Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Testemunhas explicam hostilidade contra ministro do Meio Ambiente na Bahia

Manifestantes do MST e do PCO protestavam e cercaram carro em que estava Ricardo Salles

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São Paulo

A participação do ministro do Meio Ambiente em um marco de concessão do parque nacional do Pau Brasil à iniciativa privada, em Porto Seguro (BA), terminou com protesto de militantes do Movimento Sem Terra (MST) e do Partido da Causa Operária (PCO), que cercaram o carro onde estava o ministro, na saída do evento. 

O episódio aconteceu na quarta-feira (27) e levou o Ministério da Justiça a pedir à Polícia Federal uma investigação sobre suposto atentado contra o ministro do Ambiente, Ricardo Salles. Ele publicou sobre o ocorrido nas suas redes sociais dizendo que “membros do MST e do PCO agrediram pessoas e depredaram viaturas oficiais do MMA”. 

À Folha, três testemunhas contam o que viram. Uma delas é o cacique Syratã Pataxó, umas das principais lideranças indígenas da região. 

Ele conta que líderes indígenas e de movimentos sociais tentaram participar do evento para levar ao ministro suas preocupações, mas que não obtiveram retorno da assessoria do ministério e, ao chegar no parque no horário do evento, tiveram seus veículos barrados. 

Um funcionário do governo que participou da cerimônia afirma não lhe foi pedido nenhum convite ou identificação na entrada do parque, portanto ele entende que o evento era aberto ao público. 

Segundo o cacique, os militantes do MST estavam em um ônibus e um carro. “Liguei para o major França, da Caema, e ele liberou que o nosso carro, com cinco lideranças indígenas, e o carro do MST subissem, então só caminhamos no último quilômetro”, conta. “Quando fomos chegando, o ministro já saiu para não nos atender”. 

Os passageiros do ônibus teriam sido obrigados pela polícia do parque, a Caema (Companhia de Ações Especiais da Mata Atlântica), a deixar o veículo na entrada e caminhar por 6 km até o local do evento, de modo que só teriam chegado depois do encerramento. 

Outro funcionário do governo local, que também participou do evento, conta que todos se serviam em um café, montado sob uma tenda, quando seu motorista o abordou alertando que o MST estava chegando. O receio era de que os manifestantes bloqueassem a estrada, impedindo a saída do parque.

O alerta gerou movimentação às pressas e ele conta ter visto o carro do ministro saindo antes dos demais. Quando foi avisado, o evento estava encerrado há cerca de dez minutos. Por isso, o servidor entende que o ministro já estava de saída para outro compromisso —não estaria, portanto, em uma tentativa de escapar dos manifestantes.

Militantes do MST e do PCO cercaram o carro em que estava o ministro. Exibiam bandeiras e gritavam palavras de ordem —“fascistas não passarão”, “fora Bolsonaro” e “corre covarde”— como mostra o vídeo abaixo. Dois manifestantes tentaram subir no capô e na carroceria do carro. 

Apenas a guarda ambiental do parque, composta pela Caema e pela Cipa, acompanhava o episódio e focou em abrir caminho para a passagem do carro do ministro, sem investir contra os manifestantes, conforme o vídeo mostra e os relatos confirmam.

O cacique entende que a confusão não teve intenção de violência de nenhuma das partes. “Não vi ninguém atirar pedra, nem nada disso; o vidro do carro quebrou quando um deles subiu no capô, mas o que eles estavam tentando fazer era parar o carro, impedir que o ministro fosse embora.” 

Segundo nota do site Causa Operária, ligado ao PCO, “a comitiva [do ministro] jogou um dos carros contra os manifestantes que protestavam contra a privatização do Parque Nacional do Pau Brasil. Os militantes, então, tentaram conter o veículo”. 

O cacique discorda da interpretação do PCO. “Foi desespero, o carro saiu no desespero no meio do povo”. 

Syratã assistiu à cena sem participar do cerco ao veículo. De volta à reserva da Jaqueira, onde reside, gravou um recado ao ministro, enviado com exclusividade à Folha

A militância do partido, em nota, também afirma que houve armação na publicação do ministro nas redes sociais. 

“Após a confusão, os seguranças pegaram uma bandeira de um dos militantes do PCO e, quando a situação já estava totalmente normalizada, tiraram uma foto da bandeira sobre o carro. Assim, o ministro iniciou uma grande campanha de propaganda acusando o PCO e o MST de terem o atacado, quando na verdade quem atacou foi a sua comitiva”. 

Em nota, o MST afirma que o movimento “não pratica e nem incentiva a violência, ao contrário, vemos membros do governo incentivando a violência contra os movimentos populares, quilombolas e indígenas”. 

Nas redes sociais, militantes relembraram um cartaz da propaganda de Salles para deputado federal, nas últimas eleições, em que uma imagem de manifestantes com bandeira do MST é ligada por uma seta à imagem de balas de revólver, sob o título “contra a esquerda e o MST”. 

O parque nacional do Pau Brasil será administrado pela Hope Recursos Humano S/A, que já atua em dois parques no estado do Rio de Janeiro. 

O registro do evento no site do ICMBio, órgão do Ministério do Meio Ambiente responsável pela gestão das unidades de conservação no país, esclarece que o objetivo da concessão é a “melhora da qualidade dos serviços prestados aos visitantes das unidades de conservação, já que o ICMBio não tem como finalidade gerenciar serviços como hospedagem e alimentação; podendo assim focar esforços na conservação”.

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