Famílias com malas em frente a prédios evacuados, casas inundadas, móveis estragados jogados pelas ruas, lojas doando alimentos para vizinhos. Esse era o cenário do bairro do Ipiranga, na zona sul de São Paulo, na tarde desta segunda (11), após as chuvas que atingiram a região.
Ao menos dois prédios foram evacuados por causa dos estragos causados pelas enchentes.
Um deles, de classe média alta, fica na rua Cônego Januário. Moradores contam que um duto de gás e outro de água se romperam nos fundos do edifício. A água vazada passou por baixo do muro que cedeu e inundou a garagem.
“Os carros estão submersos. A Defesa Civil disse que não podemos mexer em nada”, conta a pedagoga Karina Favarão, 40, moradora do lugar, que tem em torno de 170 unidades.
A empresária Daniela Frias, 41, perdeu dois carros. “Moro aqui há 9 anos e nunca vi situação parecida. Não choveu tanto para isso”, diz ela, que seguiu com a família para um hotel.
A poucas quadras dali, na rua do Manifesto, vive Marcelo Frias, pai de Daniela. O prédio dele, com mais de 300 apartamentos, também teve de ser evacuado. O motivo não é claro. Ele suspeita, pelo cheiro de gasolina que sentiu nas últimas horas, que tenha sido motivado por vazamento de combustível do posto ao lado. Vão cortar energia, água e gás, diz.
A garagem do edifício inundou. Ele, contudo, teve mais sorte que a filha e conseguiu tirar o veículo do subsolo antes da enchente. “Comprei o apartamento tem um mês. Acho que foi só uma medida de precaução e que a água não afetou a estrutura do prédio”, afirma.
A autônoma Solange Soeiro, 52, ouviu que a rede de água do prédio pode ter sido contaminada com esgoto e que essa seria uma das razões para a interdição.
Ela perdeu carro e moto. Saiu do prédio com o filho, mas deixou dois gatos. “O faxineiro vai ficar de olho neles para mim. Não dá para levá-los no metrô”, conta ela, que ficará na casa da irmã em Higienópolis.
Nos arredores dos prédios, muita lama nas ruas, famílias tirando água dos imóveis com rodo e panos, móveis quebrados jogados na calçada e carros transitando em velocidade reduzida.
O autônomo Daniel de Angelo, 22, ajudava a mãe a tirar toda a água que invadiu a sua casa e chegou até a metade do muro. Perderam quase todos os móveis, eletrodomésticos e alimentos. O que restou foi colocado em um quartinho no segundo andar.
“Estou triste e com raiva. Mas teve gente que enfrentou coisa pior. Ouvi que uma moça morreu afogada na região”, diz.
A situação desoladora no bairro mobilizou moradores a recolher doações e oferecer alimentos para quem foi afetado pela enchente.
A cabeleireira Andrea Sousa, 42, oferecia pão com mortadela, achocolatado, água, café e outros insumos na entrada do salão de beleza em que trabalha. E até tomadas para vizinhos recarregarem o celular. “Muita gente na região perdeu tudo. Você ajudar o próximo para mim é tudo. Não meço esforços.”
A auxiliar de serviços gerais Mayara Cristina, 29, foi buscar alimentos no salão. Levou a filha, Laura Beatriz, 6. Perderam tudo na enchente. “Agora é trabalhar e começar tudo de novo. E vou me mudar, não vou conseguir mais dormir aqui, pensando que pode vir outra enchente”, diz ela, vestindo uma roupa emprestada pela vizinha.
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