa da conferência climática da ONU em Paris#serafina91
Com uma estratégia de guerrilha para divulgar seus poemas visuais, o escocês Robert Montgomery foi convidado para participar da conferência climática da ONU neste ano, em Paris

Frases como essa são exibidas por ele em museus e galerias de arte dos cinco continentes, impressas em cartazes, talhadas em madeira, bronze, moldadas em lâmpadas de LED ou incendiadas em happenings.

Também frequentam festivais e eventos badalados, como a Bienal de Veneza (2011), e estampam roupas da grife francesa Each X Other, parceria que rendeu uma mostra na cobiçada vitrine da butique parisiense Colette.

Mestre formado com nota máxima pelo Edinburgh College of Art, na Escócia, Montgomery, 43, teve uma ascensão espetacular para um poeta no cenário internacional da arte contemporânea. E isso ocorreu graças às ruas, onde ele se engajou numa tática de guerrilha para espalhar seus textos, ao mesmo tempo em que atuava como jornalista da revista britânica "Dazed and Confused", da qual é um dos fundadores.

Há dez anos, isso significava vandalizar a publicidade de Londres, cidade onde vive. Com uma pilha de lambe-lambes embaixo do braço, Montgomery saía, à noite, colando seus poemas anônimos sobre propagandas fixadas em pontos de ônibus e bancas de jornal ou presas em muros.

Nos pôsteres pretos, letras brancas gritavam frases contra a guerra no Iraque: "When we are sleeping, aeroplanes carry memories of the horrors we have given our silent consent..." (quando estamos dormindo, aviões carregam as memórias dos horrores que aprovamos em silêncio...). "Minha ideia era dizer que, mesmo que a batalha só chegue até nós por imagens de televisão, inconscientemente pagamos um preço por isso. É um processo cármico", diz o artista.

*

O SEQUESTRO DA PUBLICIDADE

Em seu ritual, repetido em metrópoles como Berlim, Nova York e Paris, Montgomery confirmou a possibilidade de "democratizar" suas criações.

"Descobri uma audiência de trabalhadores, que não vai aos museus ou estuda poesia, muito educada e interessada. Saindo dos bares, as pessoas paravam para ler. Algumas vinham conversar comigo para entender o que era aquilo. Outras queriam me abraçar. Ganhei muito abraço de bêbado", lembra, rindo.

Por trás de sua estratégia de "sequestrar" a publicidade está a obsessão de Montgomery pela Internacional Situacionista, manifesto político e artístico de esquerda que incendiou Paris na década de 1960 com sua arte revolucionária. "A ideia do [escritor francês] Guy Debord sobre uma sociedade do espetáculo, onde estamos cercados por imagens criadas para nos vender coisas, é coerente com a era que vivemos hoje."

Na arte contemporânea, o escocês é herdeiro de artistas como os norte-americanos Lawrence Weiner e Jenny Holzer.

Além de trabalharem com palavras, ambos ocupam o espaço público, por meio de interferências em outdoors, muros e vitrines, assim como faz Montgomery.

Efêmeras como os grafites e as pichações, suas intervenções encontraram a mídia ideal para se perpetuarem: a internet. "Meu trabalhou viajou o mundo graças às redes sociais, que dão uma nova vida para as questões situacionistas", diz.

Meses após seus primeiros "ataques", as "timelines" foram tomadas por uma avalanche de imagens de seus pôsteres, e os jornais ingleses passaram a questionar quem estava vandalizando a publicidade para fazer antipropaganda ou vender temas pacifistas.

Tempos depois, ele foi descoberto pelos jovens do movimento Occupy London, que transformaram suas mensagens num mantra anticapitalista.

Das aventuras ilegais, Montgomery passou a intervenções comissionadas em lugares como Berlim, Los Angeles e Seattle. Também enveredou por outros formatos. "Penso nos poemas como base e os articulo de diferentes maneiras. Trabalho a poesia como arte", explica. Assim nasceram as séries "Recycled Sunlight Pieces", murais de lâmpadas de LED, e os grandiosos "Fire Poems", performances nas quais suas frases são queimadas, como em cerimônias antigas.

Questões ecológicas e o consumismo também o perturbam. Sua mais recente exposição, encerrada neste domingo (27) em Paris, faz parte da programação oficial da COP21 (21ª Conferência do Clima da ONU), que ocorre na capital francesa até 11 de dezembro.

Seu objeto preferido, no entanto, são as cidades, "esculturas mágicas construídas para nos acolher". Em homenagem a elas, nasceu outro de seus hits virtuais: "Whenever you see the sun reflected in the window of a building it is an angel" (Sempre que você vê o sol refletido na janela de um edifício é um anjo").

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