Danos ao meio ambiente provocam 1 em cada 4 mortes prematuras, diz ONU

Secas, fortes tempestades, poluição, falta de água e uso excessivo de antibióticos estão entre as causas

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Patrick Galey
Nairóbi | AFP

Uma em cada quatro mortes prematuras e por doenças no mundo estão relacionadas com a poluição e outros danos ao meio ambiente provocados pelo homem, alerta a ONU em um relatório sobre o estado do planeta.

A publicação do informe acontece durante a Assembleia Geral do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que acontece em Nairóbi. 

A poluição atmosférica, os produtos químicos que afetam a água potável e a destruição acelerada dos ecossistemas vitais para bilhões de pessoas estão provocando uma espécie de epidemia mundial, segundo o texto, que adverte ainda para os efeitos negativos sobre a economia.

O relatório, que em inglês tem o título Global Environment Outlook (GEO) e contou com a participação de 250 cientistas de 70 países durante seis anos, destaca ainda uma brecha crescente entre países ricos e pobres: o consumo excessivo, a poluição e desperdício de alimentos no hemisfério Norte precipitam a fome, a pobreza e as doenças no Sul.

Ao mesmo tempo que aumentam as emissões de gases que provocam o efeito estufa e, em consequência, o aquecimento do planeta, os desastres climáticos como as secas e fortes tempestades devem aprofundar a vulnerabilidade de bilhões de pessoas.

O Acordo de Paris de 2015 aspira limitar o aquecimento global a um aumento de 2 ºC, e se possível de 1,5 ºC, na comparação com a era pré-industrial.

Mas não existe nenhum acordo internacional equivalente sobre o meio ambiente e os impactos sobre a saúde da poluição, do desmatamento e de uma cadeia alimentar industrializada são menos conhecidos.

Nove milhões de mortos

O relatório GEO, que utiliza centenas de fontes de dados para calcular o impacto do meio ambiente sobre uma centena de doenças, compila uma série de emergências de saúde relacionadas com poluições de todo tipo.

As condições ambientais "medíocres" são responsáveis por "quase 25% das mortes e doenças no mundo", afirma o documento, que calcula em 9 milhões o número de mortes em 2015.

Em consequência da falta de acesso à água potável, 1,4 milhão de pessoas morrem a cada ano de enfermidades que poderiam ser evitadas como diarreia e parasitas relacionados com a água contaminada.

Os produtos químicos despejados no mar prejudicam a saúde de "potencialmente várias gerações" e 3,2 bilhões de pessoas vivem em terras degradadas pela agricultura intensiva ou o desmatamento.

O relatório calcula que a poluição atmosférica provoca entre 6 e 7 milhões de mortes prematuras por ano.

Além disso, o uso excessivo de antibióticos na produção alimentar acarreta o risco de provocar o nascimento de bactérias resistentes, que poderiam se tornar a principal causa de morte prematura em meados do século. 

Crescimento em xeque

"São necessárias ações urgentes e de uma envergadura sem precedentes para frear e inverter a situação", afirma o resumo que acompanha o relatório.

Sem uma reorganização da economia mundial para uma produção mais sustentável, o conceito de crescimento poderia não fazer nenhum sentido ante as mortes e os custos dos tratamentos de saúde, afirmam os autores.

"A mensagem central é que com um planeta saudável se contribui não apenas para o crescimento mundial, mas também beneficia os mais pobres que dependem de ar puro e de água limpa", afirmou Joyeeta Gupta, copresidente do GEO.

"Ao contrário, um sistema em má condição de saúde provoca danos imensos nas vidas humanas".

O relatório aponta, no entanto, que a situação não é irremediável e pede, sobretudo, a redução das emissões de CO2 e do uso de pesticidas.

O desperdício de alimentos também deve ser reduzido: o mundo joga no lixo um terço da comida produzida (56% nos países mais ricos).

"Em 2050 teremos que alimentar 10 bilhões de pessoas, mas isto não quer dizer que devemos dobrar a produção", insistiu Gupta, defendendo, por exemplo, a redução do gado.

"Isto levaria a uma mudança do modo de vida", reconheceu.

De acordo com fontes próximas às negociações, alguns países ricos, Estados Unidos à frente, ameaçam não receber favoravelmente o relatório, um sinal ruim para um futuro acordo sobre a redução do desperdício de alimentos, o consumo excessivo e a poluição.

Porém, ricos ou pobres, todos os países deverão adaptar-se à realidade de seu meio ambiente, destaca Gupta. 

"A água doce supõe mais ou menos (um volume) fixo", cita como exemplo. "No fim das contas será necessário compartilhar. Este é um discurso que não agrada muitos países desenvolvidos". 

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