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Após sofrerem com caça, onças-pintadas ressurgem no Parque do Iguaçu

População atingiu seu maior volume nos últimos dez anos após trabalho com comunidades ao redor

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Ribeirão Preto

Depois de quase terem desaparecido por causa principalmente da caça desenfreada, a população de onças-pintadas no Parque Nacional do Iguaçu atingiu seu maior volume nos últimos dez anos.

Um censo feito em parceria do Brasil e da Argentina desde 2009 mostra a existência estimada de 105 onças-pintadas no chamado corredor verde entre os dois países, graças a medidas de proteção adotadas.

Há dois anos eram 90, segundo Yara Barros, coordenadora-executiva do projeto Onças do Iguaçu. Do total apontado agora, 28 foram contabilizadas no lado brasileiro —o argentino tem uma área amostrada maior—, ante as 22 do censo anterior, com dados do final de 2016. O censo é feito a cada dois anos no parque que abriga as Cataratas do Iguaçu e os dois países seguem o mesmo cronograma.

O número detectado no início, em 2009, assustou: no máximo 11, devido à ação de caçadores que matavam os animais até por retaliação por terem atacado rebanhos de gado. Havia, inclusive, morte preventiva de onças para evitar que entrassem em propriedades rurais.

Mas ações contra a caça e um trabalho de engajamento com as comunidades permitiram a inversão da curva e a população de animais voltou a crescer.

“Hoje na mata atlântica há em torno de 300 onças; um terço delas está aqui e é a única que tem população comprovadamente crescendo. Se querem salvar a onça, esse é o bioma. É uma luta de todo mundo, envolve combater desmatamento e ativamente a caça”, afirmou a coordenadora.

Uma pesquisa já mostrou que matar onças-pintadas que atacam o gado no Pantanal é uma péssima ideia do ponto de vista do bolso, já que o ecoturismo de observação desses animais rendeu US$ 7 milhões em 2015 só em um pedaço do bioma e sem considerar itens como as refeições dos turistas em restaurantes da região ou seus gastos com deslocamento.

Os parques nacionais do Iguaçu (Brasil) e Iguazú (Argentina) formam a maior área protegida contínua no centro-sul do continente e abrigam ainda outras espécies vulneráveis ou ameaçadas de extinção, como o jacaré-de-papo-amarelo e o puma.

O censo, que leva de três a quatro meses para ser concluído no campo, cobre aproximadamente 6.000 km2 (quase o tamanho de Brasília), dos quais 1.850 mil são no Brasil.

O trabalho é feito com a instalação de câmeras de monitoramento —armadilhas fotográficas— em todo o parque e conta com a captura de animais, que recebem colares eletrônicos para que seu deslocamento no parque seja acompanhado.

Os sinais do colar são transmitidos por satélite e por antenas utilizadas pela equipe nas incursões na mata, cujo objetivo é entender os motivos de as onças fazerem determinado trajeto. Assim, é possível calcular o território e como o habitat é usado por elas. Onças prenhas já foram flagradas pelas câmeras.

Ações

Entre as medidas que permitiram o crescimento da população de onças no parque estão um trabalho feito com 14 municípios no seu entorno, com o objetivo de ajustar a coexistência sobre as melhores práticas de manejo, e ações de fiscalização de órgãos como polícia e ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

Também houve mudança do uso do solo, hoje com mais soja que gado no entorno, o que reduziu conflitos com pecuaristas. “O trabalho com a comunidade é superimportante. Não vamos salvar onças só ficando no parque; é preciso engajar os municípios e hoje fazemos isso ativamente com a comunidade, trabalhando segurança e conflito com técnicas, entre outras medidas.”

O estudo da população de onças é essencial, conta a coordenadora, porque o animal é o predador de topo de cadeia. Se o total de indivíduos ali cresce, a conclusão é que outras espécies também estão aumentando.

Além das onças-pintadas, o estudo mostrou também a presença mais frequente de animais como antas, cotias, catetos, queixadas —que chegaram a ser tidas como extintas na região— e veados.

“A intenção é, além de conhecermos a população de onças, saber também quais animais existem no parque e como se dá essa diversidade.”

Barros afirmou que o combate à caça é importante para a espécie, e a prática não deve ser permitida por projetos de lei que tramitam em Brasília sobre o tema. “Se isso acontecer é muito grave, não só para as onças, mas para uma série de espécies. É urgente uma campanha ativa para combater a caça, o consumo de carne de caça e a legislação que prevê liberar isso.”

Neste ano, os pesquisadores voltarão a campo para averiguar o desenvolvimento da população de onças. O trabalho deve ser divulgado no final de 2021, após a conclusão dos estudos.

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