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14/06/2012 - 07h16

HÁ 20 ANOS: Acuado, Bush volta a criticar pacto para preservação de espécies da Eco-92

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JEFFERSON CORREDOR
DO BANCO DE DADOS

Folha, 14.jun.1992 - O presidente dos EUA, George W. Bush, voltou ontem a criticar duramente a Convenção sobre a Biodiversidade, texto que pretende proteger as espécies do planeta. Enquanto o Japão anunciava investimentos de mais de US$ 7 bilhões em projetos ambientais, os EUA reafirmavam sua posição isolada de não assinar o documento.

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"Eu acredito que, em biodiversidade, é importante proteger nossos direitos, nossos direitos nos negócios. Eu acho que a biotecnologia americana pode ajudar os outros, mas não se um produto desenvolvido for tomado ou se o incentivo para a inovação, o incentivo para lucrar pela sua pesquisa, é retirado", disse Bush.

As declarações do presidente norte-americano foram feitas durante a única entrevista coletiva formal que concedeu na sua visita de aproximadamente 40 horas ao Rio. Nos 30 minutos em que recebeu repórteres em uma sala do hotel Sheraton, onde ficou hospedado, Bush voltou a adotar uma atitude defensiva.

Acuado, citou inúmeras vezes que os EUA não se sentem isolados. "Eu reafirmo que nós temos o melhor desempenho do mundo em meio ambiente. Nós somos os líderes, não os seguidores."

A posição norte-americana na Eco-92 foi a mais intransigente de todas. Os EUA não assinaram a Convenção sobre a Diversidade e ficaram totalmente fora do comprometimento financeiro de destinar 0,7% de seu PIB para projetos ambientais.

Luciana Whitaker - 13.jun.1992/Folhapress
O presidente George Bush durante entrevista no hotel Sheraton, em seu último dia de visita ao Rio de Janeiro
O presidente George Bush, durante entrevista no hotel Sheraton, em seu último dia de visita ao Rio de Janeiro

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BRASIL

O governo federal ensaiou no Rio de Janeiro a estratégia com que pretende manter o presidente Fernando Collor de Mello fora do alcance das denúncias de supostas irregularidades na sua campanha eleitoral.

A versão divulgada por seus assessores é a de que Collor não sabia a origem do dinheiro usado na campanha eleitoral de 1989 nem tinha ciência de como a quantia foi gasta. "O presidente não tinha conhecimento disto. Ele está acima disso tudo e, por isso, não tem que ficar preocupado. Ele não sentava para fazer continhas", disse o secretário-geral da Presidência da República, Marcos Coimbra.

Coimbra chegou a colocar em dúvida a seriedade da CPI, que investiga as denúncias de que PC Farias, ex-tesoureiro da campanha do presidente, teria praticado tráfico de influência. Comparou o depoimento de Pedro Collor de Mello, irmão do presidente, realizado no dia 4 de junho, a "um bom circo".

No mesmo dia, o presidente Collor caminhou pelos pavilhões do Riocentro dando gargalhadas. Durante sua permanência no Rio, essa foi a única vez em que ele não usou o acesso reservado a seu gabinete.

Collor refugiou-se na semana passada em uma agenda de encontros com chefes de Estado e de governo convidados para a Eco-92. Aos seus assessores diretos, ele demonstrou desinteresse pelas denúncias feitas por PC Farias à CPI do Congresso.

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MUNDO

A Eco-92 não trouxe resultados muito concretos na área ambiental. Mas o evento foi emblemático e marcou o ensaio mais sério do Japão na rota de uma nova posição geopolítica. Os japoneses anunciaram ontem que vão destinar mais de US$ 7 bilhões para projetos ambientais ao longo dos próximos cinco anos.

É a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que o Japão assume uma posição internacional de relevância oposta à adotada pelos EUA. "Nós não temos a intenção de dizer que queremos ser os líderes (na área ambiental). O mundo deve avaliar, sim, as ações", disse o porta-voz da delegação japonesa, Sadaaki Numata, ao fazer o anúncio.

Os US$ 7,7 bilhões representam um aumento de 50% na ajuda que o Japão destina a países em desenvolvimento, segundo Numata. A cifra já era comentada há algum tempo, mas só ontem foi confirmada no discurso do primeiro-ministro Kiichi Miyazawa.

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ESPORTE

Luiz Novaes - mai.1992/Folhapress
O piloto Ayrton Senna, durante treinos do GP do Brasil
O piloto Ayrton Senna, durante os treinos do GP do Brasil

Ayrton Senna aposta na largada para ter alguma chance de vencer hoje o GP do Canadá, sétima etapa do Mundial de F-1 deste ano. O brasileiro, pela primeira vez neste ano, larga na pole position.

Ele conseguiu a posição com o tempo do treino de sexta-feira, 1min19s, quando atingiu média de 199,912 km/h. "Se eu conseguir manter a liderança na primeira curva, a corrida vai ser excitante. Se não, talvez seja uma prova aborrecida", falou o piloto.

Senna diz isso porque ontem apenas 11 dos 26 pilotos que largam conseguiram melhorar suas marcas do primeiro treino, por causa das chuvas durante a madrugada antes da disputa por colocações. Nigel Mansell, líder do Mundial e dono das seis primeiras poles do ano, um foi um deles. De manhã, no treino livre, fez 1min19s632, tempo que seria suficiente para largar na ponta.

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CULTURA

Muito antes de conceitos como biodiversidade, desenvolvimento sustentável e ecologia caírem na boca do povo graças à Eco-92, índios da Amazônia já os colocavam em prática sem fazer alarde.

Uma exposição no Paço Imperial do Rio está mostrando a "Ciência Kayapó", os métodos de convívio com o ambiente que os pesquisadores acham que podem ser "Alternativas Contra a Destruição", o subtítulo da mostra.

Ecologia, antes de ser uma palavra de moda que engloba tanta coisa que perdeu seu sentido, é o estudo da relação entre os seres vivos e seu ambiente. E os índios caiapós, já faz tempo, vêm surpreendendo os cientistas pela capacidade de adaptação à floresta tropical.

Áreas que os biólogos acreditavam ser naturais revelaram ter sido modeladas pelos índios, que também combatem pragas através de insetos e mantém controle da acidez do solo com cinzas.

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FRASE

"Uma importante espécie corre o risco de desaparecer: o homem"

FIDEL CASTRO
presidente de Cuba, na Eco-92

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O presidente Collor recebeu 114 convidados, entre chefes de Estado e representantes da ONU, para um banquete no Riocentro, ao final da Eco-92. Os pratos, escolhidos de modo a agradar também vegetarianos e muçulmanos, foram vigiados de perto pela Polícia Federal. Para evitar melindres, o cerimonial do Itamaraty "dividiu" a mesa em oito partes, criando oito cabeceiras.

 

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