Ambientalistas comemoram saída de Salles mas se mostram céticos em relação à nova gestão

Instituições que atuam pelo ambiente afirmam que saída de ministro coincide com aprovação de lei que reduz direitos indígenas

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São Paulo

Embora tenha sido comemorado por políticos, ativistas e artistas nas redes sociais, o pedido de demissão do Ricardo Salles do comando da pasta do Meio Ambiente está sendo visto com ceticismo pelas principais instituições que atuam no setor.

"O b de boiada não é de Ricardo Salles. É do governo Bolsonaro", diz texto publicado no site da WWF Brasil. "No mesmo dia em que cai o pior ministro do Meio Ambiente da história do Brasil, o PL 490, que fere os direitos indígenas em relação a suas terras, foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça do Congresso Nacional, provando que o correntão de retrocessos socioambientais continua destruindo a todo motor."

Ainda segundo o texto, "um grupo de mais de cem empresários de destaque dos mais variados setores da economia brasileira" enviou carta ao presidente da Câmara dos Deputados "repudiando os projetos que estão na pauta e que podem pressionar a Amazônia para além de seu ponto de não retorno".

O documento é assinado por nomes como Roberto Klabin, membro do conselho da empresa de celuose Klabin, Guilherme Leal, da Natura, Walter Schaka, da Suzano, Luiz Fernando Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Nelson Sirotsky, ex-presidente do Grupo RBS, e a economista Elena Landau.

O grupo se opõe diretamente às propostas legislativas 984/2019, 490/2017 e 2633/2020, relacionadas a mudanças na legislação ambiental, com impacto na demarcação de terras indígenas, na mineração nessas áreas e na grilagem de florestas.

O Greenpeace reforçou a tese de que a saída de Salles exige cautela. "O Brasil não podia mais ter à frente do Ministério do Meio Ambiente alguém que, de forma intencional e deliberada, agia contra a própria pasta e estava trazendo graves danos ao país. Mas mudar o ministro não garante que o governo Bolsonaro mudará seu projeto antiambiental nefasto", diz nota da organização.

"Por um lado, a sociedade civil recebe com alívio o pedido de demissão do ministro, após diversas investigações de desvio de finalidade de sua função, confirmando aquilo que vem sendo denunciado desde o início de seu mandato. Por outro, é evidente que a troca de peças por si só não deve mudar a estratégia do governo, agora com o novo ministro Joaquim Álvaro Pereira Leite, antigo membro da Sociedade Rural Brasileira, até então subordinado de Salles e aliado aos interesses do agronegócio."

O Greenpeace também citou que a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, na Câmara dos Deputados, aprovou o PL 490/2007, "que praticamente inviabiliza demarcações de Terras Indígenas e escancara os territórios para atividades econômicas predatórias".

Índios participam de protesto contra ações do governo em Brasília, nesta quarta (23) - Xinhua/Lucio Tavora

A ex-senadora Marina Silva, que foi ministra do Meio Ambiente no governo Lula, disse que Salles "Vai tarde!". Da mesma forma, ela demonstrou ceticismo. "Continuamos atentos para cobrar rigorosa punição por seus atos. A saída de Ricardo Salles é uma vitória da sociedade, mas ainda é uma vitória parcial; sabemos que ele era o operador da política nefasta e antiambiental de Bolsonaro. Seguimos na luta e resistindo", afirmou.

A coordenação do Observatório do Clima lembrou que o agora ex-ministro deixou um legado que inclui "desmatamento em alta, dois recordes sucessivos de queimadas na Amazônia, 26% do Pantanal carbonizado e omissão diante do maior derramamento de óleo da história do Brasil".

Entre as personalidades que ecoaram a comemoração contra Salles está a cantora Anitta, que publicou: "O meio ambiente agradece. Fora Salles é real".

Já entre políticos, houve a manifestação de Guilherme Boulos (PSOL). "Caiu, agora falta o Chefe", disse.

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