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Serafina

Grávida, escritora alemã que pegou malária no Brasil não vem à Flip

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Quando o médico de um hospital do Rio disse "malária", a primeira imagem que veio à mente da escritora alemã Carmen Stephan, 41, foi a do mosquito que a havia picado. Não uma fêmea de Anopheles qualquer, mas aquela que "havia cometido esse 'crime' e tinha uma ligação direta comigo, de sangue".

Radicada em Genebra desde 2014 por causa do trabalho do marido, Carmen já morou na sua Baviera natal, em Madri e em Dublin, mas diz, em desinibido português: "Não sei explicar direito, mas me sinto em casa no Brasil".

Ela esteve no país pela primeira vez em 2002. Era repórter do jornal "Süddeutsche Zeitung", de Munique, e veio entrevistar Oscar Niemeyer (1907-2012), de quem era admiradora. Terminada a entrevista, pediu um estágio no escritório e acabou acompanhando por dois meses o trabalho do sobrinho do arquiteto, João Niemeyer. E foi ficando, alternando entre Brasil e Alemanha pelos três anos seguintes. Nesse período aconteceu o episódio que mais tarde viraria livro.

Jonas Unger/Divulgação
A escritora alemã Carmen Stephan, autora do romance "Mal Aria", em Santa Teresa, no Rio
A escritora alemã Carmen Stephan, autora do romance "Mal Aria", em Santa Teresa, no Rio

No caminho de volta de uma viagem à Amazônia, Carmen começou a passar mal assim que chegou à Bahia. "Minha cabeça explodia de dor, eu suava de febre e depois vinham os calafrios. Meu corpo nunca havia passado por algo tão forte." Na época, o Brasil passava por uma outra epidemia de dengue. Ela ouviu que tinha essa doença e ficaria bem em uma semana em vários prontos-socorros, até que descobriu o que tinha de verdade. "O médico que percebeu ser malária, talvez o décimo que me examinava, foi o primeiro a me tocar, ver quais órgãos estavam inchados. Naquela altura, eu pensava que pudesse morrer."

Dessa experiência surgiria em 2012 o romance "Mal Aria", em que ela descreve os longos 13 dias desde os primeiros sintomas até o diagnóstico da doença. Mas a história é contada pelo ponto de vista do mosquito que a picou, o mesmo cuja figura lhe veio à cabeça no hospital. "Quis transcender para demonstrar a força da natureza."

No início, o narrador busca mostrar superioridade sobre a vítima: "Vocês nos chamam de praga, como invasores de seu mundo. Já imaginaram que poderia ser o inverso? ("¦) Vocês é que são os invasores no nosso mundo."

O mosquito, então, toma a inusitada decisão de seguir viagem com a Carmen do livro. À medida que ela piora, o inseto vai se humanizando e se angustia em não poder falar enquanto testemunha os seguidos diagnósticos errados que ela recebe dos médicos.

Os mosquitos brasileiros voltaram a cruzar o caminho da alemã. Grávida de seis meses do terceiro filho, ela vê o Brasil às voltas com o mesmo Aedes aegypti da dengue, mas agora temido por ser o vetor do vírus da zika, associado a um surto de microcefalia em bebês.

A escritora seria convidada da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) para divulgar "Mal Aria", que teria sua primeira edição em português pela Cosac Naify –mas a editora foi extinta no ano passado. A feira literária acontece entre os dias 29/6 e 3/7, quando ela já estará com oito meses de gravidez.

"O zika é uma ameaça concreta, mas queria muito ir à Flip. Não poderia pegar um voo tão longo [por causa da gravidez adiantada] e sei como é fácil ser picada por um mosquito. Sei o que pode acontecer."

Antes de "Mal Aria", premiado na Alemanha, ela escrevera "Brasilia Stories" (2005), inspirado na experiência com Oscar e João Niemeyer e na relação dos habitantes da capital com a cidade. E seu próximo romance também tem a ver com o Brasil, mas a autora revela apenas se tratar de "um drama vivido por um personagem real".

Desde que voltou à Europa, Carmen costuma passar temporadas de ao menos um mês por ano no Brasil, em visita a amigos e fazendo reportagens para veículos alemães. A última viagem foi em agosto de 2015, quando a incidência da microcefalia acima do normal no Nordeste começava a ser registrada.

Com zika ou sem, ela diz querer voltar ao Brasil "o mais rápido possível", com o marido e os filhos –uma menina de nove; um menino de 1 ano e 4 meses e o bebê por nascer. E não descarta, um dia, mudar de vez. Afinal, Carmen Stephan se sente em casa mesmo no Brasil.

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