Brasil está entre países que mais perdem dinheiro com mudanças climáticas

Prejuízo anual devido a eventos como tempestades e inundações no país chega a R$ 6,4 bilhões

Homem carrega água em área atingida pelo furacão Maria, em Porto Rico

Homem carrega água em área atingida pelo furacão Maria, em Porto Rico Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Katowice (Polônia)

O Brasil está entre os 18 países com mais perdas econômicas decorrentes de desastres climáticos. O ranking foi apresentado nesta terça (4) na COP-24 do Clima pela organização alemã Germanwatch, que reúne dados climáticos e socioeconômicos de 181 países. 

Embora no ranking geral o país figure longe do topo dos mais vulneráveis ao clima, aparecendo na 79ª posição em 2017 e na 90ª posição na média de 1998 para cá, o Brasil alcança a 18ª posição no ranking dos que mais perdem economicamente com as mudanças climáticas. 

As perdas anuais passam de US$ 1,7 bilhão (R$ 6,4 bilhões) ao ano devido a eventos extremos como tempestades e inundações, na média dos últimos vinte anos.

O ranking contabiliza os prejuízos diretamente causados por desastres climáticos —tempestades, inundações, ciclones, furacões, ondas de calor etc— incluindo mortes e perdas econômicas, respectivamente comparados com o tamanho da população e o PIB cada país. 

Com isso, o cálculo considera não só a exposição geográfica a fenômenos extremos, mas também a capacidade de resposta a eles. “As mudanças climáticas se manifestam localmente de formas muito diferentes e o preparo de cada país para antecipar a ocorrência dos fenômenos e responder a eles faz a diferença no ranking”, conta à Folha o principal autor do estudo, David Eckstein. 

“Não é do interesse do próprio país negar que as mudanças climáticas estão acontecendo. Se ignorar os fatos, Brasil pode ficar mais vulnerável”, afirma Eckstein. “Embora os países mais pobres sofram mais por não terem condições de se preparar para os fenômenos e para se recuperar deles, países que ignoram as mudanças climáticas também podem ter altos prejuízos, como os Estados Unidos tiveram”. Apenas os furacões que atingiram a costa leste do país em 2017 causaram um prejuízo recorde de U$S 200 bilhões (R$ 760 bilhões).

A situação pode ser mais grave para o Brasil do que o ranking sugere, segundo Eckstein. Ele diz que os países africanos e o Brasil estão sub-representados, pois o ranking só calcula perdas diretas e não inclui fenômenos como a seca, que implica prejuízos indiretos, como no abastecimento de água e na agricultura. 

Para o climatologista do Inpe (Instituto  Nacional de Pesquisas Espaciais) e um dos colaboradores do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, Carlos Nobre, os extremos climáticos se acentuaram muito no Brasil nos últimos doze anos. 

Ele contabiliza três secas que bateram recordes históricos na Amazônia nos anos de 2005, 2010 e 2015. A região também sofreu com inundações mais intensas em 2009 e 2012. Já o Nordeste, ainda segundo Nobre, viveu o pior ciclo de chuvas da História entre 2012 e 2017, desde que as medições se iniciaram, no final do século 19. 

O Sudeste também viveu a pior seca do registro histórico em 2014. No mesmo período, Brasília também viveu sua seca mais grave, em 2016.

“A seca afeta a macroeconomia: o agronegócio, a segurança alimentar, o abastecimento hídrico e geração de energia elétrica”, lista Nobre. “Mas o que causa mais mortes é o excesso de chuvas, com deslizes de terra e inundações”. Esses desastres causam cerca de 145 mortes por ano no Brasil, segundo o ranking.

No topo do ranking de 2017 estão Porto Rico, Sri Lanka e Dominica.

Porto Rico e Dominica foram afetados pela temporada de furacões no Atlântico. Já o Sri Lanka, pelas monções. Dos 30 países mais vulneráveis a desastres em 2017, dez foram afetados por ciclones tropicais, incluindo os EUA. 

No entanto, a maioria dos mais vulneráveis são considerados países em desenvolvimento. Haiti, Filipinas e Paquistão são os países mais presentes no topo do ranking anuais e também na média dos últimos vinte anos.

O relatório menciona estudos recentes que apontam clara relação entre as mudanças climáticas causadas pelo aumento das emissões de gases-estufa e os recordes na intensidade dos furacões de 2017. Os estudos também sugerem que o número de ciclones tropicais severos deve crescer conforme o aumento da temperatura média global. 

Entre as sugestões de políticas que podem ser adotadas para lidar com os eventos extremos, o relatório traz o exemplo dos seguros regionais: um fundo criado por países em regiões vulneráveis já colhe contribuições de cada nação para casos de emergência. Reunidos no fundo, os países do Caribe e da América Central providenciaram U$S 19 bilhões para a ilha de Dominica apenas 14 dias após a ocorrência do furacão Maria.

Na COP-24, negocia-se como operar compensações por perdas e danos e como financiar a adaptação aos efeitos das mudanças do clima nos países em desenvolvimento.


Países que mais sofreram com desastres climáticos  em 2017

  1. Porto Rico
  2. Sri Lanka
  3. Dominica
  4. Nepal
  5. Peru
  6. Vietnã
  7. Madagáscar
  8. Serra Leoa
  9. Bangladesh
  10. Tailândia


79º é o ranking atual do Brasil

11.500 pessoas
morreram por causa de eventos climáticos extremos ao todo em 2017

US$ 375 bi
é o total  aproximado  de prejuízos  econômicos (calculado  em paridade de poder de compra, PPP). 
Por isso, 2017 foi o ano com as maiores  perdas relacionadas ao clima já registradas 

A jornalista viajou a convite da ONG Bread for the World

Erramos: o texto foi alterado

São 145 as mortes anuais no Brasil decorrentes de mudanças climáticas, e não 145 mil como dizia a reportagem. O texto também afirmava que o Sri Lanka sofreu com furacões, mas o correto são monções.

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