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26/05/2012 - 07h55

HÁ 20 ANOS: Preços tornam mais difícil a comercialização de produtos 'verdes'

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DANILO JANÚNCIO
DE SÃO PAULO

Folha, 26.mai.1992 - A realização da Eco-92 no Rio de Janeiro parece ter despertado a consciência ecológica e a boa-fé dos consumidores brasileiros, mas ainda não sensibilizou o bolso da maioria deles.

Nos EUA, o "green market" (mercado verde) enfrenta dificuldades em relação ao boom de vendas ocorrido em 1990. No Brasil, onde não é comercializado volume suficiente para caracterizar um mercado "verde", a recessão atinge os chamados produtos "amigos da natureza".

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Segundo o "The Wall Street Journal", pesquisas mostram que a disposição dos consumidores de pagarem de 7% a 20% a mais por linhas de produtos "ecológicos" já não batem com os resultados das caixas registradoras de grandes redes varejistas.

Luciana Whitaker - 22.mai.1992/Folhapress
Fachada do EcoMercado, que funciona no bairro de Botafogo, na zona sul do Rio
Fachada do EcoMercado, em Botafogo, na zona sul do Rio

Como ocorre por aqui, para a maioria dos norte-americanos, o preço tem sido também o principal obstáculo na hora da compra.

Dos quatro itens de limpeza batizados de Opção Verde lançados pela Atlantis, em agosto de 1991, apenas o lava-roupas líquido conquistou participação expressiva, de cerca de 20% do mercado. Motivo: custa mais barato do que os concorrentes na categoria.

Os restantes, vendidos por preços 20% ou 30% superiores aos convencionais, enfrentam uma batalha de ofertas de concorrentes. A empresa agora corre atrás do seu público-alvo e está concentrando a distribuição nas redes de supermercados frequentados por jovens e com formação universitária, sensíveis ao apelo ecológico.

Seis meses após a inauguração, o EcoMercado, em Botafogo (zona sul do Rio), tem conseguido incrementar seu faturamento graças à rotatividade de itens de menor valor unitário. Se não fossem as diferenças de preços existentes, revelam os donos, a loja poderia faturar mais. Um pacote de biscoito natural custa 20% a mais do que um industrializado. Um bloco de papel reciclado sai 15% a mais do que o convencional. Em alguns itens a diferença pode ser o dobro do similar tradicional.

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BRASIL

A Polícia Federal abriu ontem inquérito para apurar as denúncias feitas por Pedro Collor de Mello contra o empresário Paulo César Farias. O delegado Paulo Fernandes da Costa Lacerda foi designado para presidir o inquérito.

O presidente Collor se dispôs a depor no caso, e o secretário da Polícia Federal, Romeu Tuma, determinou que se apure tudo "com transparência e o mais rápido possível".

Em carta à nação divulgada ontem, Collor afirmou estar "profundamente chocado" com as "declarações insensatas e falsas" de seu irmão. Nela, afirma também que sua condição de presidente sempre esteve acima de amizades, interesses ou parentesco. "As instituições são mais importantes que a minha pessoa, que meus parentes, que minha dor", conclui.

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ECONOMIA

A Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) anunciou ontem um pacote de demissões na qual dispensou 2.800 funcionários. Há três dias, a empresa deu licença remunerada a todos os funcionários até o próximo dia 4.

De acordo com a estatal, as demissões se tornaram necessárias para ajustar a empresa à redução de 50% do mercado nos últimos dois anos. Devem ser dispensados 30% dos 8.200 empregados.

A direção da Embraer prevê faturamento entre US$ 400 milhões e US$ 500 milhões em 1992. Sua dívida acumulada está estimada em US$ 800 milhões. Com as dispensas, a empresa economizaria US$ 40 milhões.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos entrou com pedido de liminar na Justiça pedindo a suspensão das demissões.

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CULTURA

O arquiteto Marcelo Carvalho Ferraz lança hoje, no Masp, o livro "Arquitetura Rural na Serra da Mantiqueira", que traz 108 fotografias que fazem parte de uma pesquisa realizada em 1984, quando ele coletava material para a exposição "Caipiras, Capiaus: Pau a pique", dirigida pela arquiteta Lina Bo Bardi.

Nascido em Carmos de Minas (MG), em 1955, Ferraz mudou-se para São Paulo em 1972, onde foi estudar na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo). Doze anos depois, voltou para o interior para registrar o que ele chama de "riqueza arquitetônica específica": "um mundo em que cada solução criada pelo homem revela a presença constante da poesia."

Mas o que torna a arquitetura da roça especial? Segundo Ferraz, a simplicidade. O que torna especial as casinhas brancas de barro caiado que ilustram o livro é exatamente o fato de não haver nada de especial a respeito delas.

"Ali está a nossa casa, simples, sem voltas, sem retórica", escreve arquiteta Lina Bo Bardi na apresentação do livro. "Arquitetura Rural na Serra da Mantiqueira" marca a estreia editorial do Instituto Quadrante, entidade criada com intuito de "difundir cultura".

Marcelo Carvalho Ferraz/Divulgação
Foto do livro "Arquitetura Rural na Serra da Mantiqueira", do arquiteto Marcelo Carvalho Ferraz
Foto que integra o livro "Arquitetura Rural na Serra da Mantiqueira", do arquiteto mineiro Marcelo Carvalho Ferraz

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ESPORTE

O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e as confederações de esportes olímpicos receberam ordem para cortar atletas da delegação que disputará a Olimpíada de Barcelona. Os cortes deixarão de fora atletas que conseguiram índices técnicos.

Os esportes de índice técnico, rotulados de "sem cota fixa", são atletismo, judô, levantamento de peso, natação, remo, canoagem, nado sincronizado, saltos ornamentais, tiro com arco e vela.

Os cortes mais prováveis deverão atingir o atletismo. Há 21 vagas e 21 atletas com índices. Só que mais atletas podem alcançar índices até os Jogos. Nesse caso, deverão viajar os donos dos melhores resultados.

De acordo com o presidente do COB, André Richer, os cortes são causados pela falta de acomodação na Vila Olímpica de Barcelona. Richer disse que proporá aos organizadores a instalação de atletas fora da vila.

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FRASE

"O Partido Comunista é o mais virtuoso dos PCs que conheci"

DELFIM NETTO,
deputado federal pelo PDS-SP, sobre as denúncias de Pedro Collor contra o empresário Paulo César Farias

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Leia mais no Acervo Folha

Poucos dias antes do início da Eco-92, o chefe xavante José Luiz Tseritá, 49, ensinou um pouco da "pedagogia" indígena. Ele esteve no Rio para participar do Parlamento da Terra e decidiu mostrar sua experiência em palestra no Centro Avatar, em Botafogo (zona sul do Rio). Segundo o chefe, os adolescentes das grandes cidades não têm educação, acham que sabem tudo e não respeitam os mais velhos --tudo muito diferente dos jovens xavantes.

A técnica xavante de produzir adultos menos problemáticos e mais produtivos só vale para meninos. A partir dos 11 anos, eles são retirados das casas dos pais e entregues a seus padrinhos, com quem ficam até os 16, 17 anos. Esses "tutores" são escolhidos pelos pais e devem ter mais de 25 anos.

Dos 11 aos 17 anos, os jovens aprendem a fazer artesanato, a cantar, dançar e caçar. Através de seus padrinhos, aprendem tudo sobre a tradição do povo e histórias. Durante esses anos, os jovens não podem falar com seus pais. Passado o aprendizado, os jovens são devolvidos aos pais em meio a uma grande festa, prontos para a vida ativa na comunidade.

 

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